De olho nos fundos de investimento

Dan Kawa é economista e especialista em fundos de investimento. Graduado em Ciências Econômicas pela PUC-Rio, atua no mercado financeiro desde 2003. Dan foi sócio da TAG Investimentos e atuou nas maiores gestores independentes do País como Gap Asset Management, Bank of New York Mellon ARX Investimentos, FLAG Asset Management e Icatu Vanguarda.

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Dan Kawa

Este é o ano dos fundos multimercados macro?

Os fundos locais têm conseguido captar de maneira positiva a alta de juros nos EUA e a queda do dólar

Encerramos o primeiro trimestre de 2022 com uma grata surpresa vinda do desempenho dos fundos multimercados macro. Foto: Envato Elements
  • Os fundos multimercados são produtos capazes de utilizar-se de uma ampla gama de classes de ativos e instrumentos financeiros, com o objetivo de buscar rentabilidades acima de seus benchmarks, com consistência e volatilidade controlada, ao longo do tempo
  • Este ano, com o começo de um processo de normalização monetária no mundo, observamos um aumento mais estrutural da volatilidade de várias classes de ativos e aumento dos prêmios de risco

Os fundos multimercados são produtos capazes de utilizar-se de uma ampla gama de classes de ativos e instrumentos financeiros, com o objetivo de buscar rentabilidades acima de seus benchmarks (em sua maioria o CDI), com consistência e volatilidade controlada, ao longo do tempo.

De maneira geral, a utilização de fundos multimercados nos portfólios de investimentos busca trazer alguma descorrelação em relação à direção e à volatilidade de ativos como a renda variável e a renda fixa. Nos EUA, os hedge funds e os fundos alternativos cumprem este papel que os multimercados desempenham no Brasil.

A história dos fundos multimercados locais, na média, mostra que muitas vezes atingir este mandato não foi tarefa fácil, com períodos longos e tortuosos de correlação alta com os ativos brasileiros e/ou longos períodos de desempenho ruim.

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No Brasil, os multimercados “clássicos” eram fundos que buscavam se apropriar de grandes tendências macroeconômicas, em ativos como o câmbio, a renda fixa e a renda variável. Estes fundos ficaram conhecidos como fundos macro e dominaram a classe de multimercados por diversos anos no país.

Conforme o mercado local foi se desenvolvendo e se tornando mais maduro, surgiram outras sub-classes de multimercados. Fundos long-shorts, que buscam gerar retornos em estratégias de valor relativo no mundo de ações, porém sem exposição direcional; Fundos quantitativos, que se utilizam de modelos matemáticos em busca de retornos; Fundos long-bias, que além de uma estratégia long-short, também se utilizam de exposição direcional; e assim sucessivamente.

Muitos desses produtos tiveram enormes dificuldades de entregar os seus mandatos em um mundo com liquidez alta, juros baixos no mundo desenvolvido e problemas idiossincráticos no Brasil ao longo dos últimos anos.

Contudo, encerramos o primeiro trimestre de 2022 com uma grata surpresa vinda do desempenho dos fundos multimercados macro. É sempre difícil generalizar uma classe de ativo tão ampla e diversa, com gestores com perfis tão diferentes. A título de simplificação, e correndo o risco de fazer injustiças com alguns (poucos), falarei aqui no plural.

O mundo passou por um longo período de volatilidade baixa, onde os bancos centrais suprimiram prêmios de risco e distorceram de maneira não desprezível o preço de diversas classes de ativos.

Nos EUA e na Europa, este pano de fundo praticamente dizimou os hedge funds macro. Com taxas de 2%/20%, juros zero, sem volatilidade e poucas tendências claras (exceto pela continua alta do mercado de ações, focado em Growth e Tech) esses gestores acabaram ficando marginalizados. Hoje, de uma indústria de hedge funds que beira US$ 1 tri, cerca de 5% podem ser classificados como Macro.

No Brasil, onde a volatilidade dos ativos é muito maior, mas as tendências costumam ser bem mais curtas e acentuadas, a classe de multimercados macro passa por ciclos que tendem a ser curtos em termos de performance e, consequentemente, em termos de captação.

Aqui, estou generalizado. Existem alguns poucos capazes de apresentar retornos satisfatórios e consistentes no tempo. Por retornos satisfatórios, classifico aqueles em que os clientes conseguem captar o percentual mais relevante dos ganhos, e não o contrário (o gestor).

Este ano, com o começo de um processo de normalização monetária no mundo, observamos um aumento mais estrutural da volatilidade de várias classes de ativos e aumento dos prêmios de risco. Vejo este cenário como estrutural e não se revertendo tão cedo.

Os fundos locais têm conseguido captar de maneira positiva a alta de juros nos EUA, a queda do dólar no Brasil e alguns movimentos na bolsa local.

Ainda espero um ano volátil, com o surgimento de novas teses de investimentos. Ao que parece, os fundos multimercados macro e os hedge funds macro parecem bem posicionados para este novo ambiente. Como sempre, a seleção de gestores será fundamental neste processo.