O "lado B" do mercado

Einar Rivero é Consultor de dados financeiros de mercado. Engenheiro por formação, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de importantes plataformas de informação financeira. Está nas redes sociais como @einarrivero no Instagram e no Twitter e, ainda, como @einar-rivero, no LinkedIn.

Einar Rivero

Empresas TOP 3 da Bolsa têm queda histórica, mas JBS (JBSS3) surpreende

O grupo seleto de três empresas foi responsável por quase 10% do PIB do País

(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
  • A Petrobras, JBS e Vale são as companhias que registraram as maiores receitas anuais entre 2010 e 2023
  • Somente no ano passado, as três companhias acumularam, juntas, uma receita de R$ 1,08 trilhão
  • A participação das TOP3 no PIB sofreu entre 2022 e 2023, contudo, a maior queda registrada desde 2010

No universo financeiro, quase tudo é questão de ponto de vista. Um dado que, visto de longe, parece positivo, pode esconder um ônus que surpreende o leigo. Uma má notícia, por sua vez, pode trazer, nos detalhes, boas oportunidades de negócio. Investir bem é treinar esse olhar multifacetado, capaz de enxergar e articular diferentes versões para uma mesma história.

Um bom exemplo disso é o desempenho das três maiores empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira: Petrobras (PETR3. PETR4), JBS (JBSS3) e Vale (VALE3). Essas são as companhias que registraram as maiores receitas anuais entre 2010 e 2023.

O PIB brasileiro no ano passado atingiu R$ 10,8 trilhões. E as TOP 3 da Bolsa acumularam, juntas, uma receita de R$ 1,08 trilhão. Ou seja, um grupo seleto de três empresas foi responsável por quase 10% do produto interno bruto da economia do País.

Trajetória em queda

Apesar desse número impressionante, o desempenho das empresas está em baixa. A participação das TOP 3 no PIB sofreu queda de 2,34 pontos percentuais entre 2022 e 2023 – a maior registrada desde 2010.

Em 2023, a Petrobras concentrou 4,72% do PIB, uma queda de 1,65 pontos percentuais em relação a 2022, quando a concentração era de 6,36%. A JBS, com 3,35% de participação no PIB, é a segunda empresa mais representativa. Ela registrou queda de 0,37 pontos percentuais em relação a 2022. Em ambos os casos, essa também é a maior baixa sofrida por cada empresa desde 2010.

Em terceiro lugar, a Vale, com 1,92% de participação no PIB, registrou queda de 0,33 pontos percentuais em relação ao ano de 2022.

Percentual de participação no PIB nas TOP 3 da B3

Ponto fora da curva

Os dados soam preocupantes, mas há um detalhe fundamental a se considerar. Da receita total das empresas TOP3 (R$ 1,08 trilhão), a Petrobras responde por 47,24%, um recuo expressivo de 4,37 pontos percentuais em relação a 2022. A Vale é responsável por 19,20% desse montante, o que representa um crescimento modesto de quase um ponto percentual na comparação com 2022.

A JBS, no entanto, dona de 33,57% da receita total das TOP3, cresceu notáveis 3,4 pontos percentuais na comparação com 2022. É o segundo melhor registro da empresa desde 2010, quando ela representava uma fatia de 35,99% da receita das TOP3, valor muito próximo ao da Petrobras naquele ano (36,24%).

Percentual de participação nas TOP 3 da B3

Lições

Fala-se muito de olhar o copo “meio cheio” ou “meio vazio”, mas no mercado financeiro há bem mais que dois pontos de vista para cada situação. Em números absolutos e no longo prazo, o desempenho das TOP3 da Bolsa brasileira é muito consistente. Petrobras, JBS e Vale estão no topo do ranking de empresas com maior receita há mais de uma década, e nada indica que irão sair de lá.

Todas as mais de 330 empresas listadas na B3 movimentaram em 2023 cerca de R$ 4 trilhões. As TOP3, com seus R$ 1,08 trilhão de receita combinada, foram responsáveis, portanto, por 27,5% de todo o volume da B3. Um resultado tão expressivo não é acidente do destino.

No curto prazo, porém, o desempenho dessas empresas vem caindo, o que deve acender um sinal de alerta para os investidores. Mesmo assim, quando olhamos os números no detalhe, nota-se que a JBS, com leve queda na receita, vem ganhando protagonismo no interior do grupo das três gigantes, o que aponta, em tese, para boas oportunidades de negócio.

Entender e articular essas várias visões é o desafio do bom investidor.