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Colunista

Sucessão no Fed: impacto dos principais candidatos em inflação, estabilidade institucional e mercados

A sucessão no comando do Federal Reserve pode redefinir a política monetária dos EUA e influenciar mercados globais

Por Thiago de Aragão

03/12/2025 | 14:07 Atualização: 03/12/2025 | 14:07

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Mercado avalia como a escolha de Donald Trump para sucessão do Fed pode impactar juros e a estabilidade financeira global (Foto: Adobe Stock)
Mercado avalia como a escolha de Donald Trump para sucessão do Fed pode impactar juros e a estabilidade financeira global (Foto: Adobe Stock)

A iminente sucessão na presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) representa um momento crítico, com implicações que transcendem a política monetária dos Estados Unidos e reverberam pelo ambiente macroeconômico global.

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O presidente Donald Trump, após desentendimentos públicos com o atual chair Jerome Powell, terá a oportunidade de moldar o banco central à sua maneira. Tradicionalmente, anúncios de substitutos do Fed ocorrem apenas perto do fim do mandato vigente, mas Trump indicou já ter escolhido um nome e considera revelá-lo antecipadamente. Essa decisão precoce, possivelmente a mais antecipada da história para o cargo, sinaliza a urgência com que o governo deseja influenciar os rumos do Fed.

O contexto político-econômico atual adiciona tensão: a administração Trump pressiona abertamente por juros mais baixos, mesmo após uma série de cortes recentes pelo próprio Fed. Assim, investidores e governos ao redor do mundo acompanham atentamente, cientes de que pequenas palavras do futuro presidente do Fed podem movimentar mercados e redistribuir bilhões de dólares.

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Mais do que uma reação imediata de mercado, a escolha de Trump enviará um sinal sobre o equilíbrio entre autonomia institucional e interferência política no coração da política monetária global. A seguir, analisamos os principais nomes cotados para liderar o Fed, cada qual com perfil e visão distintos, e quais seriam os prováveis impactos de sua nomeação sobre a inflação, a independência do banco central e a estabilidade financeira.

Vale notar que, segundo mercados de apostas, Kevin Hassett desponta hoje como o favorito para a nomeação, seguido de perto por Christopher Waller. Entretanto, todos os cinco finalistas oficialmente entrevistados pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, merecem escrutínio quanto às consequências de suas possíveis gestões.

Kevin Hassett: lealdade política com pragmatismo técnico moderado

Kevin Hassett, atual diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca e ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump, é visto como o candidato mais alinhado pessoalmente ao presidente.

Sua indicação colocaria um aliado de Trump no comando da política monetária americana, o que agradaria à Casa Branca ao abrir caminho para os juros “muito mais baixos” que o próprio Trump vem exigindo.

Hassett defende publicamente que as taxas de juros deveriam estar menores do que estão sob Powell, ecoando o desejo do presidente por crédito mais barato. Essa sintonia política sugere que, sob sua liderança, o Fed tenderia a cortes mais agressivos nos juros, desde que os dados econômicos ofereçam margem para tal alívio.

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De fato, o simples rumor de sua possível nomeação já baixou os rendimentos dos títulos do Tesouro, refletindo expectativas de política monetária mais frouxa adiante. Em outras palavras, o mercado aposta que um Fed presidido por Hassett seria mais dovish (propenso a estímulos) no curto prazo, favorecendo financiamentos mais baratos para consumo e investimento.

No entanto, a proximidade de Hassett com Trump tem um duplo efeito. Por um lado, ele combinaria traquejo político com conhecimento técnico, ganhando crédito por respeitar o funcionamento interno do Fed, apesar da pressão do governo.

Por outro, essa lealdade levanta questões sobre a independência da instituição. Investidores podem duvidar da disposição de um Fed liderado por Hassett de subir os juros “na hora certa” para conter a inflação, temendo que ele hesite em desagradar o presidente. Essa percepção pode corroer a credibilidade anti-inflacionária do banco central: se o mercado enxergar o Fed como submisso aos interesses políticos de curto prazo, os juros de longo prazo podem incorporar um prêmio de risco maior, refletindo expectativas de inflação menos ancoradas.

