No começo da sessão, o cenário para o fim do ano seguia construtivo no mercado, com a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos e a possibilidade de redução da Selic em 2026. Até que uma notícia política abalou o humor dos investidores: o senador Flávio Bolsonaro (PL) avisou ao Partido Liberal que sua pré-candidatura à Presidência da República foi ratificada por Jair Bolsonaro.
A informação foi antecipada pelo site Metrópoles. Posteriormente, o Estadão confirmou que o senador comunicou nesta sexta-feira ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a escolha do pai.
Para analistas do mercado, a leitura dominante é de que esse anúncio esvazia a expectativa, antes presente entre investidores, de que Tarcísio pudesse se consolidar como uma alternativa competitiva ao governo nas eleições de 2026.
“Em um ambiente que já convive com incertezas internas, acredito que o episódio adiciona mais uma camada de risco. Por isso, o mercado não apenas desaprovou a notícia, como a tratou como um sinal de fragilidade institucional antecipada e o resultado foi um movimento intenso de venda em praticamente todos os ativos brasileiros”, afirma Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.
Segundo ele, a reação foi forte o suficiente para mostrar que o mercado está “extremamente sensível” a qualquer sinal de deterioração institucional futura. Ainda assim, a Super Quarta na próxima semana, com as decisões do Federal Reserve (Fed) e do Comitê de Política Monetária (Copom), permanece como um divisor de águas importante.
“Se o Fed confirmar o corte e sinalizar continuidade em 2026, e se o BC brasileiro mantiver o discurso de que a Selic pode cair já no início do próximo ano, o mercado pode reencontrar algum apoio”, avalia Iarussi.
Entre as maiores empresas do Ibovespa, o destaque negativo ficou com o Itaú (ITUB4), que perdeu R$ 19,1 bilhões em valor de mercado, ao recuar 4,62%. O banco foi seguido de perto pela Petrobras (PETR3;PETR4), que se desvalorizou R$ 17,7 bilhões, com os papéis ordinárias (PETR3) registrando baixa de 4,48% e os preferenciais (PETR4) cedendo 3,54%.
Além dos dois maiores players, o setor bancário sofreu com o cenário do dia. Bradesco (BBDC3;BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e BTG Pactual (BPAC11) sofreram perdas de R$ 11 bilhões, R$ 9,2 bilhões e R$ 7,2 bilhões em valor de mercado, respectivamente.
Somando o impacto consolidado de todas as empresas listadas na B3, o valor total de mercado da Bolsa brasileira recuou de R$ 4,93 trilhões para R$ 4,74 trilhões, representando uma redução de R$ 182,7 bilhões em apenas um pregão. As informações são da Elos Ayta Consultoria. Apenas quatro ações do Ibovespa fecharam em alta: Suzano (SUZB3), Weg (WEGE3), Braskem (BRKM5) e Klabin (KLBN11).
Em Nova York, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq subiram 0,19%, 0,22% e 0,31%, respectivamente. O destaque do dia foi o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que avançou 0,3% em setembro ante agosto. Na comparação anual, houve alta de 2,8% em setembro. Analistas ouvidos pela FactSet previam acréscimo mensal de 0,2% e avanço anual de 2,8%. O indicador é a medida de inflação preferida do Fed.
No mercado local de câmbio, o dólar hoje fechou em alta de 2,29% cotado a R$ 5,4318, depois de atingir máxima a R$ 5,4840. Esse foi o maior valor de encerramento para a moeda desde o dia 16 de outubro, refletindo a busca por proteção por investidores.
As maiores altas do Ibovespa hoje
As três ações que mais valorizaram no dia foram Weg (WEGE3), Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11).
Weg (WEGE3): 2,64%, R$ 46,7
As ações da Weg (WEGE3) registraram a maior alta do Ibovespa hoje e avançaram 2,64% a R$ 46,7. Segundo Iarussi, da The Hill Capital, os ganhos do índice foram concentrados em poucos papéis considerados resilientes pelo mercado.
A WEGE3 está em alta de 6,55% no mês. No ano, acumula uma desvalorização de 9,13%.
Suzano (SUZB3): 1,94%, R$ 50,5
Quem também se saiu bem foi a Suzano (SUZB3), que avançou 1,94% a R$ 50,5.
A SUZB3 está em alta de 6,14% no mês. No ano, acumula uma desvalorização de 18,26%.
Klabin (KLBN11): 1,47%, R$ 18,65
Entre os poucos destaques positivos, esteve ainda a Klabin (KLBN11), que registrou valorização de 1,47%, terminando o dia cotada a R$ 18,65.
A KLBN11 está em alta de 5,13% no mês. No ano, acumula uma desvalorização de 16,18%.
As maiores quedas do Ibovespa hoje
As três ações que mais desvalorizaram no dia foram Yduqs (YDUQ3), Azzas 2154 (AZZA3) e Cyrela (CYRE3).
Yduqs (YDUQ3): -10,84%, R$ 12,75
As ações da Yduqs (YDUQ3) sofreram a pior queda do Ibovespa hoje e despencaram 10,84% a R$ 12,75. A alta dos juros futuros penalizou ações cíclicas, mais sensíveis aos ciclos econômicos.
A YDUQ3 está em baixa de 6,32% no mês. No ano, acumula uma valorização de 55,11%.
Azzas 2154 (AZZA3): -9,96%, R$ 25,67
Outro destaque de baixa foi a Azzas 2154 (AZZA3), que cedeu 9,96% a R$ 25,67. A empresa informou, depois do fechamento do pregão, que o fundo Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) vendeu 10.102.406 ações da companhia, mantendo somente 1 milhão de papéis via instrumentos financeiros derivativos.
A AZZA3 está em baixa de 11,36% no mês. No ano, acumula uma desvalorização de 10,59%.
Cyrela (CYRE3): -9,9%, R$ 34,5
Na lista de destaques negativos do Ibovespa hoje, figurou ainda a Cyrela (CYRE3), que tombou 9,9% a R$ 34,5.
A CYRE3 está em baixa de 3,44% no mês. No ano, acumula uma valorização de 112,44%.
*Com Estadão Conteúdo