- No Brasil, o governo continua anunciando medidas que visam dar um alívio da inflação à sociedade, ao custo de alguma piora fiscal à frente
- No cenário internacional, a inflação no mundo e a necessidade de normalização monetária continuam sendo os dois principais vetores de direcionamento do cenário e dos mercados
“Uma margem de segurança é alcançada quando os títulos são comprados a preços suficientemente abaixo do valor subjacente para permitir erro humano, má sorte ou extrema volatilidade em um mundo complexo, imprevisível e em rápida mudança.”
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Seth Klarman
Maio foi marcado por uma elevada volatilidade no preço dos ativos de risco. Após uma primeira quinzena de forte pressão, observamos uma recuperação dos mercados ao final do mês.
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Em junho, gostaria de fazer uma breve atualização de cenário, indo um pouco mais a fundo em como está nossa visão para os mercados.
No Brasil, o governo continua anunciando medidas que visam dar um alívio da inflação à sociedade, ao custo de alguma piora fiscal à frente.
Tenho uma visão menos negativa do que a média para o cenário econômico local. Acredito que, a despeito de uma inflação ainda alta, estamos próximos do fim do ciclo de alta de juros. O crescimento está (na margem) mais positivo do que o imaginado e a situação fiscal corrente ainda é “saudável”, a despeito dos riscos futuros.
Além disso, já há enorme prêmio de risco e margem de segurança no valuation dos ativos locais.
No cenário internacional, a inflação no mundo e a necessidade de normalização monetária continuam sendo os dois principais vetores de direcionamento do cenário e dos mercados.
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Não vejo mudanças nessa frente e, no geral, os dados correntes corroboram a necessidade de continuidade do ciclo de aperto monetário.
A guerra na Ucrânia é outro ponto em que não há avanços ou alterações de perspectiva. O conflito no país exerce pressão altista na inflação e baixista no crescimento.
Alguns indicadores incipientes apontaram para alguma desaceleração da economia americana. Ainda é cedo para termos conclusões mais concretas em relação a essa desaceleração, mas certamente é um vetor que gera desconforto no mercado e precisa ser monitorado.
Por fim, mas não menos importante, há a pandemia e a desaceleração do crescimento chinês. O governo vem tentando promover alguma abertura mais estrutural de sua economia, ao mesmo tempo em que anuncia medidas mais proativas e agressivas de suporte ao crescimento.
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Além disso, há sinais de que a “caçada regulatória” às empresas de tecnologia tenha chegado ao seu final, com alguma reversão ou alívio de medidas.
Com isso, aumenta a expectativa de uma melhora no cenário de curto prazo para o crescimento do país.
Acredito que a pandemia na China representava (ou representa) um dos vetores de pressão no mercado. O seu endereçamento pode vir a retirar uma parte dos prêmios de risco que vinham sendo embutidos nos ativos de risco.
De qualquer forma, a inflação no mundo, a redução de liquidez global e o risco de desaceleração do crescimento nos EUA ainda são os principais temas a serem monitorados. Nenhum deles apresentaram mudanças substanciais de perspectivas nas últimas semanas.
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Quando estruturamos nossos portfólios, iniciamos nosso processo olhando para o cenário econômico, em um fluxo que chamamos de “top-down” ou de cima para baixo. Está é a primeira etapa do processo de análise. Uma vez que tenhamos identificado o cenário base, em que nossas posições centrais estarão concentradas, tratamos de mapear eventuais riscos, positivos ou negativos, que podem vir a afetar nossas carteiras e, eventualmente, precisam de posições para compor nossos portfólios.
Contudo, a análise profunda do cenário econômico central e seus riscos é apenas o passo inicial desse processo. Uma segunda etapa fica por conta da análise de preços, valuations e posição técnica.
De nada adianta, por exemplo, estarmos negativos com o cenário, mas os preços já embutirem uma perspectiva ainda pior, mais negativa do que a nossa visão. Isso também vale para os cenários positivos. Por isso a análise de posição técnica, preços e valuations é tão importante neste processo.
No início de ano, a despeito de ainda trabalharmos com um cenário desafiador para o Brasil, víamos uma posição técnica mais saudável depois da forte correção de preços e valuations verificada no segundo semestre do ano passado. Isso explica por que mantivemos nossas posições, especialmente em renda variável e câmbio, em patamar neutro, e não abaixo da média.
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No caso do cenário internacional, víamos uma deterioração galopante do cenário, com preços, valuations e posição técnica pouco saudáveis, especialmente nos EUA. Assim, ao longo do tempo, mantivemos posições abaixo da média e, em alguns casos, fomos reduzindo ainda mais essas alocações, especialmente no mercado de renda variável.
Nosso cenário, no geral, não sofreu grandes alterações. Os preços dos ativos de risco já mostraram alguma correção, especialmente nos ativos internacionais. Ainda esperamos um ano de elevada volatilidade, onde precisaremos ser mais ativos na administração de nossos portfólios. A diversificação torna-se ainda mais importante em momentos como o atual.
Alguns ativos de risco já apresentam margem de segurança razoável, para não dizer elevada, mas o investidor precisará ter paciência e “estômago”, pois ainda vislumbro bastante volatilidade e turbulência para os próximos meses.