Mesmo assim, no cenário de Hassett presidente, espera-se que a autonomia operacional do Fed seja preservada nos aspectos técnicos, com o sistema absorvendo o “ruído” político, mantendo a instituição funcional.

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Globalmente, tal combinação de acomodação moderada e continuidade institucional significaria um dólar forte porém previsível, com as economias emergentes relativamente protegidas de choques externos severos.

Em suma, Hassett representaria um caminho de menor ruptura: embora sob vigilância política redobrada, o Fed manteria boa parte de sua credibilidade e seu compromisso histórico com a estabilidade de preços, evitando cenários extremos.

Christopher Waller: experiência dentro do Fed e foco na estabilidade

Christopher Waller, atualmente membro do Board of Governors (Conselho do Fed) desde 2020, reúne o perfil de veterano acadêmico e insider da instituição. Ex-diretor de pesquisa no Fed de St. Louis, ele entende profundamente as engrenagens do banco central. Essa bagagem técnica o credencia como alguém que “sabe o que faz” e tem mérito e experiência, atributos que o próprio Waller destacou ao confirmar que teve uma ótima conversa com Bessent durante o processo seletivo.

Apesar de ser um nome de confiança dentro do Fed, Waller também mostrou sintonia com algumas prioridades de Trump. Nos últimos meses, defendeu abertamente cortes nos juros, argumentando que o risco de esfriamento do mercado de trabalho superava o perigo de alta inflacionária.

Ele e a governadora Michelle Bowman foram vozes dissidentes em julho ao votarem por um corte de juros quando o Fed decidiu mantê-los estáveis. Ou seja, Waller tem se posicionado de forma pragmática e relativamente dovish diante de indicadores recentes, o que vai ao encontro da pressão do governo por afrouxamento monetário.

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Paralelamente, Waller tem enfatizado a importância de manter a independência do Fed, assegurando que suas interações com o Executivo têm sido “nunca políticas, apenas econômicas”. Esse balanço sugere que ele tentaria conciliar metas de emprego e inflação sem ceder totalmente aos caprichos políticos, buscando justificar tecnicamente cada movimento de juros.

Uma eventual nomeação de Waller provavelmente seria bem recebida por muitos participantes de mercado e pelo quadro interno do Fed. Por conhecer os corredores da instituição, ele seria capaz de implementar ajustes na política monetária ou regulatória de forma ordenada, evitando sobressaltos.

Sua disposição de abrir o Fed a inovações – ele já se mostrou entusiasta de integrar empresas de finanças descentralizadas (DeFi) ao sistema de pagamentos do banco central – agrada a uma ala da coalizão de Trump que defende modernização e competição tecnológica.

Do ponto de vista da estabilidade institucional, Waller representa continuidade com familiaridade: um presidente que não precisaria aprender no cargo e que tende a respeitar os pareceres técnicos do corpo do Fed. Isso manteria elevada a confiança de que o controle inflacionário não será negligenciado. Contudo, pelo mesmo motivo, alguns trumpistas o veem como “insider demais”, isto é, alguém possivelmente pouco propenso a promover mudanças radicais que a administração gostaria de ver no Fed.

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Ainda assim, com Waller no comando, o cenário seria de mudanças graduais e calibradas. Os juros poderiam cair um pouco mais rápido no curto prazo (acomodando a Casa Branca), mas sem perder de vista sinais de inflação futura. A comunicação do Fed seria cuidadosa e a instituição manteria boa parte de sua musculatura decisória.

Em consequência, espera-se volatilidade contida nos mercados: os investidores se sentiriam relativamente seguros de que a política monetária seguiria baseada em dados, com um guardião experiente no leme.

