Em dezembro, o mês começou com o Ibovespa no embalo de alta dos meses anteriores, até chegar à máxima do ano acima dos 164 mil pontos, logo na primeira semana do mês. Depois de atingir o pico, o mercado passou a andar de lado, na faixa dos 160 mil pontos, mas ainda fechando com leve alta de 1,29%. “Este é um mês com menos liquidez e mais realização de lucro”, aponta Bruno Corano, CEO da Corano Capital.
Num final de ano de poucas surpresas no campo macroeconômico, a notícia que mais mexeu com o mercado veio da seara política. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou como candidato da direita para as eleições presidenciais de 2026 seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
“O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era o candidato favorito do mercado financeiro. Com Flavio, a vitória da centro-direita ficou mais incerta”, resume Luis Castro da Fonseca, sócio-fundador da Nest Asset Management.
Juros ganham peso na reta final do ano
O mês também foi marcado pelo discurso mais duro sobre jurosnos bancos centrais, tanto do Brasil quanto dos EUA, comenta Lauro Sawamura Kubo, gestor de fundos de investimento da Patagônia Capital.
“A gente tinha uma esperança maior de cortes em janeiro, já reduzimos essa probabilidade com o que foi dito pelo Comitê de Política Econômica (Copom)”, avalia o gestor.
O comitê do Banco Central (BC) manteve a Selicem 15% ao ano pela quarta reunião consecutiva. Nos EUA, onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou os juros pela terceira vez seguida, para a faixa de 3,5% ao ano, a fala num tom mais “cauteloso” do presidente Jerome Powell trouxe incertezas sobre novos cortes.
“Os yields (rendimentos) das Treasuries(títulos públicos americanos) de 10 anos estão subindo mais de 3% em dezembro”, pontua Kubo, referindo-se às taxas de juros de mercado dos títulos dos EUA.
Guerra tarifária de Trump redesenha o fluxo global
Foi a política americana, aliás, que ditou os rumos do mercado em 2025. “A escalada de tensões geopolíticas e comerciais gerou volatilidade no meio do ano, depois parcialmente mitigada por acordos pontuais”, lembra Kubo, sobre o pânico do mercado em abril.
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A guerra tarifária iniciada pelo presidente Donald Trump gerou uma saída forte de capital dos EUA em direção a outras economias. Os emergentes se beneficiaram bastante desse movimento, com altas expressivas em países como Coréia de Sul, com alta de 87,62%, México, com 57,83%, e África do Sul, com 58,39%. “O mercado brasileiro acompanhou esse movimento, subindo 46,21% no ano quando medido em dólares.”
O dólar, por sinal, sofreu globalmente por essa questão, desvalorizando perto de 10% no ano, pelo DXY, e na mesma proporção frente ao real. O DXY é um índice que mede o dólar frente a uma cesta de moedas fortes, como euro, iene e libra, e indica o apetite global pela moeda americana.
Na Bolsa brasileira, o fluxo de capital externo estava positivo em R$ 26,126 bilhões até meados de dezembro. Esse movimento, no entanto, não beneficiou as empresas de commoditiesque sofreram com a desvalorização do dólar e também por questões de seus próprios setores.
No petróleo, o preço do Brent registrou queda aproximada de 15% no ano e o minério de ferro não registrou alta relevante. “É difícil empresas ligadas a essas commodities performarem bem com o preço de seus produtos não andando junto”, observa Kubo.
As empresas de papel e celulose também sofreram. Petrobras(PETR3; PETR4) e Suzano(SUZB3) figuraram na ponta negativa no ano.
Já os setores voltados para a economia doméstica foram destaque. “Educação, financeiro e construção civil obtiveram os melhores retornos, com diversas empresas acumulando alta de mais de 50%”, diz Fonseca.
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Cogna (COGN3), Direcional (DIRR3), BTG Pactual (BPAC11) e Axia Energia (AXIA3, ex-Eletrobras) estão entre as melhores de 2025. “São setores diretamente beneficiados pela queda dos juros”, comenta o CEO da Corano Capital.
Em 2025, apesar de a Selic chegar no pico de 15% ao ano, os juros futuros caíram com a expectativa de fim do aperto monetário, o que reduziu as taxas de médio e longo prazo durante o ano.
Mercado entra em 2026 sob influência eleitoral e juros
Para 2026, janeiro começa ainda marcado pelos mesmos fatores positivos que ajudaram os mercados em 2025, com entrada de fluxo estrangeiro e perspectiva de corte de juros, mas a tensão eleitoral vai começar a pesar ao longo do ano.
“Ainda é cedo para falar de eleição, não vamos ter candidatos definidos. Acredito que teremos fluxo positivo no mês”, afirma Kubo, da Patagônia Capital.
Corano avalia que, se o cenário de juros continuar caminhando na direção certa, o viés segue construtivo no primeiro semestre. “Até que a gente se aproxime das eleições. Aí, certamente, a coisa muda de figura.”
Além da dinâmica eleitoral, outro fator que deverá fazer preço ao longo do ano é a rotação para fora de tecnologia do mercado americano. Para Fonseca, da Nest, o tema da possível bolha de IA ainda vai continuar presente ao longo do ano. Ele reconhece que não dá para saber quando o assunto vai terminar, “se no ano que vem ou daqui a quatro anos”.
“O mesmo vale para a boa performance dos mercados emergentes. Difícil dizer por quanto tempo esse movimento vai continuar.”