2023: entenda o cenário e onde você pode investir

Por Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa

11/01/2023 | 11:54 Atualização: 11/01/2023 | 11:54

Ações brasileiras, americanas, europeias, asiáticas e estão acessíveis a todos por meio de bancos e corretoras | Foto: Envato Elements

O ano de 2023 poderá ser um bom ano de oportunidades para os investidores do mercado de ações. Entretanto, existe uma combinação de fatores que devem ser analisados. Vale ressaltar que a Bolsa de Valores é um lugar para expectativas, ou seja, as ações se valorizam em muitos casos pela possibilidade de eventos futuros positivos ocorrerem, e por tal motivo vários investidores passam a comprar aquelas ações, ansiando por sua valorização.

Sabemos que antigamente o acesso a ações, fundos de investimentos, títulos de dívidas e outros ativos financeiros de empresas estrangeiras estava restrito aos muito ricos, aqueles com operações no exterior e os chamados investidores qualificados (com investimentos superiores a R$ 1 milhão).

O desenvolvimento das corretoras de valores, bem como a competição entre bancos, as fintechs e a internacionalização das empresas brasileiras fizeram com que o mercado financeiro nacional se transformasse, de maneira radical, nos últimos dois anos.

Hoje, o investidor mais humilde, com apenas R$ 50, consegue comprar papéis do mundo inteiro. Dentro da B3, é possível comprar os chamados BDRs – Brazilian Depositary Receipts -, que são certificados de depósito de valores mobiliários emitidos no Brasil que representam ações de emissão de companhias abertas com sede no exterior. Atualmente grandes empresas como Apple, Amazon, Mitsubishi, Nissan e L´oreal, entre outras, oferecem BDRs nesse mercado.

É possível comprar também os chamados ETFs – Exchanged Traded Funds -, que são fundos de índices, um fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação. Nesse caso, ao comprar um ETF do Ibovespa é como se você comprasse todo o índice Ibovespa em uma única ação. Já temos disponíveis no Brasil, ETFs da Nasdaq, da S&P, da DAX, da Topix e vários outros dos principais índices das bolsas mundiais.

Vale ressaltar que também temos ações de empresas brasileiras no exterior que já podem ser adquiridas no Brasil. Por outro lado, corretoras americanas e europeias abriram suas portas para clientes brasileiros. Caso alguém se interesse por comprar fundos de investimentos mundiais no exterior, isso será possível com um valor a partir de US$ 500,00, o que antigamente era acessível apenas para valores acima de US$ 100.000,00.

Existe uma discussão se esse movimento não retira das ações brasileiras os investimentos nacionais, entretanto estamos falando do mercado financeiro, que cada dia está mais globalizado e não permite mais espaço para protecionismos.

Importante ainda salientar que, ao comprar ações, títulos e índices de empresas internacionais, o investidor passa a correr um risco cambial e se expõe aos riscos nacionais dos países de origem dos ativos que ele está comprando; todavia, apesar de tudo, a diversificação com papéis estrangeiros é sempre uma excelente estratégia bastante utilizada pelo investidor estrangeiro, que agora é conhecida pelos brasileiros de modo geral. Investir no exterior sempre foi uma boa ideia e será ainda mais atraente com as turbulências econômicas do Brasil em 2023.

A economia e o novo governo

Também é importante deixar bem claro que fatores políticos influenciam diretamente na economia. É relevante contextualizar o que podemos esperar para o próximo ano. Do ponto de vista econômico, a campanha tanto de Bolsonaro quanto de Lula, mostraram duas visões completamente distintas de política econômica. O governo Bolsonaro se mostrou muito mais privatizador e liberal, onde os agentes econômicos do mercado privado eram os grandes responsáveis pela economia nacional. Já Lula sempre teve uma visão oposta, com um governo muito mais intervencionista, afirmando ser o grande motor da economia nacional.

Igor Lucena é economista e empresário (Foto: Divulgação)

Alguns especialistas acreditavam que por suas alianças durante a campanha, o governo Lula tivesse um viés mais ao centro ou à direita, mas do ponto de vista econômico, isso não está acontecendo, vemos um grande fortalecimento de ideias sobre o uso da máquina pública na economia e isso abre espaço para a compra de ações de empresas estatais com um grande desconto.

A realidade é que ambas as visões podem trazer ganhos, assim como perdas, de tal modo que a chave é achar o equilíbrio e não partir para nenhum extremo. Por isso, é fundamental acompanhar o cenário político que influencia diretamente no mercado financeiro e enxergar as oportunidades de compra e venda, lembrando sempre o foco no longo prazo.

Para os adeptos dos criptoativos, tais como bitcoin, etherium, dogecoin, entre outros, essas moedas virtuais emitidas por agentes privados se tornaram um elemento de preocupação e desconfiança para os bancos centrais por todo o mundo, seja por sua volatilidade, pela incompreensão ao determinar o real valor desses ativos, e principalmente pela possibilidade de que esses ativos possam se tornar um elemento de risco sistêmico para o sistema financeiro.

Essa realidade está cada dia mais clara e o escândalo da FTX nos Estados Unidos ascendeu a luz vermelha para o quão frágil esse ecossistema é para fraudes, corrupção e destruição de valor no mercado financeiro global. Acredito que no próximo ano esses ativos devem passar por testes duríssimos de regulação em escala global e várias outras coins e tokens devem virar pó, tornando esse mercado ainda mais arriscado e complexo.

Quem busca tranquilidade nos investimentos pode simplesmente acessar o site do Tesouro Direto e comprar um título NTN-B com vencimento para 2035 pagando IPCA + 7,2% ao ano. Você consegue sem risco algum recompor a inflação no seu investimento e receber mais 7,2% ao ano, independente do que acontecer no Brasil. É simplesmente maravilhoso para o investidor, e péssimo para os pagadores de impostos, mas é a nossa realidade e também uma oportunidade.

Ainda neste contexto, e encerrando o ano de 2022, fica aqui minha sugestão para aqueles que desejarem diversificar seus investimentos e que visam entrar no mercado de ações: a oportunidade é agora, não a deixe passar. Ações brasileiras, americanas, europeias, asiáticas e títulos de índices (ETFs) estão acessíveis a todos por meio de bancos e corretoras, principalmente agora com a inflação em alta e taxas de juros nas alturas, muitas ações estão com um preço muito abaixo do seu valor real, o que deve ser visto como uma janela imperdível para o investidor consciente.

Feliz 2023 a todos!

* Igor Macedo de Lucena é economista, empresário, doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política.

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