- Ao que tudo indica, esta será a quinta reunião seguida com corte de juros, a primeira de 2024
- O Boletim Focus aponta para uma taxa de juros encerrando o ano em 9%
- Com os EUA demorando mais para começar seu ciclo de juros, diminuiria o espaço para o Copom agir
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduzirá, ao que tudo indica, a taxa básica de juros (Selic) para 11,25% ao ano na quarta-feira (31). Será a quinta reunião seguida com corte de juros, a primeira de 2024. Se para o anúncio dessa reunião existe uma unanimidade, para a taxa final do ciclo de queda da Selic as opiniões variam bastante. Vamos analisar as duas correntes, a que enxerga um patamar de juros menor que o consenso do mercado e a que vê a Selic em um nível mais alto que a previsão.
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O Boletim Focus do BC, que colhe o sentimento de agentes do mercado, aponta para uma previsão de taxa de juros ao final de 2024 em 9% ao ano. Porém, muitos defendem que a trajetória de queda exigirá que o ciclo seja encerrado antes de dezembro de 2024. Neste caso, existem duas preocupações principais, que indicam uma postura mais cautelosa por parte da autoridade monetária.
A primeira preocupação vem da inflação doméstica. Por mais que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – medição oficial da inflação no Brasil – de 12 meses tenha surpreendido, fechando 2023 em 4,6%, abaixo do limite superior da meta de 4,75%, com uma perspectiva de retomada da demanda no varejo também deve surgir uma pressão nos preços ao longo dos próximos meses, o que frustraria a expectativa de 3,86% de IPCA para 2024.
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O segundo tema que preocupa envolve a demora dos Estados Unidos para começar seu ciclo de corte dos juros, que diminui o espaço para o Copom agir no Brasil. Se os EUA deixam os juros em 5,5% por mais tempo, cortes na Selic incentivam o fluxo de recursos para a economia norte-americana, o que desvaloriza o câmbio e estimula a inflação brasileira.
Ainda, poderíamos considerar um terceiro ponto: a trajetória das commodities agrícolas. Com os efeitos do fenômeno climático El Niño já estamos observando problemas em plantações e colheitas de safra, o que pode sustentar os preços do setor em patamares mais elevados.
Argumentos para a Selic menor
Ao mesmo tempo, existem argumentos para uma Selic menor. Nos últimos seis meses, o IPCA vem registrando uma dispersão, quantidade de itens subindo ao mesmo tempo, de 50%, a inflação de serviços rodando na média em 0,45% e a de serviços subjacentes, itens menos voláteis de serviços, em 0,27%. Patamares que indicam uma trajetória controlada dos preços, para 2024.
Na questão internacional, houve uma postura precipitada de agentes do mercado. Em 2023, investidores se viram frustrados com a taxa de juros dos Estados Unidos indo para 5,5% ao ano, quando a maior parte do mercado acreditava que o ciclo de alta seria encerrado em patamares menores. Após o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) sinalizar em novembro que encerrou o ciclo de alta das taxas, operadores se precipitaram e começaram a discutir corte de juros no primeiro trimestre de 2024.
A previsão, porém, não parece condizente com o que vem sendo dito por dirigentes do Fed. O início do ciclo de corte em maio ou junho não significa um quadro negativo. Apenas uma posição mais cautelosa do Fed.
Na visão para 2024 como um todo, em dezembro os dirigentes reduziram de 5,1% para 4,6% a projeção de juros no final do ano. Ou seja, estão mostrando mais otimismo, o que não exige que o movimento se inicie logo – situação que mitiga o argumento da desvalorização excessiva do real em 2024.
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Outro ponto importante, o ritmo de corte em 0,50 ponto porcentual por reunião joga a favor do Copom. Depois desta quarta-feira, os próximos encontros do comitê brasileiro ocorrerão em 20 de março, 08 de maio, 19 de junho, 31 de julho, 18 de setembro, 06 de novembro e 11 dezembro. Seguindo o mesmo ritmo, no final de julho a taxa estaria em 9,25% ao ano, ainda acima da previsão do Boletim Focus – e já no segundo semestre, quando os próprios dirigentes de bancos centrais o enxergam como um período de corte de juros. Ainda restariam três reuniões para seguir cortando a taxa Selic.
Historicamente, vemos o presidente do BC, Roberto Campos Neto, preferindo ciclos mais rápidos. Algo que se mostrou verdadeiro no primeiro corte, escolhendo baixar a taxa em 0,5 ponto porcentual e não em 0,25 ponto porcentual, o que sugere que o ciclo será acelerado em algum momento.
Sobre intensidade, vemos que existe uma pressão da classe política por uma Selic menor. O relatório de crédito do banco central ainda nos mostra um endividamento das famílias em 47,6% com custo médio, em crédito livre, de 54,9%. O Serasa ainda nos mostra um crescimento de 197% no número de empresas em recuperação judicial.
Por mais que o objetivo principal seja controlar a inflação, esses elementos também são avaliados na hora da decisão de juros. Sugerindo um espaço para corte maior do que os 9% precificados atualmente.
Revisão das estimativas
Pensando em investimentos, em abril de 2023 avaliamos na RB que a taxa projetada de 10% para o final de 2024 nos parecia exageradamente cautelosa. Quem seguiu a estratégia sugerida na época em renda fixa obteve 25% de rendimentos acumulados até hoje. Assim, estamos mais otimistas que o mercado, acreditando que em 2024 será possível levar a Selic para 8,5% ao ano.
Indo um pouco mais além, notamos apenas mais uma instituição financeira acreditando que a Selic irá para 7,5% ao ano no final de 2025 – o que mais uma vez nos parece uma oportunidade de ganho em renda fixa. Compreendemos os riscos, mas avaliamos que as projeções parecem mais razoáveis caminhando para um cenário favorável a uma taxa menor.
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Argumentos para reduzir mais ou menos os juros sempre estarão disponíveis aos dirigentes, o que nos leva a sair um pouco dos números e focar mais nas pessoas que tomam a decisão sobre a Selic. Atualmente nos parece que elas preferem ir para patamares menores, mesmo que isso exija uma pausa no meio do ciclo de queda dos juros.