Nubank renova recordes em NYSE enquanto Itaú amplia aposta na fintech
Ação do NU sobe após máxima histórica e ganha reforço do Itaú, que elevou sua posição para US$ 106 milhões; resultado trimestral mostra lucro recorde, expansão internacional e inadimplência sob controle
Ação da NU sobe após máxima histórica e ganha reforço do Itaú, que elevou sua posição para US$ 106 milhões (Foto: Adobe Stock)
O forte desempenho do Nubankna Bolsa de Nova York ganhou novo combustível nesta quarta-feira (26), já que as ações da empresa (NU) avançavam 2,77%, cotadas a US$ 17,07 cada uma, às 10h47 (de Brasília). O salto ocorre um dia depois de o papel registrar sua máxima histórica no fechamento, de US$ 16,61, segundo o levantamento de Einar Riveiro, consultou de dados e CEO da Elos Ayta Consultoria. A euforia em torno da fintech não é um fenômeno isolado do mercado: um dos maiores bancos do País, o Itaú Unibanco, reforçou sua aposta na concorrente digital.
Gráfico elaborado pelo Einar Riveiro, consultor de dados financeiros de mercado e CEO da Elos Ayta Consultoria, mostra o histórico das ações da holding.
Dados enviados pelo próprio Itaú à Securities and Exchange Commission (SEC), reguladora do mercado de capitais dos Estados Unidos, mostram que o banco comprou mais 3,8 milhões de ações do Nubank no terceiro trimestre – um investimento de cerca de US$ 60 milhões. Com isso, o Itaú passou a deter 6,7 milhões de ações da fintech, o equivalente a US$ 106 milhões. A instituição não comentou a movimentação, mas, segundo documentos regulatórios, o Nubank já representa 3,6% do portfólio do Itaú, sendo sua sexta maior posição.
O aumento da exposição chama atenção porque ocorre em uma carteira que também inclui gigantes como Nvidia, Amazon, Tesla e Coca-Cola, além do próprio Bradesco, concorrente direto no varejo financeiro. E o Itaú não está sozinho: entre os investidores institucionais com posição no Nubank estão BlackRock, Bank of America, Goldman Sachs, Citigroupe o japonês SoftBank.
O interesse crescente vem na esteira de uma operação que continua a escalar. O Nubank já reúne 110 milhões de clientes apenas no Brasil – são 127 milhões ao somar México e Colômbia – e pediu licença para operar nos Estados Unidos. A expansão geográfica vem acompanhada da maturação dos negócios, especialmente no México, destaque no balanço trimestral que surpreendeu o mercado.
Resultados do roxinho no 3T25
No terceiro trimestre de 2025, o banco digital reportou lucro líquido de US$ 783 milhões (US$ 829 milhões no número ajustado), alta de 39% em relação ao mesmo período de 2024, descontado o câmbio. A receita chegou a US$ 4,2 bilhões, também 39% maior. O retorno sobre patrimônio (ROE) ficou em 31%, nível superior ao observado em grandes bancos brasileiros: Banco do Brasil (8,4%), Bradesco (14,7%), Santander (17,5%) e o próprio Itaú (23,3%).
As adições à base de clientes seguem robustas: foram 4,3 milhões de novos usuários entre julho e setembro. A operação mexicana, que já soma 13,1 milhões de clientes, foi apontada pelos analistas como um dos motores do trimestre.
Apesar do crescimento acelerado da carteira de crédito, que superou os US$ 30 bilhões, alta anual de 42% e trimestral de quase 10%, a inadimplência se manteve sob controle. Os atrasos de 15 a 90 dias caíram para 4,2%, enquanto a inadimplência acima de 90 dias subiu levemente de 6,6% para 6,8%.
Segundo o CFO do Nubank, Guilherme Lago, esses números vieram “dentro do esperado”, considerando a sazonalidade. Ele afirma que a carteira segue saudável também no início do quarto trimestre: “Tivemos um período atipicamente forte de crescimento na carteira e continuamos crescendo em um ritmo que entendemos ser saudável”, disse.
Essa expansão se refletiu na receita financeira líquida de juros (NII), que subiu 32% e alcançou o recorde de US$ 2,3 bilhões. O NIM (margem financeira) caiu 40 pontos-base, para 17,3%, em razão do maior peso de linhas mais seguras, como o crédito consignado – que tem margens menores. O NIM ajustado ao risco, por outro lado, subiu 70 pontos, para 9,9%.
O que dizem os analistas sobre a fintech?
A leitura dos analistas sobre o trimestre foi amplamente positiva. Para o Goldman Sachs, o Nubank entregou um resultado “forte”, com receitas e linhas de crédito acima das expectativas: o lucro ficou 5% acima do previsto pelo banco. Os analistas Tito Labarta, Tiago Binsfeld e Juliana Ohara destacaram o crescimento da carteira, os avanços na qualidade dos ativos e a rentabilidade destacada em relação aos pares.
As provisões para perdas (PDD) subiram 26% na comparação anual, para US$ 977,4 milhões, mas ficaram 9% abaixo do esperado pela Ativa Investimentos. Para a casa, o banco entregou “mais um trimestre impecável e superior ao 2T25”, sinalizando melhora recorrente dos fundamentos. O analista Ilan Arbetman considera que “a forte expansão dos ativos geradores de juros, a queda das provisões e o avanço da margem ajustada seguem validando os modelos de crédito da instituição”.
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A XP Investimentos, embora tenha observado que o NII (Net investment income, rendimento recebido por meio de investimentos) ficou 2% abaixo do esperado, atribuiu o desempenho à maior presença de linhas colateralizadas e à estratégia de reforçar produtos como as “caixinhas”, que aumentam a relação do cliente com o banco. O ponto-chave, segundo os analistas Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, foi a melhora expressiva do custo de crédito, 10% menor que o previsto.
Um fator decisivo para essa performance, apontado pela própria gestão, é o uso de inteligência artificial. Lago afirmou que a IA tem permitido “maior precisão nos modelos de previsão de crédito”, contribuindo diretamente para a saúde da carteira. O CEO, David Vélez, disse que os modelos iniciais de IA permitiram revisar e ampliar limites de cartão no Brasil “mantendo o mesmo apetite de risco”. Segundo ele, a tecnologia diferencia o Nubank dos bancos tradicionais e será expandida para outros países.
O Citi reforça essa visão, afirmando que a IA ajudou a reduzir custos e a fortalecer a estratégia comercial, que segue particularmente forte no México. Para os analistas, a operação mexicana deve alcançar o break-even em 2026.