Última Super-Quarta do ano vai definir 2026: entenda como Fed e Copom hoje vão mexer nos seus investimentos
Comunicados do Federal Reserve e do Banco Central brasileiro tendem a ser mais importantes do que as decisões em si e podem redefinir expectativas para juros, câmbio e Bolsa no ano que vem
Copom e Fed definem a política monetária na última Super-Quarta do ano; mais do que a decisão em si, os comunicados darão o tom do mercado financeiro no ano que vem. (Foto: Adobe Stock)
Acontece nesta quarta-feira (10) a última “Super Quarta” de 2025, quando coincidem as reuniões de política monetária do Banco Central (BC) brasileiro e do Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos. Em ambos os casos, os comunicados devem pesar mais do que a decisão, porque são eles que dirão aos investidores o que esperar das taxas de juros no próximo ano.
As decisões em si devem vir sem grandes surpresas: a expectativa é de que na parte da tarde, por volta das 15h, o Fed anuncie um corte de 0,25 ponto porcentual nos juros americanos. Depois das 18h30, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC brasileiro, tende a manter a taxa Selic nos atuais 15% ao ano.
O ciclo de queda de juros costuma ser um dos grandes catalisadores de movimentos de alta nos ativos de renda variável. Enquanto ele ainda não começa no Brasil, a flexibilização da política monetária dos EUA tem sido responsável por parte da euforia vista na bolsa de valores e no câmbio. Assim como também ajuda a embasar as projeções otimistas para o mercado em 2026.
Nos EUA, as expectativas se dividem entre um Federal Reserve mais cauteloso diante do balanço de riscos e uma diretoria que pode mudar de tom com a chegada de um novo presidente (chair) no próximo ano.
André Valério, macro research manager do banco Inter, lembra que a decisão desta semana está longe de ser consensual. Para ele, há um comitê rachado entre quem defende manter a taxa e quem vê espaço (ainda que pequeno) para mais um corte, depois de dados recentes reforçarem argumentos dos dois lados.
Diretores contrários ao corte apontam que a inflação ainda está pressionada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos, com novas rodadas de reajustes à vista, e que o mercado de trabalho não mostra fragilidade suficiente para justificar estímulos adicionais.
De outro lado, o grupo mais dovish (favorável a juros mais baixos) usa o argumento de gerenciamento de riscos, avaliando que a política monetária seria menos eficaz diante de um choque negativo de emprego do que frente a uma aceleração súbita da inflação. Nos EUA, o Fed tem um mandato duplo e precisa se preocupar não só com a inflação, mas também com o mercado de trabalho.
Na avaliação de Marcelo Freller, estrategista do C6 Bank, o mercado financeiro não parece subestimar uma eventual surpresa hawkish (alta nos juros e aperto monetário). Para ele, o Fed deve cortar nesta reunião, mas evitará promessas sobre novos movimentos, postura que já se tornou padrão ao longo do ano. E, dado que a curva não precifica cortes agressivos, apenas cerca de dois ao longo de 2026, o espaço para frustrações imediatas seria limitado.
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Mas há ainda um outro ponto decisivo: o próximo chair do Fed.
Tudo indica que o presidente americano Donald Trump está prestes a indicar Kevin Hassett para substituir o atual presidente do Fed, Jerome Powell, o que pode levar a uma mudança relevante na postura da instituição.
“O mercado está com uma visão dovish, mas minha simetria seria até para mais cortes de juros, e não menos, com um Fed ainda mais dovish no ano que vem”, afirma Freller.
Já Bruna Sene, analista da Rico, acredita que o maior risco não está na decisão, mas na mensagem. Ela afirma que o mercado pode até “ganhar” o corte de juros dos EUA, mas “perder no comunicado”, caso o Fed adote um tom duro sobre a trajetória futura.
Além disso, ela ressalta o risco técnico: com consenso elevado e posições carregadas após a forte alta dos ativos, qualquer surpresa pequena pode gerar correção acelerada, apenas pelo desmonte de posições.
Copom deve manter Selic, mas comunicado é decisivo
No Brasil, é amplamente esperado que o Copom mantenha a taxa Selic em 15% ao ano, patamar no qual está estacionada desde junho deste ano.
No último encontro, em novembro, o grupo destacou que o atual patamar é suficiente para fazer a inflação convergir para a meta de 3% ao ano, mas manteve um comunicado duro, indicando que o ambiente ainda exige uma política monetária contracionista por “período bastante prolongado”. O comunicado enfatizava ainda que a instituição não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste se fosse necessário; um texto muito semelhante ao de reuniões anteriores.
