Vivemos tempos em que o termo revenge quitting ou “demissão por raiva” ganha destaque nas manchetes, redes sociais e nas conversas de café da Geração Z, ao mesmo tempo que empregadores estão dispensando jovens poucos meses após a contratação, alegando falta de motivação e comportamentos considerados não profissionais. Diante dessa nova tendência, é importante perguntar: o que está causando esse fenômeno no mercado de trabalho? A crescente onda de demissões, tanto voluntárias quanto involuntárias, tem suscitado debates profundos sobre as relações de trabalho contemporâneas.
De acordo com o FGV-Ibre, em abril de 2024, o Brasil registrou 734.943 pedidos de demissão voluntária, o maior número desde 2020. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a permanência média em uma empresa é de apenas nove meses, segundo relatórios de Clima & Engajamento. Enquanto isso, uma pesquisa da Intelligent.com revelou que 60% dos gestores norte-americanos já demitiram recém-formados da Geração Z nos últimos meses, citando falta de motivação, profissionalismo e habilidades de comunicação como principais razões.
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Análise das causas
A Geração Z, nascida em um mundo digital e acostumada à velocidade da informação, tem menos aceitação para as burocracias e hierarquias. Valorizam propósito, flexibilidade e bem-estar, buscando ambientes que promovam não apenas o crescimento profissional, mas também o pessoal. Quando essas expectativas não são atendidas, a frustração se instala, levando muitos a optarem pela saída.
Por outro lado, as empresas, muitas vezes ancoradas em modelos tradicionais, enfrentam o desafio de se adaptar a essas novas demandas sem perder de vista suas metas e sustentabilidade. Conflitos e estereótipos geracionais intensificam essa lacuna, gerando desentendimentos sobre horários, formas de trabalho e o papel das lideranças. A falta de diálogo entre gerações pode corroer o lucro das empresas, especialmente em um mercado no qual a inovação depende da colaboração e da diversidade de ideias.
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Culpar apenas um dos lados é simplificar demais a questão. Estamos diante de uma coreografia desajustada: tanto jovens quanto empresas precisam ajustar seus passos. Os jovens devem compreender que nem tudo acontece na velocidade de um clique, enquanto as empresas têm de reconhecer que o mundo mudou — e como mudou!
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Reflexão e caminhos para o futuro
A polarização entre culpar exclusivamente os jovens pela falta de comprometimento ou as empresas pela rigidez de suas estruturas não contribui para a construção de um ambiente de trabalho saudável. É essencial que ambas as partes busquem entendimento mútuo.
Para os jovens profissionais, é crucial desenvolver habilidades de comunicação, resiliência e adaptabilidade, reconhecendo que o crescimento profissional requer tempo e dedicação.
Para as empresas, torna-se imperativo reavaliar suas práticas de gestão, promovendo ambientes inclusivos, flexíveis e que valorizem o bem-estar dos colaboradores. Investir em programas de mentoria, de desenvolvimento de líderes, oferecer feedback construtivo e reconhecer as contribuições individuais são passos fundamentais para reter talentos.
Para promover um ambiente de trabalho harmonioso, é fundamental transformar conflitos em conexões, construindo pontes que unam diferentes perspectivas, em vez de aprofundar divisões.
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A cooperação entre gerações é essencial para o sucesso no ambiente profissional moderno. Ao incentivar a interação entre diferentes faixas etárias, as organizações podem aproveitar a diversidade de experiências e habilidades, impulsionando a inovação e a criatividade.
Essa sinergia facilita a transferência de conhecimento, promove o aprendizado contínuo e fortalece a coesão da equipe. Para que isso ocorra, é necessário adotar uma abordagem empática, criando espaços onde diferentes gerações possam aprender umas com as outras e prosperar juntas.
Afinal, o futuro do trabalho será moldado pela capacidade de todos nós em nos adaptarmos e evoluirmos em conjunto.