O BRICS, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou, em 24 de agosto, sua expansão com a formalização do convite a novos países a se tornarem membros: Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Leia também
Essa expansão representa uma mudança importante para o bloco, que passa a ser mais diverso, globalizado, e com maior protagonismo no comércio mundial, promovendo mudanças macroeconômicas relevantes no longo prazo.
É interessante que você, como investidor, compreenda um pouco as variáveis envolvidas e por que isso mexe com o mercado. Dependendo de sua estratégia de investimentos, manter no radar as movimentações em torno do tema pode ajudá-lo a avaliar futuros ajustes de rota em seu planejamento de médio e longo prazo.
Mudanças geopolíticas são eventos de peso na economia mundial
Os mercados cada vez mais globalizados e altamente tecnológicos tornaram exponencial a força com que o capital transita entre nações, com grandes investidores migrando de um mercado a outro em busca de oportunidades. Isso não é novidade, porém a expansão de um bloco econômico com as características do BRICS coloca em pauta possíveis mudanças na correlação de forças entre países, mediante novas parcerias comerciais.
Publicidade
Reordenamentos geopolíticos de tamanha grandeza sempre impactam o câmbio, a balança comercial dos países, o resultado de empresas exportadoras, setores da economia e, consequentemente, as projeções que agentes econômicos do mundo todo realizam diariamente para tomar decisões de investimento nos mais variados mercados.
O impacto no mercado financeiro brasileiro
Os países convidados a integrar o Brics ainda precisam formalizar seu aceite, mas isso é dado como certo, porque todos já aspiravam essa entrada há algum tempo, dadas as perspectivas positivas para suas economias em decorrência de sua integração ao bloco.
Tão logo a nova configuração do bloco econômico esteja consolidada, é possível que a bolsa de valores apresente alguma volatilidade no curto prazo, até que fique clara a correlação de forças políticas e as questões de ordem prática, como, por exemplo, a desvinculação do dólar para o comércio entre países do bloco, agendas de cooperação, acordos comerciais, etc.
No médio e longo prazo, o aumento do volume de comércio entre o Brasil e os países membros do BRICS pode beneficiar as exportações brasileiras, considerando a provável fluidez que o bloco pode gerar com a ampliação de mercados consumidores, o que certamente irá estimular o crescimento econômico. Além disso, a cooperação tecnológica pode tornar o Brasil mais competitivo no cenário internacional.
Um ponto de destaque é a relevância que o bloco alcança, quando pensamos em recursos naturais, potencializando o acesso facilitado dos países membros a bens de produção derivados de petróleo, produtos químicos e fertilizantes, o que pode significar, no longo prazo, incremento de negócios brasileiros no setor de commodities.
Um novo núcleo de convergência geopolítica
É fato que inúmeras questões políticas em cada um dos países convidados para o BRICS perpassam as decisões que devem acontecer nos próximos meses, e os efeitos práticos disso, em termos de crescimento econômico, em parte, ainda são difíceis de dimensionar.
Publicidade
O BRICS ainda carece de avanços quanto à institucionalização mais ampla e, para tal, esbarra em questões como trajetórias de crescimento econômico desiguais e ausência de princípios ideológicos comuns que assegurem sua influência concreta enquanto bloco econômico dentro da ordem mundial, sem que os entraves diplomáticos ligados às questões nacionalistas de cada um de seus membros torne o bloco um ente disfuncional.
A maioria das análises ainda vê com cautela o potencial que o novo bloco pode realmente exercer comercialmente frente à força hegemônica do G7 e do G20, no sentido de consolidar novos sistemas econômicos. Contudo é inegável que, superadas questões políticas e de governança, a nova configuração do BRICS tem potencial para reescrever os rumos do comércio internacional, já que o bloco passa a concentrar mais de 35% do PIB global em termos de Paridade do Poder de Compra (PPC) e quase 46% da população mundial.
Além disso, o BRICS torna-se o grande detentor global das reservas de petróleo, gás natural e produção agrícola mundial, e essa hegemonia estratégica em commodities pode redesenhar a geopolítica global.
A economia brasileira ganha ou perde?
Ainda é precoce fazer qualquer afirmação definitiva quanto às vantagens ou desvantagens que o Brasil pode ter a partir dessa nova configuração do BRICS. É possível inferir que, do ponto de vista da relevância política dentro do bloco, a tendência é de alguma perda de protagonismo, principalmente para Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Por outro lado, no âmbito do crescimento econômico, há grande potencial de expansão de mercados, especialmente para o agronegócio e a economia verde. Imagino que já seja possível vislumbrar o Brasil se consolidando como grande exportador de commodities de energia sustentável, apesar do longo caminho que ainda temos a percorrer quanto à descarbonização e sustentabilidade para nossas indústrias.
Publicidade
O Brasil é um dos grandes players mundiais na produção de commodities, e a perspectiva de novas parcerias comerciais sinaliza boas oportunidades para investimentos neste setor, cujas empresas listadas podem ter suas ações valorizadas, a depender de como vão evoluir as tratativas.
Reforço, porém, que tudo isso ainda está no campo das expectativas e a consolidação do bloco ainda tem um complexo percurso que precisa ser acompanhado com atenção. O fato é que estamos vivendo um momento importante da história, em que um possível redesenho da ordem mundial pode reorganizar também a forma como planejaremos nossos investimentos de longo prazo. É aguardar para ver.