Com a queda de um dos pilares de sustentação do governo Bolsonaro, o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, que levou junto parte da popularidade e do prestígio do presidente Jair Bolsonaro, o mercado financeiro e seus investidores temeram que Paulo Guedes, Ministro da Economia, também poderia sair, o que seria péssimo para o País.
Imediatamente, o Ministro da Economia veio a público enfatizar que ficaria no governo. No curto prazo, ele sai fortalecido, pois Bolsonaro sabe que perdê-lo seria um grande problema para a sua governabilidade. Entretanto, o que é declarado na imprensa é diferente do que acontece nos bastidores.
Primeiramente, vamos falar dos motivos que fariam com que Guedes ficasse até o final do governo. O primeiro seria a possibilidade de aprovação das Reformas, em especial a Administrativa e a Tributária. Entretanto, para isso, precisaria de um Congresso alinhado com o Executivo, como ocorreu com a Reforma da Previdência, mesmo que saísse algumas faíscas entre os Poderes. Porém, a situação política em Brasília mudou radicalmente desde o início da crise do novo coronavírus (covid-19).
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O segundo motivo para a permanência de Paulo Guedes seria a manutenção da agenda liberal, com corte de gastos públicos, principalmente agora em que a arrecadação federal está despencando. Mas isso vai na contramão do que defendem os militares que estão lançando o plano Pró-Brasil, que basicamente visa a injeção de dinheiro público na economia através de obras de infraestrutura. Isso funcionou em décadas passadas, mas sua eficácia hoje é imprevisível.
Bolsonaro sabe que precisa dos militares, mas também sabe que a saída de Paulo Guedes causaria ainda mais estragos. Diante disso, o Ministro tem muito mais motivos para deixar o governo no médio prazo do que continuar.
Veja 6 pontos que causam preocupação:
1) Plano Liberal:
O ajuste nas contas públicas perdeu prioridade para os gastos com a saúde e a ajuda econômica aos Estados, negociação com os partidos do chamado Centrão, como o reajuste dos servidores públicos e o aumento do gasto público com obras de infraestrutura como forma de gerar empregos e reaquecer a economia. Tudo isso vai na contramão do desejo de Paulo Guedes.
2) Reforma da Previdência:
A economia próxima de R$ 1 trilhão em 10 anos já foi em grande parte comprometida. Antes mesmo do coronavírus, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro em relação ao BPC (Benefício de Proteção Continuada), o que gerará um impacto de R$ 200 bilhões em 10 anos, ou seja, 20% do economizado com a Previdência. Além disso, a crise de saúde obrigou o governo a abrir o cofre para tentar não deixar a economia entrar em colapso.
3) Crise Política:
O cenário em Brasília vem se deteriorando rapidamente desde a saída de Sérgio Moro. Bolsonaro tenta isolar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articulando com os partidos do Centrão. Entretanto, Maia conhece muito bem o regimento interno do Legislativo e sabe como colocar pautas que desagradam o governo ou até mesmo dar andamento a um pedido de impeachment. Além disso, os constantes atritos entre o Executivo e o Judiciário e as denúncias de Sérgio Moro criam um cenário que dificulta a aprovação das reformas que beneficiam o governo – e também beneficiam o País.
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4) Subsídios:
A Escola de Chicago que Paulo Guedes defende é a mínima intervenção do Estado na economia do país, com privatizações, abertura econômica, redução de impostos e liberdade de preços. Entretanto, em razão da grave crise provada pelo coronavírus, o governo já anunciou que deve socorrer algumas empresas, como as companhias aéreas, por exemplo e isso deve ser estendido a outros setores da indústria, o que vai na contramão do que defende Paulo Guedes.
5) Privatizações:
Paulo Guedes agora está dividindo a agenda econômica com os militares e está lutando para convencer os generais, juntamente com Salim Mattar, Secretário de Desestatização e Privatização, de que é preciso vender com urgência empresas estatais, como a Eletrobrás, por exemplo, que podem gerar R$ 150 bilhões. Porém, os militares defendem exatamente o contrário de Guedes, ou seja, maior participação do Estado na economia.
6) Confiança:
Confira no vídeo abaixo um dos itens mais polêmicos que pode forçar a saída de Paulo Guedes do governo de Jair Bolsonaro:
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