O que este conteúdo fez por você?
- Desde que fundamos nosso negócio, uma gestora de patrimônio focada em atender somente famílias que tivessem um olhar para transformação social, tivemos que fazer inúmeras escolhas
- Será que alguém ainda ousa desprezar o uso dos critérios ASG (Ambiental, Social e Governança) como fatores de risco a serem ponderados para tomada de decisão de investimentos? Já existem inúmeras abordagens possíveis e o chamado greenwashing está por todos os lados
- As empresas não são uma mera extensão ou ferramenta de usufruto de seus acionistas. Quanto mais crescem, tornam-se entes vivos, sujeitos a curadoria de seus controladores e administradores em última instância
(Com Alexandre Gottlieb Lindenbojm, co-fundador da Wright Capital Gestão de Patrimônio) – Em 1948 foi proclamada na Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, … a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…”. Esses princípios foram escritos há 72 anos. Apesar da evolução dos direitos humanos e da liberdade, de lá para cá, o capitalismo ainda não foi capaz de lidar com os desafios sociais e ambientais de nossos tempos.
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No mundo existem três tipos de indivíduos: aqueles que acreditam que viemos aqui a passeio; aqueles que procuram ajudar dentro do limite do seu próprio conforto e, em alguma extensão, para o seu benefício pessoal e daqueles que lhes são caros ou próximos; e finalmente aqueles que refletem sobre por que viemos, procuram encontrar a sua missão e dão um passo à frente no campo de batalha em busca de uma sociedade mais justa e um mundo melhor para todos os seres sencientes.
Acreditamos que não se nasce de uma forma ou de outra. Existe um processo de acordar, que pode ou não acontecer nesta passagem. Certa vez, nos questionando sobre o que devemos fazer com aqueles que têm condições de se engajar e nada fazem, nos deparamos com um ensinamento Sufi, a partir da seguinte indagação:
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Porque razão os que estão acordados não despertam do sono da confusão os povos da Terra? A resposta é a seguinte: não é aconselhável que crianças pequeninas, cuja felicidade é cochilar, sejam acordadas. O crescimento delas depende do sono. Se ficarem muito tempo acordadas adoecem e não serão tão úteis no lidar com os assuntos da vida quando crescerem. Quando pequeninas as crianças precisam de mais sono e devem dormir. Tal é a natureza das almas imaturas. São crianças, embora estejam em corpos de velhos. Suas fantasias, alegrias e encantos relacionam-se com coisas sem importância na vida, assim como a vida das crianças é absorvida por doces e brinquedos. Portanto, os que estão acordados caminham vagarosa e suavemente, com medo que seus passos possam perturbar o cochilo dos que dormem. Acordam somente, enquanto caminham, os que encontram agitando-se no leito.
Distintas linhagens filosóficas discutem a conveniência e a legitimidade da vocalização dos nossos feitos filantrópicos. Apesar da visão judaico cristã advogar pela discrição em relação a tais feitos, o fato é que atualmente reconhecemos a importância do exemplo e das referências daqueles que trabalham ativamente na captação e na alocação de recursos visando a geração de impacto social, sejam eles no âmbito da filantropia, sejam eles voltados às mais diversas maneiras de atuação.
Um bom exemplo é o empresário Yvon Chouinard, fundador da Patagonia. Ele ousou, desafiou o modelo e mostrou que é possível ter uma grande empresa, lucrativa e ao mesmo tempo cuidar das pessoas e do planeta. Ele diz que a Patagonia é uma experiência – existe para por em prática todas as recomendações sobre como evitar a destruição da natureza e o colapso de nossa civilização. Como uma grande empresa, a Patagonia reconhece que sua responsabilidade perante a sociedade só aumenta.
Desde que fundamos nosso negócio, uma gestora de patrimônio focada em atender somente famílias que tivessem um olhar para transformação social, tivemos que fazer inúmeras escolhas. Deixamos de atender famílias cuja trajetória não se alinhava com nossas crenças e, a cada não que dizíamos, tantas outras portas se abriam de forma sincrônica e surpreendente.
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Acreditamos desde início no poder do amor, de relações empáticas, de ajudar a todos sem interesse e com todo o nosso coração. Nesta jornada, fizemos amigos, trabalhamos arduamente e ao nos apresentarmos em direção às nossas missões, pudemos apreciar o caminho, saboreando cada momento.
Como parte do protocolo sutil de identificarmos aqueles que já estavam “acordados” ou, ao menos, encontravam-se “balançando em seus berços”, combinamos que todos os nossos clientes deveriam alocar, ao menos, 1% de seus ativos líquidos em investimentos de impacto social. Tratava-se, no início de 2015, quando iniciamos nossa jornada, de uma decisão arriscada. Quantos estariam dispostos a tratar do assunto? Tomamos então a decisão, à época, de abrir mão de nossa taxa de gestão para essa parcela, para demonstrarmos que, embora não houvesse ainda histórico comprovado para os investimentos de impacto socioambiental, seguiríamos na direção da experimentação de um capitalismo mais consciente e humano, alocando capitais para negócios capazes de gerar não só retornos financeiros mas também impacto social e/ou ambiental positivo, intencional e mensurável.
Cinco anos e meio depois, aprendemos que não só nós mergulhamos nessa jornada, como também todos os nossos clientes e parceiros em maior ou menor extensão. Para ajudar no desenvolvimento da classe de ativo e para poder alocar mais que 1% em impacto, nos tornamos ativistas provocando famílias, gestores das mais variadas classes de ativos, investidores institucionais, membros do governo e reguladores a uma reflexão sobre como alinhar nossos capitais a valores e objetivos de vida – gerando assim mais do que retorno financeiro, gerando legado.
