O que este conteúdo fez por você?
- Entre as investidoras da Bolsa brasileira, 48,7% delas têm perfil agressivo e 45,29% classificam-se no tipo moderado
- Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela assessoria de investimentos iHub com informações da bolsa brasileira
- No Brasil, 45% das mulheres têm as finanças controladas pelo parceiro. Entre as mulheres de 20 a 34 anos, 40% as delegam para o cônjuge
Os casos de violência doméstica não são raros no País. No entanto, desde a última semana, os brasileiros se uniram nas redes sociais em defesa de Pamella Holanda, vítima de agressões do ex-marido Iverson de Souza Araújo, conhecido como DJ Ivis.
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Apesar desse tipo de tragédia afetar mulheres de diferentes classes sociais, religião e nível de conhecimento, a educação e a independência financeira podem ser recursos para ajudar na redução dos casos.
Independência financeira como mecanismo de defesa
Na visão dos analistas, fazendo as próprias escolhas financeiras as mulheres estão menos sujeitas a relacionamentos abusivos domésticos ou até situações de abuso no ambiente de trabalho.
O aumento da participação de mulheres entre o número de investidores na Bolsa estampa um avanço para essa trajetória de inclusão. O número de contas de mulheres na B3 ultrapassou a marca de um milhão este ano, chegando a 1.050.717 em julho.
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Entre as investidoras na Bolsa brasileira, 48,7% delas têm perfil agressivo e 45,29% classificam-se no tipo moderado. A B3 não inclui outros gêneros na pesquisa.
Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela assessoria de investimentos iHub com informações da bolsa brasileira. Sobre a ocupação das investidoras, elas ficam divididas da seguinte forma:
- autônomas (20,67%);
- administradoras (8,23%);
- empresárias (7,64%);
- aposentadas (5,26%);
- advogadas (4,41%).
Exemplos de quem conquistou a independência financeira
A psicóloga e administradora Marleide Rocha, 42 anos, relata que começou a investir por influência de conversas com amigos e pacientes que trabalham no mercado financeiro.
Inicialmente, a preocupação era só com o longo prazo e todas as reservas eram voltadas para essa finalidade. “Quando decidi expandir o meu consultório, percebi que eu poderia investir e tomar um risco um pouco maior visando maior rendimento”, diz.
Assim como ela identificou a necessidade de cuidar das finanças e cuidar mais da independência financeira para realizar seus próprios objetivos, Rocha descreve que lidou com uma série de pacientes que sentiam na pele como “o dinheiro pode servir como uma ferramenta de dominação”.
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“Ouvi sobre muitas mulheres ficarem reféns de relacionamentos abusivos por conta da dependência financeira após abdicarem da carreira para se dedicarem à casa e aos filhos”, afirma. Ela complementa que a dificuldade da fuga de uma relação como essa acontece, muitas vezes, pela falta de recursos da vítima; por isso, vale investir em educação financeira desde cedo.
A experiência da brasileira Gláucia Varago, 44 anos, estampa essa realidade da busca pela independência financeira. Há cerca de três anos ela trabalha como assistente pessoal nos Estados Unidos, mas vive em terras norte-americanas há pelo menos quinze anos.
Ela explica que só começou a pensar sobre investimentos depois de sair de uma relação abusiva. Durante cinco anos ela foi casada com um homem que lidava com problemas de alcoolismo, mas era o responsável financeiro da família.
Com os abusos psicológicos em casa, Varago desenvolveu quadro de ansiedade, o que desencadeou uma série de efeitos psicossomáticos em seu corpo, como distúrbios hormonais e suspeita de doenças degenerativas. “Fiquei com medo de como aquilo poderia afetar a minha saúde mental. O avanço desse quadro poderia até me afastar da minha própria filha”, diz.
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Motivada pelo pensamento sobre o seu e o da filha, hoje de 9 anos, passou a trabalhar para alcançar a independência financeira e acumular patrimônio visado para o longo prazo.
“Comecei a pesquisar sobre investimentos para ter uma aposentadoria confortável e garantir o futuro da minha menina”, afirma Varago. “Acompanho as notícias do mundo econômico e recebo orientação de profissionais brasileiros e americanos, o que me fez ter um pouco mais de segurança.”
Seis anos depois do primeiro investimento, e separada há cinco, ela conta que hoje já faz aplicações até em criptomoedas, um dos segmentos de maior risco e alta volatilidade do mercado.