Para economias emergentes, Waller à frente do Fed significaria importação apenas moderada de volatilidade, alguma oscilação conforme os EUA afrouxem os juros, mas sem surpresas desestabilizadoras.

Kevin Warsh: credibilidade anti-inflação e alinhamento conservador

Kevin Warsh surge como um candidato de perfil clássico e ortodoxo, quase antagônico à imagem de um “lealista” de Trump. Ex-integrante do Board do Fed (2006-2011) e veterano de Wall Street, foi executivo no Morgan Stanley no início da carreira, traz sólidas credenciais econômicas e trânsito no establishment conservador.

Seu nome já havia sido cotado em 2017 para presidir o Fed (quando Trump acabou optando por Powell) e novamente foi considerado para Secretário do Tesouro no atual governo antes de Bessent ser escolhido. Warsh é reconhecido como um “falcão” de política monetária: crítico dos excessos do Fed na última década, ele discordou dos programas massivos de quantitative easing pós-2008 e das intervenções expansivas durante a pandemia.

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Sua visão converge com a de Bessent ao julgar que o Fed se tornou grande e complexo demais, atuando além do necessário. Não surpreende, portanto, que Warsh enfatize a necessidade de manter a inflação sob controle e de normalizar a atuação do banco central, mesmo que isso implique juros estruturalmente mais altos ou redução de balanço. Esse rigor anti-inflacionário, porém, contrasta com o apetite de Trump por dinheiro barato: “Warsh tradicionalmente defende foco total em conter a inflação – difícil conciliar isso com o antigo desejo de Trump por juros baixos”.

Caso Warsh seja o escolhido, isso pode sinalizar que Trump valoriza, neste momento, recuperar a confiança dos mercados na disciplina monetária, possivelmente para combater expectativas inflacionárias que possam ter subido.

A nomeação de Warsh seria interpretada como um fortalecimento da autonomia do Fed. De todos os finalistas, ele talvez seja o menos suscetível a pressões políticas de curto prazo, dado seu histórico de opiniões contrárias à flexibilização excessiva. Isso poderia acalmar os mercados de títulos, que veriam nele um guardião firme contra a inflação.

Os juros de longo prazo poderiam até recuar inicialmente, refletindo menor prêmio de inflação, já que investidores confiariam que Warsh elevaria os juros agressivamente se os preços voltassem a subir. Por outro lado, há riscos de tensões entre Warsh e o governo. Trump, ao nomeá-lo, teria de aceitar que não terá um “cortejador de juros” dócil no Fed. Se a economia enfraquecer e a Casa Branca clamar por estímulos, um chairman Warsh poderia resistir, reeditando o confronto Executivo–Fed visto nos tempos de Powell. Essa dinâmica pode gerar incerteza política, algo que os mercados não apreciam.

Ainda assim, Warsh certamente ajustaria a política monetária se os dados justificarem, ele não é inflexível a ponto de ignorar recessão iminente, por exemplo, mas exigiria evidências claras. Em termos de regulação e estrutura, Warsh provavelmente apoiaria a agenda de “simplificar o Fed” promovida por Bessent, reduzindo o escopo de ações extraordinárias e talvez afrouxando certas regras para o setor bancário, sob a bandeira de eficiência.

Internacionalmente, a escolha de Warsh seria vista como um sinal de robustez institucional: os EUA privilegiando um nome técnico e independente. Economias emergentes, por sua vez, poderiam sofrer com um dólar mais volátil, ora fortalecendo-se com a credibilidade anti-inflação, ora enfraquecendo se Warsh for mais duro do que o mercado gostaria em meio a uma desaceleração.

A volatilidade global tenderia a aumentar caso ocorresse um choque de expectativas entre o que Trump quer e o que Warsh entrega, mas no longo prazo a estabilidade de preços seria melhor ancorada.

