Belo estreia no Brasil para integrar pagamentos entre Brasil e Argentina com câmbio instantâneo e taxas menores (Foto: Adobe Stock)
A Belo, uma das carteiras digitais mais populares da Argentina, inicia sua operação no Brasil com a ambição de resolver um problema que afeta diretamente milhões de pessoas: a fricção técnica, burocrática e financeira dos pagamentos internacionais na América Latina. A solução unifica Pix, QR Code argentino e câmbio instantâneo via stablecoins(um ativo digital atrelado a alguma moeda fiduciária, como o dólar).
Segundo o CEO Manuel Beaudroit, o desafio foi conectar essas bases e criar uma camada própria, capaz de fazer as conversões entre pesos, reais e dólar digital de modo invisível para o cliente. Com a operação iniciando no país e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) zero nas transações internacionais feitas pelo aplicativo, a Belo se posiciona como uma das mais agressivas apostas recentes do ecossistema latino-americano de fintechs.
A promessa é simples na aparência, complexa nos bastidores: transformar a fronteira Brasil e Argentina em apenas mais um detalhe e não mais um obstáculo na vida financeira cotidiana.
Para viabilizar conversões instantâneas e taxas mais competitivas, a empresa opera com stablecoinsde baixo risco, como o USDC, conectadas a instrumentos financeiros locais. Isso permite oferecer rendimento sobre saldos multimoeda sem expor o usuário a volatilidades típicas – especialmente as do peso argentino.
“No dólar digital, por exemplo, o rendimento fica perto de 3% ao ano. No peso argentino, em torno de 28%, que é exatamente a taxa de mercado dos títulos soberanos. A gente não promete nada que não existe. Só dá acesso ao que já está disponível, mas que normalmente é difícil para o usuário comum acessar”, afirmou.
Esse desenho faz parte do que o CEO considera o grande diferencial da empresa: o foco no corredor Brasil e Argentina. “É um fluxo gigante de viagens, compras e pagamentos entre pessoas e empresas, mas que nenhum outro player resolveu de forma integrada. O que existe hoje são soluções fragmentadas, ou funcionam bem só no Brasil ou só na Argentina, ou encarecem quando você cruza a fronteira”.
Vale mesmo a pena?
A combinação de spreads (diferença entre o preço de compra e venda de moeda estrangeira) menores, processos digitais e maior previsibilidade de custos coloca serviços como o da Belo em destaque, sobretudo em momentos de volatilidade cambial ou quando a operação precisa ocorrer fora do horário bancário.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a principal vantagem percebida pelo usuário está nos preços mais competitivos.
“O uso dos aplicativos tende a ser positivo pelo fato de oferecer spreads e tarifas mais baixos do que os cartões de crédito ou as casas de câmbio tradicionais”, afirma. Essa diferença pode parecer pequena à primeira vista, mas se torna significativa quando acumulada ao longo de viagens, compras internacionais ou pagamentos recorrentes.
Publicidade
Além das tarifas, um ponto frequentemente subestimado é a previsibilidade. Quartaroli explica que, em cenários de volatilidade, aplicativos que travam a cotação no momento da operação ajudam a evitar sustos. Ela observa que, ao fixar o valor no instante da conversão, o consumidor se protege de oscilações posteriores, um benefício especialmente relevante em mercados mais instáveis.
“A conversão acaba ficando travada no valor em que a operação foi feita. Isso evita a surpresa futura”, reforça.
Esse tipo de solução também tende a oferecer condições melhores quando a transação precisa ocorrer fora do horário bancário, como fins de semana ou feriados. Em sistemas tradicionais, cotações nesses períodos costumam ser piores ou incluir tarifas adicionais. Nos aplicativos, porém, a lógica é diferente: como a infraestrutura funciona 24 horas, os custos tendem a ser mais estáveis e previsíveis.