- O mês de fevereiro vai ser decisivo para o mercado financeiro entender até onde vai o discurso e os ataques do presidente Lula em relação ao Banco Central
- Todas as peças até aqui indicam que Lula vai ignorar os nomes indicados por Campos Neto e vai escolher profissionais que estão alinhados a ele e às críticas em relação à atual taxa de juros (13,75%) e à política monetária
O mês de fevereiro vai ser decisivo para o mercado financeiro entender até onde vai o discurso e os ataques do presidente Lula em relação ao Banco Central, em especial ao presidente da instituição Roberto Campos Neto.
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Fevereiro é considerado como uma peça-chave neste quebra-cabeça porque no próximo dia 28 encerram os mandatos de dois diretores. Devem deixar a cadeira Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização). É válido lembrar que, até o final de 2024, Lula poderá indicar a maioria dos diretores. Até lá, sete dos nove encerram o mandato.
Todas as peças até aqui indicam que Lula vai ignorar os nomes indicados por Campos Neto e vai escolher profissionais que estão alinhados a ele e às críticas em relação à atual taxa de juros (13,75%) e à política monetária. Hoje, no nosso cenário base trabalhamos com uma probabilidade alta de que isso irá acontecer.
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Por quê? Juntando sete peças desse quebra-cabeça para responder. Nos últimos dias, Lula irritado com Campos Neto e com a atual política monetária:
- Convocou a sociedade;
- Convocou os empresários;
- Convocou os congressistas da base (já há vários pedidos para o presidente do BC prestar esclarecimentos, nas duas Casas);
- Deu sinal verde para a cúpula do governo (ala econômica e política) ampliar a pressão;
- Colocou os ministros para ecoarem que é o presidente da República quem tem a prerrogativa de escolher os diretores;
- Passou a defender que o governo tenha maioria nos conselhos, diretorias, em instituições que ele considera estratégicas para o governo. Exemplo da última terça-feira quando falou da Eletrobras;
- Enfim, oficializou em público o distanciamento de Campos Neto.
E o mercado? Ele já precificou tal possibilidade? Não. A turma suspeita, mas ainda não colocou tudo no preço, o que abre espaço para uma forte volatilidade ao longo dessas próximas semanas, em torno desse tema.
Bastidores
O sentimento e a expectativa de que Lula vai indicar nomes próximos a ele já paira em vários setores do Banco Central. Há um entendimento de que os novos diretores, depois de serem aprovados pelo Senado, vêm para fazer um contraponto.
É válido lembrar que todos os nove diretores têm independência e podem, se quiserem, questionar, criticar, não apenas internamente, como também para o público externo, para a mídia. Não é praxe, mas podem. Por outro lado, a expectativa dentro do BC é de que, no dia a dia, os novos diretores tenham um maior contato com a dinâmica da instituição e percebam que todas as decisões são tomadas com base em critérios técnicos.
Questões práticas
Em relação aos ataques de Lula e demais integrantes do governo e do PT o que vemos até agora são discursos, guerra psicológica mesmo. Até o momento, não há nenhum movimento concreto no sentido de apresentar uma proposta para revogar a Lei da Independência do BC, ou pedir a exoneração de Campos Neto e diretores. Sobre as convocações no Congresso para Campos Neto prestar esclarecimentos, isso também é fumaça. Com base na Lei, ele já tem que ir todo os semestres prestar contas.
Legado
Apesar de ser o principal alvo do atual governo, Campos Neto dá sinais de que segue firme e pretende cumprir o mandato, que se encerra em 2024. Tudo que está enfrentando neste momento seria uma espécie de legado que “esse cidadão” quer deixar para os próximos que se sentarem na sua cadeira. Essa, inclusive, deve ser a tônica da participação dele no programa Roda Viva de hoje à noite, aguardado com expectativa por vários setores do mercado.
Vamos acompanhando.