Rick Rieder: olhar de mercado e perspectiva externa

Rick Rieder representa a aposta em um perfil outsider para liderar o Fed. Diretor de investimentos de renda fixa da BlackRock, Rieder construiu carreira gerindo portfólios gigantes e se tornou voz frequente na mídia financeira sobre política monetária.

Sua experiência difere daquela dos tecnocratas tradicionais do Fed: embora acostumado a grandes organizações (BlackRock é uma das maiores gestoras do mundo), ele nunca trabalhou dentro do banco central ou no setor público em Washington. Isso significa que Rieder traria “olhos novos” à instituição, possivelmente questionando velhos procedimentos e oferecendo uma mentalidade de mercado para as decisões do Fed.

Para Trump, que valoriza pessoas bem-sucedidas dos mercados, Rieder tem apelo tanto por seu currículo no setor privado quanto por suas visões recentes. Ele vem argumentando que cortes adicionais nos juros teriam efeito líquido positivo, sobretudo com a inflação já moderada: “taxas menores terão impacto muito mais positivo no sistema do que quaisquer efeitos adversos” escreveu após a divulgação dos dados de inflação de setembro.

Em outras palavras, ele tende a ver espaço para estímulo monetário sem comprometer a estabilidade, alinhando-se ao viés pró-crescimento de Trump. Ao mesmo tempo, por não ter ligação pessoal ou política prévia com o presidente, Rieder não seria encarado imediatamente como um “lealista”, o que pode facilitar sua aceitação por diferentes alas.

A indicação de Rieder, no entanto, viria com dose de incerteza. Como o mercado reagiria a um líder do Fed sem trajetória dentro do próprio Fed? Inicialmente, a reação poderia ser de curiosidade cautelosa. Por um lado, muitos investidores se sentiriam confortáveis pelo fato de “um dos nossos” estar no comando, alguém que entende as necessidades e humores dos mercados financeiros profundamente. Sua capacidade de comunicação, já treinada pelas frequentes aparições públicas, poderia ajudar a orientar as expectativas do mercado de forma eficaz.

A curto prazo, espera-se que um Fed de Rick Rieder promovesse um ambiente amigável a investimentos, com juros menores e talvez abordagens criativas para apoiar a liquidez (lembrando que ele participou, via BlackRock, de programas emergenciais de compra de ativos na pandemia). Isso beneficiaria bolsas de valores e reduziria custos de crédito globalmente, ao menos enquanto a inflação permanecesse sob controle.

Por outro lado, sem um histórico comprovado de tomada de decisões de política monetária, a credibilidade de Rieder seria testada assim que surgisse o primeiro dilema sério, por exemplo, se a inflação voltasse a subir inesperadamente. Haveria dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar pressões políticas em prol da ortodoxia, já que ele nunca esteve em posição de ter de desagradar políticos antes.

Além disso, sua falta de familiaridade com a máquina interna do Fed pode tornar a curva de aprendizado íngreme: gerir o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) e todo o aparato regulatório é muito diferente de gerir um fundo. No entanto, ele poderia contornar isso cercando-se de adjuntos experientes.

Em termos institucionais, Rieder seria uma escolha simbólica de que o Fed valoriza a prática de mercado tanto quanto a teoria econômica. No exterior, tal opção seria lida como um movimento dos EUA priorizando eficiência pragmática. Economias emergentes provavelmente apreciariam a continuidade de juros mais baixos e liquidez abundante num primeiro momento, mas ficariam alertas para mudanças bruscas caso a inexperiência de Rieder resultasse em sinais confusos ou atrasos na resposta a choques inflacionários.

Resumindo, Rieder incorporaria um misto de otimismo e imprevisibilidade: potencial para políticas inovadoras pró-crescimento, porém cercado de perguntas sobre sua resistência a pressões e comprometimento inabalável com a estabilidade de preços de longo prazo.