Não foi e não será fácil. Nem por isso, apesar de todo o ceticismo de parceiros que respeitamos profundamente, desistimos. Batíamos de um lado, não funcionava, provocávamos por outro. Foram tantas histórias incríveis e conexões que o que parecia uma utopia aos poucos está se tornando mainstream.
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Será que alguém ainda ousa desprezar o uso dos critérios ASG (Ambiental, Social e Governança) como fatores de risco a serem ponderados para tomada de decisão de investimentos? Já existem inúmeras abordagens possíveis e o chamado greenwashing está por todos os lados. Mas a verdade é só uma, não é porque é difícil que é impossível. Impossível é voltar para o status quo quando se compreende que o trabalho escravo, a depredação ao meio ambiente, o desrespeito aos clientes e fornecedores, a evasão fiscal e a corrupção jamais poderiam ter sido aceitos por tanto tempo.
A vida mostra que os aprendizados, para que aconteçam, muitas vezes demandam um movimento pendular. Partindo do maximizar o retorno do acionista (a qualquer custo), passando pela teoria dos stakeholders, devemos desenvolver um olhar minimamente equilibrado entre todas as partes envolvidas.
As empresas não são uma mera extensão ou ferramenta de usufruto de seus acionistas. Quanto mais crescem, tornam-se entes vivos, sujeitos a curadoria de seus controladores e administradores em última instância. Mas com grandes poderes vêm sempre grandes responsabilidades (princípio de Peter Parker, de Stan Lee).
Segundo o filósofo grego Aristóteles, a felicidade é o fim último de um ser humano com base na sua ética e por meio de seus hábitos cotidianos. A virtude, excelência moral, surge a partir da ação humana, da decisão diária de praticar atos justos. Se não é praticada, o ser humano perde a disposição moral.
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Quando fundamos a Wright Capital, o fizemos como expressão máxima de nosso amor. Entendemos que o homem vale pelo conjunto de sua obra e, como tal, desde o início, trabalhamos em dobro para nos engajarmos em nossas missões pessoais e institucionais. Dedicamos parte de nosso tempo a ajudar o próximo, a entendermos como poderíamos apresentar alternativas não convencionais de engajamento e atuação.
Aprendemos sobre o uso de critérios ASG, restrição de portfólios em ativos tóxicos, investimentos de impacto nas mais diversas classes de ativos, a inovadora abordagem do Venture Philanthropy e a importância dos capitais customizados (tailored financing) e dos intermediários. Nos envolvemos em inúmeras ações de advocacy e filantropia. Aprendemos sobre green bonds (títulos verdes), impact bonds (emissões de dívida para soluções de problemas sociais), descarbonização de portfólios ou sua compensação, Digital ID, Amazônia 4.0, inteligência artificial para o bem (AI for Good), etc. Conhecemos soldados anônimos dentro dos governos e pelos mais diversos cantos, despidos de ideologia e cheios de sonhos e vontade de trabalhar por uma sociedade mais justa e próspera. Conhecemos pessoas com histórias de vida incríveis no mundo inteiro. E chegamos a conclusão, ao final, que tudo valeu a pena mas que, ao mesmo tempo, jamais mudaremos nossa realidade com a mera atuação do Estado ou do terceiro setor.
Entendemos que seja absolutamente fundamental que não somente indivíduos, mas corporações e empresas no Brasil e no mundo assumam a sua responsabilidade, deslocando parcelas expressivas de seus resultados e incumbindo membros seniores em sua gestão para descobrirem sua vocação para mudança de mundo e geração de impacto positivo para a sociedade e para o meio ambiente.
Dizem que imposto, se fosse justo, não seria imposto, mas proposto. Já pensaram o que aconteceria no mundo se todas as empresas bem-sucedidas, dotadas de mentes brilhantes e negócios de sucesso, fossem capazes de comprometer 10% de seus resultados para o bem? Não como uma estratégia de marketing (que no pior das hipóteses traria resultados que sequer podem imaginar), mas pensando juntos no que poderiam fazer dentro de seu setor, usando sua criatividade, know how, recursos humanos e financeiros. Um bom exemplo em meio a pandemia foi a atitude da Porto Seguro de abrir mão de 10% do lucro para lançar o programa Meu Porto Seguro, criando 10 mil vagas temporárias para ajudar aqueles que perderam o emprego e “ensiná-los a pescar” pelo ensino a distância.
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Será que se mais empresas agissem assim não teríamos uma sociedade mais justa, mais próspera, segura e mais feliz? Existem bons exemplos pelo mundo. Já pensou em criar o seu? Que tal acordar todos os dias para uma aventura rumo a essa transformação? Devemos esperar o caos para que tomemos iniciativas exemplares como as que foram adotadas em tempos de covid-19? Talvez sejamos sonhadores. Mas enquanto o mundo sofre em meio a toda essa situação, esperamos que ao menos aqueles que estão acordando e os que já estão acordados se deem as mãos e ajam. Respeitemos aqueles que dormem profundamente sem julgá-los. Mas tenhamos histórias pessoais e empresariais de verdade para contar para nossos filhos e netos.
Como disse Jacqueline Novogratz, fundadora do Acumen, em seu livro Manifesto for a moral Revolution (Manifesto para uma Revolução Moral), o que separa aqueles que empreendem dentro da zona de conforto daqueles que querem mudar o mundo não tem nada a ver com capacidade intelectual, conexões ou qualidades específicas. Aqueles cujas idéias e ações produzem consequências positivas no mundo são os que permanecem no jogo. São os que começam. Os que tentam, erram e tentam de novo.