- Em face da desinstitucionalização do trabalho, a necessidade de processos de governança (G do ESG) deixa de ser apenas corporativa
- O olhar S (Social) passa a ser mandatório nesse cenário. Como ter ideias, empreender, inventar a própria carreira sem empatia, sem entender as diferenças e a diversidade de um mundo não binário?
- E finalmente há o olhar para o meio ambiente (E), definido não somente pelos cuidados com a natureza, mas também por fatores econômicos, sociais e culturais sobre a qualidade de vida do homem, incluindo as relações humanas, formas de interagir com o meio, de se comunicar, de oferecer respeito e acolhimento
Cada vez mais, o tema ESG – sigla em inglês para a adoção de critérios ambientais, sociais e de governança – ganha relevância para o investidor na escolha de sua carteira. ESG então deve ser assunto exclusivo do mercado financeiro ou da agenda das empresas? Errado. ESG diz respeito a você, ao conceito mais amplo de sustentabilidade na sua vida e ao modelo do futuro do trabalho, que já chegou.
O emprego vem gradativamente desaparecendo. Já não há mais certeza sobre a duração de certas profissões, previsibilidade de carreira, nem caminho seguro de desenvolvimento profissional. A taxa de desemprego vem batendo recordes entre jovens no Brasil, segundo dados do IBGE, e relatórios sucessivos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam a mesma tendência no mundo. Do ponto de vista da saúde mental, o desemprego é um grande catalizador de doenças psíquicas.
Além disso, o contato físico e os limites de horário e espaço que antes conferiam concretude psicológica estão sendo substituídos por contratos flexíveis, por trabalhos remotos sem fronteiras, que apesar de darem mais autonomia aumentam o grau de incertezas. O emprego, por opção ou não, está sendo substituído pelo empreendedorismo, no qual o profissional precisa reinventar suas atividades e a si mesmo. Garantias dos direitos trabalhistas migram agora para a gestão pessoal. Inclusive a aposentadoria, cada vez mais, precisa ser autogerida.
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Por que a postura ESG passa a ser uma atitude necessária frente ao mundo em transformação? Em face da desinstitucionalização do trabalho, a necessidade de processos de governança (G do ESG) deixa de ser apenas corporativa. Num mundo no qual terceiros não cuidam mais de sua carreira, uma governança própria exige de cada indivíduo crescimento psicológico. A tão falada inteligência emocional nada mais é que uma conquista da flexibilidade psicológica, uma capacidade de governar a si próprio através do autoconhecimento, da aceitação e do autocontrole.
O olhar S (Social) passa a ser mandatório nesse cenário. Como ter ideias, empreender, inventar a própria carreira sem empatia, sem entender as diferenças e a diversidade de um mundo não binário? O movimento de autonomia e autogestão produz o risco do exagero do individualismo que leva a polarização. A única saída para a não ruptura é aumentar a cooperação.
Entre as habilidades em alta para o profissional do futuro, levantadas pelo Fórum Econômico Mundial, está a orientação para servir o cliente, que, no sentido mais amplo e eficaz, seria compreender o próximo e servir à sociedade. Do ponto de vista financeiro, a postura S (Social) é imprescindível para a felicidade coletiva, uma vez que a desigualdade é geradora de grandes conflitos, quer seja por revolta de quem sofre, ou por culpa de quem leva vantagem.
E finalmente há o olhar para o meio ambiente (E), definido não somente pelos cuidados com a natureza, mas também por fatores econômicos, sociais e culturais sobre a qualidade de vida do homem, incluindo as relações humanas, formas de interagir com o meio, de se comunicar, de oferecer respeito e acolhimento.
No mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, o risco não está no desaparecimento dos empregos, mas sim na própria inabilidade de lidar com as questões emocionais da fragilidade, da ansiedade, da não-linearidade e da incompreensão que esse cenário favorece.
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