- No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, Márcio Orlandi, CEO do Pride Bank e militante da causa, fala ao E-Investidor sobre a iniciativa e sobre os desafios do mercado de trabalho para a minoria
- Vale ressaltar que 5% da receita bruta da empresa é destinada para ajudar o Instituto Pride, que hoje colabora em parceria com cinco organizações
- Estudo feito a pedido da Pride Bank mostra que a população LGBTQIA+ adulta tem um gasto anual de aproximadamente R$ 450 bilhões. Quase 30% da comunidade no Brasil não tem cartão de crédito
(Levy Teles, especial para o E-Investidor) – A primeira fintech com serviços de banco digital do mundo voltada para o público LGBTQIA+. Assim se define a Pride Bank, fundada em novembro de 2019 e aberta ao público em agosto de 2020 pela jornalista Maria Fuentes, mulher lésbica. Depois de anos de voluntariado em ONGs voltadas ao grupo, ela percebeu que a arrecadação era uma das principais lacunas do coletivo. Em resposta, se uniu a Alexandre Simões e Márcio Orlandi para fundar a empresa.
Leia também
“Precisávamos encontrar um jeito de juntar dinheiro para coletivos”, diz Orlandi. Vale ressaltar que 5% da receita bruta da empresa é destinada para ajudar o Instituto Pride, que hoje colabora em parceria com cinco organizações voltadas ao público.
Os fundadores acreditam que há grande potencial de crescimento no mercado para financiar eventos culturais para o grupo. A aposta tem fundamento: um estudo da OutNow, realizado em 2017 a pedido da Pride Bank, mostra que a população LGBTQIA+ adulta, estimada em cerca de 9,5 milhões de pessoas, tem um gasto anual de aproximadamente R$ 450 bilhões. O levantamento mostra ainda que quase 30% da comunidade no Brasil não tem cartão de crédito.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, Márcio Orlandi, CEO do Pride Bank e militante da causa, fala ao E-Investidor sobre a iniciativa e sobre os desafios do mercado de trabalho para a minoria. Veja os principais trechos da entrevista:
O Pride Bank foi criado para responder que tipo de necessidade?
Márcio Orlandi – O Pride Bank nasceu a partir de um incômodo que a Maria Fuentes tinha. Ela é uma mulher lésbica de 60 anos que já trabalha há muito anos com ONGs e coletivos, sempre muito engajada na comunidade LGBTQIA+ no Brasil.
A maior dificuldade para o grupo hoje é o dinheiro – e é ainda mais difícil para os coletivos porque eles são a última prioridade de empresa e de pessoas que doam. E se há dinheiro, você consegue quase tudo o que você precisa. Precisávamos encontrar um jeito de juntar dinheiro para essas pessoas, e aí veio a ideia de criar um cartão de crédito.
Publicidade
Hoje somos um banco digital com conta digital. Dá para fazer depósito, pagar boleto, fazer transferência, ter cartão de crédito e agora temos uma maquininha de pagamentos.
E-Investidor – O que representa para a Pride Bank ser a primeira fintech LGBTQIA+ do mundo?
Orlandi – Quando tivemos a ideia, nos questionamos: isso é algo que já existe em algum lugar? As pessoas precisam? Fizemos uma pesquisa com a comunidade no Brasil para investigar a satisfação do serviços bancários. A comunidade até é bancarizada, mas não é um valor tão alto. Enxergamos uma oportunidade.
Hvaia algumas queixas. Algumas pessoas relataram ter medo de ir a uma agência bancária e serem maltratadas. Tenho medo de fazer um empréstimo e ser negado por ser claramente gay, lésbica ou trans. Isso mostrou que havia o espaço para crescermos, e, por questão de momento ou evolução do mundo inteiro, fomos os primeiros.
Publicidade
E-Investidor – A fintech está perto de concluir um ano. Como você descreveria essa jornada até agora?
Orlandi – Foi uma caminhada bem difícil. Nosso lançamento beta foi em 13 de novembro de 2019. Lançamos em beta porque algumas coisas não estavam entregues por conta da pandemia. Isso nos atrapalhou muito. Somos um banco pequeno e, portanto, não somos a prioridade de nossos parceiros. Sofremos com meses de atraso até ter tudo funcionando quando precisava. Só conseguimos sair da versão beta em 17 de agosto de 2020.
