- Por que o investidor aplica seu dinheiro de caixa, de curto prazo, em fundos que possuem um risco completamente assimétrico ao retorno que eles precisam dar?
- Não raro, tem aparecido diversas notícias sobre investidores que perderam todo ou parte considerável de seu patrimônio em aplicações assim
- Uma parte é culpa da indústria e seus incentivos perversos; outra vem da ganância dos investidores que querem ganhar um pouco mais sem se informar devidamente sobre os os riscos que estão assumindo
A pergunta é sempre a mesma. Por que o investidor aplica seu dinheiro de caixa, de curto prazo, em fundos que possuem um risco completamente assimétrico ao retorno que eles precisam dar? Muitos fundos assumem riscos que você, como investidor, não quer assumir para este tipo de aplicação e ninguém avisa, seja propositalmente, ou não. Só que, depois de um revés sério acontecer e as cotas virarem negativas, vem as desculpas e explicações e o famoso “mas estava no mandato” do gestor. O regulamento do fundo dizia isso e aquilo e você não leu.
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Não raro, tem aparecido diversas notícias sobre investidores que perderam todo ou parte considerável de seu patrimônio em aplicações assim. O risco pode chegar a um ponto em que, além de o investidor perder tudo o que tinha, precisa aportar mais recursos para cobrir os prejuízos do fundo. Tudo isso se encontrava nas inúmeras páginas escritas a letras miúdas no regulamento que, obviamente, ninguém lê. Assim, são passados cheques em branco por pessoas físicas desavisadas a gestores ousados e, quando o problema surge, pode ser tarde demais.
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Recursos para liquidez de uso contínuo, ou parados temporariamente enquanto estão entre investimentos mais específicos, precisam, além de estarem à disposição, não sofrerem qualquer tipo de interferência mais arriscada de curto prazo relevante. Desta forma, não faz nenhum sentido alocar recursos de curto prazo em fundos que tenham crédito privado corporativo em seus portfólios.
Casos recentes
Os eventos de Light (LIGT3) e Americanas (AMER3) ocorridos neste ano de 2023, além de outros que acontecem religiosamente todos os anos há muito tempo, deixam clara a assimetria de risco versus retorno do crédito privado corporativo.
Na história recente, temos, pelo menos, um evento por ano que destrói as reservas dos incautos, que são levados a acreditar que pulverização de portfólios de crédito corporativo podem resolver todos os problemas de qualidade e de mercado que podem existir. Tais situações já demonstraram repetidas vezes para os investidores que querer ganhar um pouco mais, porém assumindo um risco de perda muito maior, sem saber exatamente qual é e que podem suportar, não costuma dar certo.
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Mesmo assim, a indústria continua fazendo marketing e vendendo este tipo de produto para investidores não devidamente qualificados e desavisados. São fundos, na maioria das vezes, caros, com taxas altas de gestão e performance, justamente porque controlar crédito corporativo é trabalhoso, precisa de gente, sistemas e processos que, não raramente, nem a melhor estratégia de diversificação resolve. Uma parte relevante do ganho destes fundos, portanto, fica com a própria gestora. E a maior parte do risco, com o investidor.
Quantos fundos com crédito privado corporativo, com resgate curto, utilizados e vendidos como sendo para alocação de curto prazo deram problema para os investidores nos últimos 12 meses? Dezenas. Mas como ninguém controla isso e faz uma lista, avisa e mostra os problemas que teve, tais aplicações continuam contando com a ignorância dos investidores e vendendo como se o histórico deste tipo de produto fosse impecável. E não é.
São fundos cujo portfólio costuma ter um duration (prazo médio para recuperar o investimento realizado na compra do ativo) muito maior que o prazo de resgate e não deixam os riscos de crédito claros para quem investe. São vendidos como produtos cujo risco é controlado pela diversificação, mas propositalmente não dão detalhes. Falam de risco estatístico e diversificação. Na prática, como já se viu, quando existe um problema, tais variáveis nunca resolvem. No final, simplesmente a verdade é que não possuem transparência necessária e para os investidores alocarem seus recursos de curto prazo e dormirem tranquilos.
A culpa é de quem?
Uma parte é culpa da indústria e seus incentivos perversos que, em alguns casos, mais prejudicam os investidores do que ajudam. Mas uma parte é a ganância dos investidores que querem ganhar um pouco mais, sem atentar para os riscos que estão assumindo e sem ter informação crível deste problema para uma melhor decisão.
Risco não é um conceito absoluto. Se perguntarmos para dez pessoas numa sala o que é risco, teremos dez respostas diferentes. E justamente este problema conceitual pode levar a decisões muito erradas. Eu tenho um jeito de definir risco que pode ser usado na maior parte dos casos: é aquilo que acontece depois de você ter previsto tudo que podia acontecer.
E em crédito privado corporativo, muito mais coisa pode acontecer que qualquer investidor tenha capacidade de prever.
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