Michelle Bowman: independência dissidente e enfoque comunitário

Michelle “Miki” Bowman desponta como a opção que combina experiência interna no Fed com uma perspectiva fora do circuito tradicional de Wall Street e academia. Oriunda do setor de bancos comunitários no Kansas, ela foi nomeada governadora do Fed por Trump em 2018 para representar os interesses de bancos regionais menores, e mais recentemente ascendeu à vice-presidência de Supervisão (encarregada de regulação bancária).

Bowman construiu reputação de voz independente dentro do Board: em setembro de 2024, foi a primeira governadora em 20 anos a dissentir numa decisão de política monetária, quebrando um tabu de concordância automática. Naquela ocasião, ela votou contra um corte de juros considerado excessivo às vésperas da eleição presidencial, sinalizando preocupação com potenciais desequilíbrios ou com a imagem de politização do Fed.

Ironicamente, alguns meses depois, em 2025, uniu-se a Waller no lado dovish, defendendo reduções de juros quando a maioria do FOMC hesitava. Esses episódios revelam uma mente independente, não alinhada cegamente a nenhuma doutrina fixa, parecendo avaliar caso a caso, mesmo que isso implique confrontar colegas ou expectativas. Essa propensão a “dar cotoveladas” no consenso pode agradar Trump, que busca alguém disposto a romper com a sabedoria convencional e promover reformas institucionais de maior impacto.

Bowman, por exemplo, criticou várias regulações impostas na era Biden e defende uma revisão regulatória que alivie encargos para os bancos menores, o que está em sintonia com a agenda pró-desenvolvimento local e desburocratização.

Se Michelle Bowman for escolhida, o mercado enxergará uma presidência do Fed fora do padrão tradicional, o que traz vantagens e riscos. Por um lado, sua histórica disposição de voto dissidente demonstra um compromisso com a integridade da análise própria, ou seja, ela não hesitaria em elevar juros se julgar necessário, mesmo sob pressão política. Isso pode sustentar a credibilidade anti-inflação do Fed, já que Bowman não se enquadra simplesmente como “capacho” do governo.

Por outro lado, sua menor exposição aos mercados globais e ao mainstream acadêmico significa que investidores teriam mais dificuldade em antecipar suas reações. Haveria um período de ajuste em que o mercado testaria Bowman: qual seria sua prioridade diante de um choque, emprego ou preços? Quão agressivamente ela usaria ferramentas não convencionais se uma crise estourasse? Ainda que imprevisível em estilo, Bowman provavelmente daria continuidade ao ciclo de cortes moderados iniciado pelo Fed recentemente, pois ela mesma avaliou que os riscos de inflação estavam contidos em 2025.

Contudo, é de se esperar que ela condicione fortemente cada passo ao comportamento efetivo da economia, comunicando limites além dos quais não iria. Institucionalmente, sua nomeação marcaria um reforço da diversidade de pensamento no comando do Fed.

Diferentemente de um perfil exclusivamente técnico ou de mercado, Bowman traz a voz dos pequenos bancos e das comunidades locais para o centro das decisões. Isso poderia resultar em uma abordagem mais cautelosa com os efeitos colaterais das políticas do Fed (por exemplo, atenção a como juros muito baixos por muito tempo afetam a saúde de bancos menores).

Internacionalmente, um Fed liderado por Bowman seria interpretado como um “desvio de rota” em relação à linha historicamente seguida pelos EUA, não no sentido de abandonar a responsabilidade com a inflação, mas no estilo e prioridades. Parceiros estrangeiros e mercados podem levar um tempo para se ajustar à sua forma de comunicação e análise.

Para os emergentes, o efeito seria semelhante ao de Waller: volatilidade moderada importada, dependendo mais dos fundamentos econômicos do que de surpresas de política, já que Bowman tenderia a explicar suas discordâncias e decisões de forma transparente, evitando bruscas quebras de expectativa.

Em resumo, Bowman encarnaria uma liderança com viés reformista dentro da continuidade: preservaria a autonomia de julgamento do Fed, ao mesmo tempo em que chacoalha algumas convenções internas em prol de uma instituição mais enxuta e sensível às bases econômicas locais.

