- Investidor deve analisar saúde financeira e potencial de crescimento das companhias a se investir
- Muitas vezes, distribuir dividendos maiores não é sinônimo de ser mais rentável ou lucrativo
- É preciso, sobretudo, comparar os dividend yelds (DY) das ações: quanto maior o DY, mais rentável é a ação
O pagamento de dividendos ou de juros sobre capital próprio (JCP) pelas companhias listadas na B3 são alguns dos fatores considerados pelos investidores na hora de decidir onde investir seu dinheiro. Para muitos, a recorrência de tais distribuições traz certa previsibilidade, algo encarado como positivo, principalmente por aqueles que desejam viver de renda. Vale, no entanto, um questionamento: investir em uma empresa que paga bons dividendos é, necessariamente, uma boa opção de investimento?
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Há controvérsias a serem analisadas. Trago aqui uma comparação que nos ajudará a responder a essa pergunta e, ainda, enxergar os pontos cegos de uma análise mais superficial. A título de comparação, vamos olhar para a distribuição de dividendos da Vale (VALE3) e do Banco do Brasil (BBAS3) ao longo dos últimos 12 meses. Qual investimento apresenta melhor desempenho?
De acordo com os dados coletados na plataforma do TradeMap, nesse período, a VALE3 distribuiu R$ 5,69 por ação, enquanto BBAS3, R$ 4,31. A princípio, poderíamos dizer que o papel da Vale é mais rentável do que do Banco do Brasil, uma vez que pagou mais dividendos, mas isso não é necessariamente verdadeiro. E mostro a seguir o porquê.
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Para uma análise mais precisa, temos de olhar primeiro para o dividend yield (DY), indicador que mede o rendimento de uma ação a partir do pagamento de dividendos e que representa uma parcela do lucro líquido que as empresas costumeiramente distribuem a seus acionistas. Para calculá-lo, dividimos o valor dos dividendos por ação – pagos ou projetados pela companhia durante determinado período – pelo preço unitário do papel antes da distribuição. Multiplicamos então o resultado dessa divisão por 100. Na teoria, quanto maior esse número, mais proventos são distribuídos.
Pois bem, voltando para o exemplo concreto: os investidores que há um ano – em 10 de abril de 2022, mais precisamente – adquiriram uma ação da Vale, pagaram por ela R$ 95,15. Já os que optaram pelo papel do Banco do Brasil, tiveram de desembolsar R$ 34,85 por ação. Isso se reflete em um dividend yield de 5,98% para VALE3 e de 12,36% no caso de BBAS3. Logo, ainda que os proventos do Banco do Brasil sejam nominalmente inferiores aos pagos por ação da Vale, o retorno a seus acionistas foi significativamente superior.
Para ilustrar melhor essa relação, consideremos dois investimentos hipotéticos de R$ 10.000 cada, ambos realizados no dia 10 de abril de 2022. Passados 12 meses, o investidor que aplicou seus recursos em ações da Vale terá recebido proventos da ordem de R$ 598, já o que investiu no Banco do Brasil, terá visto seu patrimônio crescer em R$ 1.236.
As armadilhas
Como podemos observar, dividendos ou JCPs elevados não são, necessariamente, sinônimo de bons investimentos. Na escolha, para além do valor nominal dos proventos, o investidor deve se atentar também ao quanto precisa investir para obter determinado retorno. E vale ainda uma ressalva adicional: um dividend yield elevado pode também refletir quedas bruscas no preço das ações de uma determinada empresa, mascarando um desempenho ruim.
Para uma análise mais abrangente, levantamos junto à plataforma do TradeMap os papéis da carteira do Ibovespa – 16, no total – que distribuíram pelo menos R$ 2 em dividendos por ação nos 12 meses anteriores ao dia 10 de abril de 2023 e, com base nesse histórico, projetamos a distribuição de proventos em 12 meses. Para esse cálculo, vale acrescentar, consideramos a política de distribuição de dividendos hoje em voga para cada uma dessas companhias.
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No grupo de papéis selecionados, apenas duas ações teriam dividend yield inferior ao já registrado. Com um papel a R$ 39,04, BBAS3 possui hoje um valor superior ao do dia 10 de abril de 2022. Com isso, naturalmente, temos um DY projetado menor – de 11,04%, ante aos 12,36%. A mesma coisa acontece com a ação da BB Seguridade, cujo DY projetado de 8,40% é inferior aos 11,09% dos últimos 12 meses – isso graças ao aumento do valor de sua ação.
Na contramão, temos a ação da JBS, que nos últimos 12 meses teve um dividend yield de 5,16% e o vê crescer para 11,65% nos próximos 12 meses – não por um volume maior de dividendos distribuídos, mas pela queda brusca no valor de sua ação de lá pra cá.
Embora o rendimento de dividendos possa ser um fator importante a ser considerado, ele não deve ser avaliado isoladamente, pois pode mascarar um desempenho ruim. É importante que o investidor observe a saúde financeira da empresa e seu potencial de crescimento antes de tomar qualquer decisão de investimento.
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