Mudanças de cultura entre investidores
Para a educadora financeira Luciana Ikedo, a influência masculina nas decisões financeiras ainda é muito presente. “Até a década de 1960, as esposas precisavam da autorização do marido para abrir uma conta bancária. Essa relação não muda de um dia para o outro, apesar dos avanços recentes”, afirma Ikedo.
Ela destaca que o número de investidores com menos de 15 anos de idade possui apenas 11% de diferença entre os dois gêneros, com predominância masculina. Por outro lado, considerando a faixa etária de 26 a 45 anos, o número de contas de homens é superior ao de mulheres em 47,75%.
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Para a especialista, a diferença significa que as gerações mais novas devem ter mais igualdade entre os investidores.
“Com as mulheres no controle de suas finanças, diminuem as chances de serem vítimas de um relacionamento abusivo. Essa preocupação já é vista pelas gerações mais novas”, ressalta Ikedo.
Com 24 anos de atuação em finanças, a educadora afirma que a maior parte de suas clientes e seguidoras são mulheres, tornando-a mais otimista em relação ao aumento de participação ativa no mercado financeiro.
O trabalho de prevenção de abusos e a conscientização da independência financeira deve acontecer desde a infância. “É de suma importância conversar com as meninas mais jovens sobre dinheiro, finanças e investimentos. Dessa forma, quando crescerem, elas terão o conhecimento para fazer as próprias escolhas”, diz Ikedo.
Perfil das mulheres na Bolsa brasileira
O aumento de apetite ao risco entre os investidores foi resultado da maior disponibilidade de informações na internet e da baixa taxa de juros durante a crise do coronavírus.
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A afirmação é de Tatiana Tribiolli, assessora de investimentos da iHUB. “Apesar de a realidade financeira dos brasileiros ainda ser muito delicada, a mentalidade de poupar e investir está mudando por conta da maior facilidade de adquirir conhecimento”, afirma.
Segundo Tribiolli, com o conteúdo sobre finanças mais acessível e elas tomando mais protagonismo no mercado de trabalho, o número de mulheres na Bolsa (27,71% do total) tende a crescer nos próximos anos, indicando a necessidade da busca pela independência financeira.
Mesmo com o perfil feminino nos investimentos, muitas mulheres ainda têm características conservadoras na hora de aplicar o dinheiro, segundo os especialistas. O comportamento reflete uma insegurança para iniciar a compra e venda de ações na Bolsa de valores.
“Analisando a população feminina em geral, ainda encontramos um forte conservadorismo em relação ao investimento em ações”, diz Annalisa Dal Zotto, planejadora financeira e sócia da gestora de patrimônio ParMais.
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Dal Zotto complementa que as mulheres que iniciaram os investimentos em renda variável já pesquisaram bastante sobre o mercado financeiro ou confiam em alguém com maior conhecimento, como uma empresa de gestão ou mesmo o parceiro.
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Uma das razões para a discrepância é a desigual divisão de atividades domésticas e a maternidade. “Em geral, as mulheres conseguem o amadurecimento na carreira entre 40 e 50 anos. Os homens, com 30 a 40 anos, já conseguem altos salários porque não são interrompidos com a maternidade”, destaca Dal Zotto.
Segundo o sócio-fundador da iHUB, Daniel Funabashi, a diferença na porcentagem de participação nos investimentos deve diminuir porque as mulheres estão buscando mais independência financeira e chegando a cargos mais altos, se comparado a anos anteriores.
Apesar disso, não há expectativa nos próximos horizontes para a igualdade ou dominância feminina.
Segurança financeira entre investidoras
No Brasil, 45% das mulheres têm as finanças controladas pelo parceiro, segundo dados do relatório Investor Watch, realizado pela UBS em 2019 (mais recente disponível). Entre as mulheres de 20 a 34 anos, 40% as delegam para o cônjuge.
Já entre as que dividem ou não compartilham a administração das finanças, os principais motivos para fazerem as escolhas sobre o dinheiro são a confiança para tomar decisões, não ter surpresa com o orçamento em caso de separação ou morte e saber o que está acontecendo com a carteira em caso de uma crise financeira.
O Investor Watch foi produzido a partir das respostas de 3,7 mil mulheres casadas, viúvas e divorciadas. A média global de mulheres que têm ou tiveram as finanças controladas pelo cônjuge é de 58%. O levantamento foi feito pela UBS com cidadãs da Alemanha, Brasil, Estados Unidos, Hong Kong, Itália, México, Reino Unido, Cingapura e Suíça.