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- A alta de 0,9% no mês de abril, no núcleo da inflação americana, maior alta mensal da história, certamente está distorcida por questões pontuais
- Em linhas gerais, a “reflação” (“reflation” no termo em inglês) era um tema dominante no início do ano que não foi esquecido, mas ficou adormecido por algumas semanas, após uma acomodação das taxas de juros no mundo desenvolvido e novas “ondas” da pandemia nos países emergentes
- O Brasil será refém do cenário externo, uma vez que somos uma economia alavancada e sem sinais consistentes de ajuste
Nos últimos dias os mercados financeiros globais foram atingidos pelo medo de uma alta mais rápida e acentuada da inflação nos EUA.
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A divulgação de um Core CPI – o equivalente ao Núcleo do IPCA do Brasil nos EUA – muito acima das expectativas acabou levando a um momento de forte pressão nas bolsas globais, lideradas pelos setores mais dependentes de juros baixos, como o de tecnologia, no mundo e no Brasil.
Este momento foi ainda marcado por um dólar forte e por uma abertura generalizada de juros ao redor do mundo.
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As bolsas, no geral, vinham em uma tendência de forte alta, quase que ininterrupta, desde o auge da pandemia, em março do ano passado. Os níveis e os “valuations”, em geral, eram (e ainda são, em alguns casos) elevados.
O dólar já apresenta uma trajetória menos direcional e vem operando em bandas um pouco mais largas nos últimos meses, à mercê de notícias de curto prazo e fluxos pontuais.
O mercado de juros apresentava uma dinâmica, talvez uma tendência, de abertura de taxas que apenas nos últimos dois meses apresentou alguma acomodação. O mesmo não pode ser dito sobre as commodities, que vinham em um claro movimento de alta, também sustentada por problemas de oferta e quebras nas cadeias produtivas global devido a pandemia.
Em linhas gerais, a “reflação” (“reflation” no termo em inglês) era um tema dominante no início do ano que não foi esquecido, mas ficou adormecido por algumas semanas, após uma acomodação das taxas de juros no mundo desenvolvido e novas “ondas” da pandemia nos países emergentes.
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A inflação de hoje nos EUA, aliada a sinais cada vez mais evidentes de pressões inflacionárias no mercado de trabalho e na cadeia produtiva global, em vários setores da economia, apenas retoma o tema de “reflação” no mundo.
O Núcleo da Inflação mais alto é apenas mais um sintoma, dentro vários outros que ficam a cada dia mais evidentes, de que podemos estar diante de um cenário mais inflacionário pela frente.
A alta de 0,9% no mês de abril, no núcleo da inflação americana, maior alta mensal da história, certamente está distorcida por questões pontuais. O preço de carros usados apresentou alta de 10% no mês, puxado pelo aumento da demanda (com a reabertura econômica do país) e pela menor oferta de carros novos, devido à falta global de “chips”, importante componente para a produção de automóveis.
Contudo, há sinais claros de espalhamento da inflação para outros vetores da economia. O mercado de trabalho, por exemplo, acumula sinais e evidências anedóticas de aperto e pressão por maiores salários.
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Até agora, era reconfortante ouvir do Fed que a inflação seria transitória. Chegará um momento (ou chegou o momento) em que o mercado poderá se sentir desconfortável com essa sinalização e essa postura, acreditando que o Banco Central está cometendo um erro de política monetária.
Por outro lado, o mercado já vive há décadas sem uma experiência concreta de inflação nos EUA. Então, não será de um dia para o outro, ou apenas depois de uma única evidência, que este cenário irá se entrincheirar no preço dos ativos. Isso levará tempo e novos dados econômicos.
Nada disso seria problema se os preços e “valuations” dos ativos estivessem ajustados para esses riscos inflacionários, mas muitos ativos negociavam com “dinâmica de bolha” (SPACs, Tesla, Bitcoin, Ark ETF, entre outros) e começam, agora, a voltar para outros níveis mais racionais.
O Brasil será refém do cenário externo, uma vez que somos uma economia alavancada e sem sinais consistentes de ajuste. O país apresenta características que o ajudam a se blindar de um ambiente como este.
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Uma delas é a grande participação das empresas de commodities em nossa bolsa, um setor que acaba sendo ajudado por este ambiente descrito acima. Por sermos exportadores de commodities, a alta de preços ajuda também nosso balanço de pagamentos e, consequentemente, nossa moeda.
Na contramão desses vetores positivos, já convivemos com uma inflação mais elevada, o que tem obrigado o Banco Central a continuar um processo de normalização de nossa taxa de juros.
Os ativos locais continuam embutindo, corretamente, prêmios elevados de risco, devido a nossa situação fiscal, as incertezas políticas e um cenário externo cada vez mais incerto.
De maneira geral, espero um cenário de maior volatilidade pela frente. Ainda não vejo o mercado internacional em uma mudança de tendências para baixo (com quedas de 15% a 20% no curto-prazo), mas não me surpreenderia com realizações pontuais (como quedas entre 5% e 15% dos índices norte-americanos).
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Cada vez mais estou convicto de que o momento demanda parcimônia, paciência e maior diligência na seleção das classes de ativos para os portfólios, assim como para os gestores e fundos que irão compor nossas carteiras de investimentos.