Se contasse 6 meses atrás que, a maior resseguradora do Brasil, uma empresa de capital aberto, em teoria com compliance e auditoria de primeira linha, fraudaria seus balanços apenas para que seus executivos recebessem bônus milionários, muita gente daria risada.
Porém, se contasse que depois que a suspeita foi jogada no ventilador, para tentarem recuperar a cotação da ação, a própria empresa falaria que o Warren Buffett, o maior investidor do mundo, havia triplicado seus investimentos na empresa e o mesmo viesse a público, diretamente de Omaha, para falar que tudo não passava de uma mentira, seria ainda mais bizarro. Talvez, até Eike Batista, o rei dos fatos relevantes, ficasse com inveja de tamanha audácia.
O filme de terror do IRB Brasil RE (IRBR3):
Pois esta é a história do IRB Brasil RE, multinacional detentora de quase 40% de todo o mercado nacional. Para quem não sabe, bem simplificadamente, uma resseguradora é a seguradoras das seguradoras. A princípio, o mercado de seguros é extremamente sólido, principalmente devido a sua previsibilidade de sinistros e sua margem de segurança no momento da precificação do prêmio, ou seja, o valor que um cliente paga para manter segurado o seu bem.
Logicamente, todos estes fatos somados e mais uma pimenta do coronavírus, fizeram o papel desabar de R$ 42,50 para R$ 6,70 e hoje está próximo de R$ 10,00.
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A primeira coisa que chama a atenção é o fato de, diferente dos Estados Unidos, no Brasil, o máximo que o investidor pode fazer é ir na sua rede social e gritar. Foi assim com a Petrobras (PETR4). Os acionistas americanos foram ressarcidos e quase todos os brasileiros, ficaram chupando o dedo.
É possível reaver o prejuízo das ações do IRBR3?
Porém, pouca gente sabe, mas é possível sim o investidor que sofreu prejuízo em razão de uma conduta criminosa da empresa, entrar com uma ação em um tribunal arbitral (justiça particular) e reaver seus prejuízos. Tanto é possível que, a juíza Renata Mota Maciel determinou que o IRB Brasil RE (IRBR3) separe R$ 1 Bilhão para o pagamento de indenizações.
Sou acionista do IRBR3 e só não ingressei com uma ação, pois comprei o papel depois da sua queda, portanto, não fui prejudicado, pois já sabia das suspeitas. Agora, com a divulgação do balanço, ficou evidente que a fraude era pior do que o mercado previa. O lucro líquido de 2018 e 2019 foi revisado e mais de R$ 700 milhões, retirados.
Além disso, o lucro líquido do balanço do primeiro trimestre de 2020, que já havia sido adiado duas vezes, apresentou queda de 92%. Gosto dos números, porque eles não mentem, simplesmente escancaram a realidade e, neste caso, revelam que se não fosse a gestora Squadra Investimentos, o rombo seria muito maior.
Por falar em números, no dia seguinte a divulgação do balanço, as ações caíram mais de 5%, depois subiram 4% e terminaram em queda de mais de 11%. Isso mostra claramente que o mercado não consegue avaliar com precisão a capacidade de reação da empresa frente a todos os problemas.
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No dia de ontem, os analistas de um grande banco de investimento, que haviam colocado o preço alvo da ação, ou seja, o valor que ela poderia chegar, em R$ 43,00, reviram a sua projeção e recalcularam o preço-alvo para R$ 7,50. Seria o mesmo que prever o Ibovespa a 100 mil pontos e depois rever a projeção para 17.500 pontos. Alguma das duas projeções estava, ou está, completamente fora de contexto. Isso revela também que os analistas estão com dificuldades de enxergar o futuro da empresa.
Qual o fato relevante da IRBR3?
O fato mais relevante da apresentação de resultados, além dos números, é a postura do presidente do conselho e atual diretor presidente do IRB Brasil, Antônio Cássio dos Santos. Diferente de antigos executivos, ele fez questão de elogiar o trabalho brilhante da gestora esquadra e disparou contra os ex-executivos: “Você pode enganar muitos por muito tempo, mas não pode enganar todos por todo o tempo”. Essa postura diz muito sobre o novo general que está na linha de frente do quartel do IRB Brasil. Está bem claro que ele irá querer deixar a sua marca como o executivo e seu time que conseguiram recuperar uma empresa que foi roubada de dentro para fora.
IRB Brasil vai quebrar?
Qualquer empresa pode quebrar, ainda mais uma companhia com tamanhos problemas, mas não acredito nesta possibilidade. O segmento de negócio é promissor, a empresa é relevante no mercado e detém grande share. O grande problema é que ela foi saqueada por piratas que estavam dentro do barco. Entretanto, as crises produzem um crescimento automático.
Foi assim com a Petrobras, após a lava-jato, que hoje possui uma gestão extremamente séria e eficiente. Com o IRB Brasil, acredito na mesma coisa. O fato da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Polícia Federal, Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e grandes acionistas como Bradesco, Itaú e Black Rock estarem de olho em absolutamente cada passo do IRB Brasil RE e seus executivos, acredito só pode ter uma consequência: “Pior do que está, não fica”, como diria o filósofo contemporâneo e atual congressista, Deputado Tiririca.
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