E-Investidor – Vocês tiveram algum investimento direto de alguma outra empresa ou instituição?
Orlandi – Somos uma startup, mas não vivemos desse universo. A nossa visão foi colocar o banco no ar e depois pensar em investimentos e trazer alguém pra dentro. O Pride foi criado com o dinheiro e recursos dos sócios. Não queremos perder a essência.
Publicidade
E-Investidor – Quais os planos da Pride Bank nos próximos anos?
Orlandi – Não somos exclusivamente voltados para a comunidade: estamos abertos para todos, todas e todes que queiram fazer parte, mas nossos produtos são pensados para esse público. Nosso cartão de crédito aceita nome social e queremos nos transformar em um ecossistema de serviços com a comunidade LGBTQIA+ no Brasil.
Pensamos em criar seguro, plano de saúde, turismo, câmbio, investimentos e outras áreas que estejam preparadas para conversar sobre a comunidade. Podemos pensar, por exemplo, em uma carteira de investimentos de empresas que são LGBT friendly.
E-Investidor – Quais são os cuidados que vocês tomam contra LGBTfobia?
Publicidade
Orlandi – Não lidamos com nada diretamente, mas temos que tomar cuidados. Para enviar o cartão de crédito para a pessoa trans que ainda não é assumida para a família, por exemplo, é necessário ter certa sensibilidade em questionar qual nome deve aparecer no plástico. Há uma série de cuidados como este que são importantes.
E-Investidor – As oportunidades de crescimento se concretizaram?
Orlandi – Nos primeiros três dias que saímos do beta, os usuários chegaram aos milhares. Como a nossa capacidade de divulgação é pequena, ainda há oportunidade do Pride Bank crescer mais. Queremos devolver para a comunidade o que ela mais precisa: patrocinando eventos de cultura, entretenimento e esportes. A ideia é ser o maior patrocinador de cultura voltada para o público LGBTQIA+. Queremos marcar presença nesses lugares.
E-Investidor – Você é abertamente gay há pouco mais de dez anos e até faz palestras relatando a sua experiência. Como foi esse processo para você?
Publicidade
Orlandi – Fui casado com mulher até os 42 e, aos 43, separado, foi quando tive a minha primeira experiência com um homem e digo que começou a minha vida gay. Eu poderia ser o discreto, fora do meio, ou podia ser quem sempre fui, aberto, que não tem vergonha do que fala. Levou dois anos o processo de me autoafirmar. Eu ia militar pela causa de toda maneira que pudesse.
Além de contar minha história e usar como um ponto de referência, uma ajuda, eu também sou fundador de um coletivo chamado Caneca na Mesa. Você usaria sua caneca na sua mesa de trabalho?
A iniciativa veio de um grupo de amigos discutir ser LGBTQIA+ no trabalho, como é difícil, o medo de contar e perder emprego, virar piada no escritório. O Caneca na Mesa é formado por pessoas que se ajudam tirando dúvidas, trocando experiências, que pode dar certo, que pode ser assumir no mercado.
Quer ajudar alguma instituição da comunidade? Saiba como:
Casa Arouchianos
Idealizado por Helcio Beuclair, Rodrigo Costa e Lucas Kiler, em 2016, o grupo acolhe jovens LGBT que foram expulsos de casa.
Família STRONGER
Família LGBTI+ formada por cerca de 250 membros que organiza paradas LGBT nas periferias de São Paulo e fora da capital.
Facebook
Twitter
Instagram
Youtube
ELAS
Fundado em 2000 por cinco mulheres lésbicas que criaram uma nova estratégia para o avanço dos direitos das mulheres no país. Mobiliza recursos no Brasil e no exterior, com empresas, fundações, organismos internacionais e pessoas físicas e investe exclusivamente na promoção do protagonismo e da liderança das mulheres e pessoas LBT.
Facebook
Twitter
Instagram
Youtube
EternamenteSOU
Associação sem fins lucrativos criada em 2017 com o objetivo de atuar em prol das pessoas idosas LGBT pela implantação de serviços e projetos voltados ao atendimento psicossocial a essa população.
Instituto Nice
OSC fundada em 2016 voltada à reinserção social e profissional de pessoas LGBTI. Referência nacional no resgate e acolhimento de vítimas do trabalho análogo ao escravo e exploração sexual de mulheres transexuais e travestis. Produziu a Primeira Parada LGBTI em Franco da Rocha.