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De lá para cá, houve certa melhora nos indicadores e nas expectativas para a inflação. A projeção de Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Boletim Focus passou de 4,5% para 4,4% para 2025, enquanto a de taxa de câmbio passou de R$ 5,40 para R$ 5,35.
O IPCA de novembro, divulgado nesta quarta-feira (10), avançou 0,18% e acumula 4,46% em 12 meses, já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) cresceu 0,03% no último mês.
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Com a decisão de manutenção da Selic a 15% ao ano dada como certa, os olhares se voltam mais uma vez ao comunicado do Copom. A dúvida é se o BC vai abrir a porta para o ciclo de cortes em 2026, ainda que de forma sutil, ou se reforçará o conservadorismo diante das incertezas que ainda permanecem no cenário macro.
A queda da taxa de juros em 2026 é vista como praticamente certa pelo mercado, mas ainda falta consenso sobre quando os cortes vão começar.
Para o Itaú BBA, a flexibilização monetária começa já em janeiro, com um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.)e que deve seguir de forma gradual até levar a Selic a 12,75% ao longo do ano.
“Para que isso se concretize, será importante que o comitê ajuste a comunicação na reunião de dezembro, eliminando o trecho que afirma que ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso julgue apropriado’ e qualificando em que estágio o referido ‘período bastante prolongado’ se encontra”, diz o banco em relatório.
Na XP Investimentos, a projeção é de que a Selic caia para 12,0% ao fim de 2026, com seis cortes consecutivos de 0,5 p.p. começando em março. Por isso, o time de economistas da casa não acha que a Copom deve amenizar no comunicado desta quarta-feira.
“A nosso ver, o Copom concluirá que ainda é cedo para migrar para um modo totalmente dependente de dados. De fato, acreditamos que o comunicado desta semana continuará a sugerir manutenção da taxa de juros por mais algum tempo, embora não por um período ‘bastante’ prolongado.”
Impactos nos seus investimentos: Bolsa, dólar e renda fixa
Nos últimos meses, o Ibovesparenovou máximas históricas e surfou um movimento de otimismo global. Mas isso pode ser testado caso o Fed adote uma postura mais dura em relação a 2026.
Sene, da Rico, descreve o momento como uma “euforia racional”, sustentada por fundamentos reais. Ele lembra que, no começo de 2024, o Ibovespa era negociado a múltiplos muito deprimidos e que a recuperação dos lucros ao longo de 2025 normalizou o valuation (valor de mercado).
“O múltiplo voltou para mais perto da média, ou seja, o mercado está menos barato do que antes, mas isso não significa exagero sem sentido”.
Segundo ela, o rali também foi sustentado por fluxo global para economias emergentes e por ganhos consistentes de empresas brasileiras.
Entre as consequências da Super Quarta para a Bolsa, Sene reforça que a expectativa de queda da Selic em 2026 funciona como gatilho adicional, mas alerta que, com índice em patamares elevados, cresce a necessidade de disciplina e diversificação. O investidor, diz ela, deve estar preparado para mais volatilidade, especialmente com o peso crescente do calendário eleitoral no próximo ano.
Esse pano de fundo global citado pela analista também aparece na leitura de Valério, do Inter. Ele aponta que um corte pelo Fed tende a reforçar o apetite por risco e enfraquecer o dólar mundialmente, cenário que favorece moedas emergentes como o real. “O câmbio deve se beneficiar do dólar globalmente mais fraco, ao passo que o diferencial de juros aumenta com o corte americano, favorecendo o carry trade do real”, afirma.
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Mas Valério alerta: tudo dependerá do tom da comunicação. Caso o Fed sinalize menos cortes ou demonstre desconforto com a trajetória da inflação, o movimento pode se inverter. Nesse caso, haveria redução de apetite por risco, queda de mercado e fortalecimento do dólar.
A sensibilidade do câmbio a uma eventual decepção do mercado também é destacada por Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, que projeta movimentos mais bruscos se a decisão contrariar expectativas. Segundo ele, uma postura mais dura do Fed pode levar rapidamente a cotação do dólar para R$ 5,65 a R$ 5,85. “Só haveria mudança estrutural acima disso se vier acompanhada de piora fiscal doméstica ou estresse global mais intenso”, afirma.