Outros nomes em especulação

Além dos cinco candidatos principais entrevistados por Scott Bessent, alguns outros nomes circularam nos bastidores, embora com chances bem menores de nomeação. O próprio Scott Bessent, atual secretário do Tesouro, chegou a ser mencionado como favorito pessoal de Trump para o cargo, contudo, Trump esclareceu publicamente que Bessent “não quer o posto”.

Em vez disso, Bessent permanece como arquiteto da sucessão, conduzindo o processo seletivo e delineando critérios: ele afirmou buscar alguém “olhando para frente, não para trás” em matéria regulatória, indicando preferência por candidatos dispostos a simplificar normas e modernizar o Fed.

De fato, uma das preocupações de Bessent é que o banco central se tornou complexo demais na gestão dos mercados monetários, e ele tem questionado os candidatos sobre como simplificar a atuação do Fed. Isso sugere que, independentemente de quem seja escolhido, haverá pressão para que o novo presidente reavalie ferramentas como operações compromissadas, balanço patrimonial e arcabouço regulatório herdado.

Outros nomes ventilados incluem Stephen Miran e James Bullard. Miran, economista de viés conservador, foi nomeado por Trump para o Board do Fed em setembro de 2025 e ganhou notoriedade por críticas às políticas expansionistas anteriores. Já James Bullard, ex-presidente do Fed de St. Louis, participou de reuniões de formulação de políticas durante a pandemia e tem perfil acadêmico-pragmático.

Ambos, contudo, aparecem apenas como azarões: mercados atribuíram menos de 5% de probabilidade a cada um deles de levar a cadeira principal. Essas especulações refletem mais a busca de cobertura para cenários remotos do que uma indicação de que Trump realmente os escolheria.

Ainda assim, sua presença no radar evidencia o clima de ruptura em comparação com a última sucessão do Fed, pois consideram-se nomes fora do espectro típico, reforçando a mensagem de que desta vez nada é convencional.

O nome que Donald Trump anunciar para comandar o Federal Reserve não determinará apenas a trajetória dos juros americanos nos próximos anos, ele enviará um sinal poderoso sobre o equilíbrio entre autonomia institucional e ambição política no coração das finanças globais.

Cada um dos candidatos analisados acima carrega implicações distintas: desde a manutenção de um Fed relativamente independente e previsível sob alguém como Waller ou Warsh, até a possibilidade de um Fed mais suscetível às preferências do Executivo sob Hassett ou outro nome altamente alinhado a Trump. No espectro intermediário, opções como Rieder e Bowman combinam credenciais com peculiaridades que tanto podem reforçar a credibilidade do Fed quanto introduzir novas fontes de imprevisibilidade.

Em qualquer dos casos, o impacto transcenderá o imediato “subir ou descer de juros” que costuma dominar as manchetes. Está em jogo a credibilidade de longo prazo da autoridade monetária mais influente do mundo, algo construído por décadas de compromisso com metas de inflação e comunicação transparente.

Um presidente do Fed visto como títere político poderia abalar essa credibilidade, elevando prêmios de risco e exportando incerteza aos quatro cantos do globo. Por outro lado, um presidente que equilibre independência e cooperação responsável com o governo poderia turbinar a confiança dos agentes econômicos, facilitando a convergência suave da inflação sem solavancos nos mercados.

Assim, mais importante que o nome em si será a mensagem simbólica transmitida pela escolha: se prevalecerá a tradição de autonomia técnica ou se inaugurarão tempos de subordinação política do banco central.

A próxima liderança do Federal Reserve tende a se converter no epicentro dessa disputa de narrativas, e dessa tensão derivarão consequências para os próximos anos do sistema financeiro global. Como bem resume a conjuntura, a sucessão do Fed não é apenas sobre quem define os juros, mas sobre como e por quem os destinos da maior economia do mundo serão guiados.

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