

Os sinais estão aí, só não enxerga, quem não quer. Na última sexta-feira (14), o Ibovespa começou a tracionar de forma positiva logo após divulgada a pesquisa Datafolha, que apontou um forte enfraquecimento da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O índice de satisfeitos com o atual governo despencou de 35% para 24%, nos últimos dois meses.
Logo após a divulgação da pesquisa, às 16h, o mercado começou a reagir em forte alta e o principal índice da B3 terminou o dia em valorização de 2,70% aos 128.218,59. Como mostrou o E-Investidor, esse foi o maior nível de encerramento desde o dia 11 de dezembro.
Por sua vez, o dólar caiu 1,21% e encerrou a semana cotado a R$ 5,696, o menor valor dos últimos três meses – leia mais aqui. O que mais chama atenção na última pesquisa Datafolha é o fato de o presidente Lula começar a ver sinais de que o seu principal alicerce eleitoral está ruindo.
- Leia mais: Polêmica do Pix: 66% veem erro de Lula – entenda o impacto na popularidade do governo
De acordo com o levantamento, o índice de ótimo e bom do governo Lula teve uma queda considerável nos grupos que historicamente formam o núcleo duro dos eleitores do PT: baixa renda (quem ganha até dois salários-mínimos), Nordeste, menos escolarizados (quem estudou até o ensino fundamental), católicos e mulheres.
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De dezembro para cá, a aprovação do governo Lula ficou da seguinte forma nestes grupos:
- Baixa renda: queda de 15% (p.p). Atualmente, 29% consideram o governo ótimo e bom;
- Nordeste: queda de 16% (p.p). Atualmente, 33% consideram o governo ótimo e bom;
- Menos escolarizados: queda de 15% (p.p). Atualmente, 38% consideram o governo ótimo e bom;
- Católicos: queda de 14% (p.p). Atualmente, 28% consideram o governo ótimo e bom;
- Mulheres: queda de 14% (p.p). Atualmente, 24% consideram o governo ótimo e bom.
Como visto na sexta-feira, a percepção de que o atual presidente está perdendo força dentro de suas bases eleitorais animou o mercado. Esse, no entanto, não é o primeiro sinal emitido pelos agentes financeiros.
Dois meses antes, vimos ocorrer um movimento similar na Bolsa de Valores e na cotação do dólar. A partir das 16h30 do dia 11 de dezembro, o principal índice da B3 disparou. Em apenas 10 minutos saiu dos 127,8 mil pontos e foi para 130,8 mil. Um ganho de 2,3%. No final do dia, às 18h, o índice fechou em alta de 1,06%, aos 129,5 mil pontos.
Do lado do dólar, ele rondava os R$ 6 até às 16h30. Depois houve uma queda acentuada que levou a contação para R$ 5,92. No dia, a moeda norte-americana fechou em R$ 5,95.
Qual foi o gatilho dessa volatilidade e reação no mercado? A notícia publicada, às 16h27, pela jornalista Mônica Bergamo de que o presidente Lula passaria por um novo procedimento cirúrgico, para bloquear o fluxo de sangue em parte do cérebro.
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Falando sem rodeios. Em meio à várias especulações, houve uma percepção entre alguns representantes do mercado financeiro de que o quadro de saúde do presidente Lula poderia não ser tão simples e que havia a possibilidade de ele ser substituído pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Os sinais estão aí, só não enxerga, quem não quer.
Como pensa o mercado financeiro
O ambiente desfavorável ao atual governo entre os atores do mercado financeiro não está só nas reações vistas nestes dois episódios na Bolsa de Valores. Pesquisa realizada pela Genial/Quaest há dois meses demonstra o que pensa o mercado financeiro – veja a pesquisa nesta matéria.
O levantamento tem como base 105 entrevistas com fundos de investimentos com sede em São Paulo e Rio de Janeiro. Foram consultados gestores, economistas e tomadores de decisão do mercado financeiro.
De acordo com a pesquisa:
- 90 dos respondentes avaliam o governo Lula como negativo;
- 96 consideram que a agenda econômica está indo na direção errada;
- 88 acreditam que nos próximos 12 meses a economia vai piorar.
Os sinais estão aí, só não enxerga, quem não quer.
Antecipação do clima eleitoral
Para você que tem interesse em acompanhar o impacto que política pode ter no mercado financeiro, os dois episódios citados neste artigo (último Datafolha e nova cirurgia do presidente) também demonstram que o clima eleitoral está sendo antecipado. Tenha em mente que a tendência é de que as expectativas sobre a próxima eleição vão ficar cada vez mais latentes, em especial, a partir do segundo semestre deste ano.
Acredito que a partir de setembro e outubro haverá uma movimentação dentro do campo político de centro direita no sentido de começar a apresentar um nome competitivo, para a próxima disputa eleitoral de 2026.
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Hoje, de acordo com a pesquisa da Genial/Quaest, se Bolsonaro continuar fora do páreo, o nome mais lembrado, dentro do mercado financeiro para conduzir o centro direita no próximo pleito é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Dentro desse contexto, com base no que temos hoje como referência, haverá espaço para novos “upsides” (potenciais altas) dentro da Bolsa, que vão variar de acordo com as novas pesquisas, e até uma possível não candidatura de Lula à reeleição. Fique atento aos sinais, eles já se fazem presentes.