Ray Dalio vê bolha no mercado, mas diz que ainda não é hora de pânico
Mesmo reconhecendo sinais de bolha nas ações e no setor de IA, o fundador da Bridgewater afirma que o estouro ainda não tem um gatilho claro e que vender agora pode ser precipitado
Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associados | Dia Dipasupil — Getty Images
Analistas podem argumentar que não existe bolha sem estouro. Com os mercados se aproximando de um território de correção, alguns investidores podem estar se perguntando se chegou a hora de vender — mas o fundador do hedge fund Bridgewater, Ray Dalio, acredita que ainda não é momento para pânico.
O fundador da BridgewaterAssociates concorda com o consenso de que as ações estão, de alguma forma, em uma bolha agora, apontando vulnerabilidades na economia. Mas isso não significa que seja hora de abandonar o jogo, acrescentou.
“Não venda só porque há uma bolha”, disse Dalio em entrevista à CNBC exibida ontem. “Mas, se você olhar as correlações com o retorno dos próximos 10 anos, quando você está nesse território, tende a ter retornos muito baixos.”
Outros nomes importantes do universo de Inteligência Artificial (IA) e dos mercados acreditam que, mesmo que a indústria esteja em território de bolha, isso não significa necessariamente o fim do mundo. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, por exemplo, comparou o entusiasmo atual com IA aos primeiros anos da internet, dizendo que aquilo foi “no geral, um bom negócio”, já que Google, YouTube e Meta surgiram depois e se mostraram duráveis.
Falando no Fortune Most Powerful Women Summit, em outubro, ele disse estar um pouco cauteloso com as condições do mercado atual, mas ressaltou que não se deve rotular toda a área de IA como pura especulação. “Você não pode olhar para IA como se fosse uma bolha, embora algumas dessas coisas possam estar, sim, numa bolha. No geral, é algo que provavelmente vai compensar.”
De fato, até o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, tem uma visão realista sobre o excesso de especulação, afirmando recentemente que, embora este seja um “momento extraordinário”, há uma certa dose de “irracionalidade” no boom da IA. Se uma bolha desse tipo estourasse, disse ele à BBC: “Acho que nenhuma empresa estaria imune, incluindo a nossa.”
Aos 76 anos, Dalio, cuja fortuna é estimada em US$ 15,4 bilhões pela Forbes, acredita que a bolha pode estourar, mas precisará de um estímulo para isso. “Acho que é preciso reconhecer que é insustentável”, disse. “Depois, é preciso olhar para o timing: o que exatamente vai estourar essa bolha?” A boa notícia, segundo ele, é que normalmente isso acontece com uma política monetária mais dura, mas “não é o caso agora”.
O que pode provocar o início desse estouro, diz Dalio, é quando as pessoas que acumularam riqueza durante a bolha decidirem que querem transformar isso em dinheiro vivo. “A necessidade de caixa é sempre o que estoura a bolha, porque… você não consegue gastar riqueza; você precisa vender riqueza para comprar o que precisa ou pagar suas contas”, afirmou. “Acho que o quadro é bem claro de que estamos nesse território de bolha… mas ainda não temos o gatilho do estouro.”
Atenção aos riscos
Rumo a 2026, o diretor de investimentos do UBS, Mark Haefele, alertou os investidores que, embora a perspectiva para ações siga positiva, é preciso cuidado para não exagerar na exposição aos riscos que cercam a IA.
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Como escreveu em sua carta mensal a clientes, divulgada ontem, no médio prazo a IA tem potencial para entregar ganhos de produtividade capazes de impulsionar as economias a uma nova era de crescimento. No entanto, “muita coisa vai depender da disposição dos investidores em continuar financiando isso, da capacidade das empresas de tecnologia de monetizar essas inovações e da infraestrutura energética necessária para sustentá-las”.
Ele alertou: “Um forte ciclo de investimentos e adoção deve alimentar novos ganhos em 2026, mas os investidores devem ficar atentos aos riscos de bolha.”