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Colunista

Inflação emocional: quando o custo de vida desorganiza o seu futuro

O IPCA acumula alta superior a 5% nos últimos 12 meses, mas a inflação que cada um sente ainda é outra

Entenda a relação entre a inflação e o emocional (Foto: Adobe Stock)
Entenda a relação entre a inflação e o emocional (Foto: Adobe Stock)

“Quanto custa viver?” Essa pergunta, que deveria ter resposta nos números frios da economia, tem sido respondida com um aperto no peito. É que a inflação não se mede só no IPCA. Ela também se sente — no mercado, na conta do restaurante, no sonho adiado da casa própria, na frustração de quem trabalha muito e ainda assim não consegue chegar lá. E quando o bolso aperta, a mente grita.

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Disse certa vez, em uma live para o E-Investidor, que a inflação é a maior inimiga do amor. E sigo acreditando nisso. Ela não impacta apenas o orçamento — ela corrói os vínculos, desestabiliza os sonhos e envenena os relacionamentos. Quando tudo fica incerto, a previsibilidade some e o chão desaparece. A inflação embaralha o planejamento, bagunça o emocional, destrói a sensação de futuro possível e transforma qualquer conversa em conflito.

Ela não rouba só o poder de compra. Rouba também o norte, a paz e, muitas vezes, a esperança. Ela adoece a lógica do cotidiano.

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O IPCA — Índice de Preços ao Consumidor Amplo — acumula alta superior a 5% nos últimos 12 meses, segundo dados do IBGE. Mas a inflação que cada um sente ainda é outra. O índice oficial calcula uma média de preços com base em uma cesta padrão, mas ninguém consome só o que está nessa cesta. Uma família que paga aluguel e tem filhos em escola particular sente mais. Um jovem que sonha com viagens, carro, liberdade e uma carreira que o sustente também. Então, além da inflação média registrada nas estatísticas, há a inflação que varia conforme o padrão de consumo de cada um — e, mais sutilmente, a inflação percebida, que é pessoal, silenciosa e emocional.

O mais perverso é que, muitas vezes, o impacto da inflação chega atrasado à consciência de quem sente. Ela aparece sem nome: se manifesta como irritação, ansiedade, angústia e até culpa — como se o problema estivesse na pessoa, e não no cenário. Mas, na verdade, é o ambiente que está doente. E quando não conseguimos dar nome ao que nos corrói, acabamos adoecendo junto com ele.

A nova geração carrega esse peso com uma mistura de pressa e medo. Cresceram ouvindo que podiam tudo, mas agora se deparam com um mundo que cobra muito mais do que entrega. O que era considerado um “futuro promissor” se tornou um campo minado de boletos, pressão por performance e comparações cruéis nas redes sociais. A inflação dos preços se soma à inflação das expectativas. E o resultado é um sentimento crônico de insuficiência.

Os gastos aspiracionais — aqueles que não são básicos, mas que dão sentido à vida adulta — também pesam. Não estamos falando apenas de luxo, mas de dignidade. Comer fora de vez em quando, planejar uma viagem, pensar em ter um cantinho seu… tudo isso virou privilégio. E quando o que é símbolo de liberdade vira fonte de ansiedade, algo se rompe: o planejamento de futuro se encolhe, a autoconfiança oscila, e as decisões se tornam reativas.

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E, mesmo com tantos fatores fora do nosso controle, o que ainda podemos fazer diante desse cenário?

Talvez a resposta não esteja em fazer mais, mas em fazer diferente. Rever metas, reformular sonhos, entender que prosperar não é consumir — é construir. É hora de tomar decisões financeiras com o pé no presente e o olhar no que realmente importa. Planejar sem culpa, cortar sem vergonha e buscar ajuda sem medo.

Educação financeira, rede de apoio e saúde emocional são hoje tão essenciais quanto moradia e alimentação. Reconhecer limites e pedir ajuda não é fraqueza — é maturidade.

Os caminhos possíveis começam com o básico: entender para onde vai o dinheiro, evitar decisões impulsivas movidas pelo medo, conversar com pessoas de confiança — sobre finanças e sobre vida. Também exigem um olhar mais íntimo: trocar a busca por status por escolhas alinhadas aos próprios valores.

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Ganhar mais não significa apenas trabalhar mais. É sobre criar valor de forma contínua. Isso pede investimento em si mesmo: desenvolver habilidades, ampliar repertório, cultivar relações que abram portas e saber se posicionar com verdade. Quanto às reservas e economias — por menores que sejam — é fundamental protegê-las. Dinheiro parado perde valor com o tempo. Por isso, construir uma reserva, investir com critério e buscar rendimentos que superem a inflação não é luxo — é prudência.

Não se trata de seguir modismos, mas de investir com estratégia, conhecimento e sabedoria. Com intenção, consistência e visão de longo prazo, a fórmula do dinheiro no tempo pode, sim, trabalhar a seu favor. Talvez você não consiga tudo agora. Mas pode começar — com o que tem, de onde está — a construir um caminho mais estável e possível.

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