- A análise histórica da rentabilidade do CDI revela que o Brasil tem mantido uma performance sólida na renda fixa
- A taxa Selic alta favorece os retornos dos investimentos em renda fixa, mas tem consequências negativas para outros setores da economia
- Em 2024, a rentabilidade de 6,09% reforça a percepção de que o mercado brasileiro é uma opção atraente para quem busca estabilidade e segurança
O gráfico abaixo ilustra a rentabilidade anual do CDI de 1º de janeiro a 29 de julho entre 2000 e 2024. Neste ano, a rentabilidade dos sete primeiros meses do ano é de 6,09%. Este valor pode parecer modesto à primeira vista. Porém, ele revela uma característica intrigante do mercado financeiro brasileiro: a solidez e a consistência da renda fixa.
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Olhando a série histórica, verificamos que o desempenho da renda fixa em 2024 está longe da liderança. Ao contrário: só em oito desses 24 anos a variação do CDI foi inferior os 6,09% acumulados.
Isso sublinha a resiliência e a atratividade da renda fixa no Brasil, mesmo em cenários de instabilidade econômica global. A solidez da rentabilidade é explicada pela política monetária apertada. A taxa Selic, definida pelo Banco Central (BC) e que na prática baliza o CDI, exerce um papel fundamental no comportamento dos investimentos de renda fixa.
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Análise dos períodos com rentabilidade inferior à de 2024
Os anos em que a rentabilidade do CDI foi inferior a 6,09% são marcantes e refletem diferentes contextos econômicos:
– 2010 (5,14%): O Brasil estava se recuperando da crise financeira global de 2008-2009. A economia ainda estava ajustando suas políticas para lidar com os impactos da crise.
– 2012 (5,23%): O crescimento econômico desacelerou após o auge do boom das commodities, e o país começou a enfrentar desafios internos de inflação e crescimento.
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– 2013 (4,10%): O cenário econômico foi marcado por incertezas e uma inflação alta, o que levou a um desempenho fraco do CDI.
– 2014 (5,87%): Com uma economia em desaceleração, o Brasil enfrentou uma série de problemas estruturais, além de incertezas políticas.
– 2018 (3,68%): O ano foi marcado por incertezas políticas devido às eleições presidenciais e uma recuperação econômica lenta após a recessão de 2015-2016.
– 2019 (3,61%): A continuidade de um crescimento econômico fraco e a redução gradual da taxa Selic reduziram a rentabilidade do CDI.
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– 2020 (1,93%): A pandemia causou uma crise global sem precedentes, afetando severamente a economia mundial e a brasileira. O resultado foram juros baixos no mundo, e a Selic não foi exceção.
– 2021 (1,62%): A recuperação lenta e gradual da economia após a pandemia manteve a taxa Selic baixa, refletindo em uma rentabilidade do CDI reduzida.
Perspectivas para a reunião do Copom
Na quarta-feira (31) encerrou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de julho. Como amplamente esperado pelo mercado, a Selic permaneceu inalterada em 10,50% ao ano. Nas duas reuniões anteriores, em maio e em junho, o Comitê alterou a trajetória dos juros. Após sete cortes consecutivos de meio ponto percentual, na reunião de maio houve um corte menor, de 0,25 ponto percentual. Os juros permaneceram em 10,50% na reunião de junho.
As perspectivas para mudanças nos juros não são imediatas. O Relatório Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central, revela uma deterioração significativa das expectativas. A edição mais recente mostra uma projeção para a inflação de 2024 de 4,05% e uma estimativa de R$ 5,30 para o dólar em dezembro. E na divulgação de inflação mais recente, o IPCA-15 de julho indicou uma inflação acumulada de 4,45% em 12 meses, apenas cinco pontos-base abaixo do teto da meta de inflação, que é de 4,50%.
Esse cenário de inflação e câmbio pressionados é influenciado por fatores tanto internos quanto externos, como a dificuldade do governo em aprovar novas fontes de financiamento e as altas taxas de juros nos Estados Unidos.
Considerações adicionais
É crucial considerar os desafios que essa taxa de juros elevada pode trazer para os investidores, para os empresários e para o próprio governo. A taxa Selic alta favorece os retornos dos investimentos em renda fixa, mas tem consequências negativas para outros setores da economia. Em particular, a baixa volatilidade do Ibovespa combinada com o volume financeiro em queda na bolsa brasileira são sinais preocupantes. Esses fatores indicam um mercado de ações menos dinâmico e uma possível retração no apetite dos investidores por ativos de maior risco.
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Adicionalmente, o cenário internacional também influencia o comportamento dos investidores. A taxa de juros americana, que está em alta, tem atraído investimentos para o mercado dos Estados Unidos, oferecendo retornos competitivos com risco percebido menor. Isso pode desviar fluxos de capital que, de outra forma, seriam direcionados ao mercado brasileiro.
A Influência da indústria de fundos
Outro fator importante a ser considerado é a alocação dos ativos pela indústria de fundos brasileira. Atualmente, 85% do patrimônio está alocado em renda fixa, 4,7% em investimentos no exterior e apenas 7,7% em renda variável. Essa configuração reflete uma preferência clara por investimentos seguros e previsíveis, que os juros elevados tendem a reforçar cada vez mais. Essa predominância contribui para a baixa liquidez no mercado de renda variável e sustenta a robustez da renda fixa, mesmo em períodos de incerteza econômica.
Conclusão
A análise histórica da rentabilidade do CDI até julho de cada ano desde 2000 revela que o Brasil tem mantido uma performance sólida na renda fixa, com a taxa Selic desempenhando um papel crucial na sustentação desses retornos. Em 2024, a rentabilidade de 6,09% reforça a percepção de que o mercado brasileiro continua sendo uma opção atraente para investidores que buscam estabilidade e segurança em seus portfólios.
Entretanto, é necessário observar os desafios que acompanham essa solidez. A taxa Selic elevada pode prejudicar outros setores da economia e reduzir a atratividade do mercado de ações, enquanto as altas taxas de juros nos Estados Unidos podem desviar investimentos do Brasil. Esses fatores destacam a complexidade do cenário econômico atual, onde a busca por equilíbrio entre segurança e rentabilidade se torna cada vez mais crucial.
Com um mercado de renda fixa robusto, o Brasil se consolida como “O País da Renda Fixa”, proporcionando alternativas seguras e rentáveis para os investidores, mas exige atenção aos desdobramentos do cenário global e suas implicações.