O impacto da política no mercado

Erich Decat é empreendedor, jornalista e analista político. Com 14 anos de experiência na cobertura política, em Brasília, já atuou durante quatro anos no time de Análise politica da XP e hoje coordena o time de análise politica da corretora Warren Renascença

Escreve às segundas, quinzenalmente

Erich Decat

Por que Lula se faz de esfinge diante das intrigas na Petrobras?

Volatilidade das ações da empresa na semana passada deu origem a um verdadeiro cassino

Por que Lula tem deixado correr as intrigas em torno da Petrobras? (Foto: Taba Benedicto / Estadão)

Os últimos dias têm sido de intensos boatos, vazamentos, plantações de informações e ruídos em torno do futuro da Petrobras (PETR3;PETR4) e do presidente da estatal, Jean Paul Prates.

O clima é de “barata voa”, jargão jornalístico que usamos quando nos deparamos com as mais diversas versões sobre um fato. De quinta-feira (4), no final da manhã, para cá, já tivemos todos os tipos de ruídos rondando as manchetes dos principais jornais.

Alguns noticiaram que Jean Paul Prates seria substituído pelo presidente do BNDES, Aloízio Mercadante. Outros que Mercadante tinha sido sondado “superficialmente” por Lula. Dentro dessa gama de “Breaking News”, há quem tenha escrito que Mercadante disse a pessoas próximas que não aceitaria o cargo.

Outros afirmam que Mercadante está pronto para assumir. Como de praxe, a boataria abriu as portas para uma enxurrada de outros nomes entrarem na lista de cotados para presidir a Petrobras. Em cima de cada nome, novas especulações.

Paralelamente, vimos surgir um outro protagonista neste quebra-cabeça: o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O ministro tem dado declarações, dia sim e dia também, alimentando o ambiente de incertezas.

Aqui fica uma primeira pergunta: na sua opinião, um ministro do governo tem autonomia para falar o que quer pela imprensa ou ele tem sido orientado?

Motivos

Vimos também os mais variados motivos para a fritura do atual presidente da empresa. Um que mais me chamou a atenção foi a de que ele entrou em choque com a cúpula do governo por defender que 50% dos dividendos extraordinários fossem distribuídos. Que tal posicionamento teria deixado a cúpula do governo contrariada, pois defendiam a retenção de 100%.

O interessante é que na mesma quinta-feira em que tivemos o ápice dos ruídos, saiu uma matéria afirmando que a mesma cúpula do governo tinha chegado ao entendimento de distribuir 100% dos dividendos.

Ou seja, o dobro que o próprio Prates tinha defendido e por isso passou a ser alvo de ataques de vários setores de governo. O tal acordo da distribuição de 100 bi foi desmentido pela assessoria de imprensa da Petrobras. Mas novas matérias jornalísticas com base em fontes ocultas deixaram o desmentido no ar.

V de vol

Dentro desse pandemônio de notícias desencontradas, os operadores de renda variável viram no período de cerca de uma hora as ações da Petrobras fazerem um V nas telas dos computadores.

Na última quinta-feira (4), por volta das 11h20 quando saíram as primeiras informações de que haveria a troca do CEO, as ações caíram 5%. Na sequência disparam 5%, com a informação de que haveria a distribuição de 100% dos dividendos.

A volatilidade dos papéis preferenciais da Petrobras ficou entre a máxima de R$ 39,48 e a mínima de R$ 37,43 em cerca de uma hora. Ou seja, foram momentos de um verdadeiro cassino.

Tanto que acendeu o sinal de alerta da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que instaurou, no mesmo dia, um processo administrativo para supervisionar “notícias, fatos relevantes e comunicados” relacionados à Petrobras.

O silêncio de Lula

Toda a confusão e o retorno de outras várias especulações em torno do futuro da Petrobras não foi suficiente, no entanto, para o presidente Lula se posicionar. Melhor: não foi o suficiente para Lula estancar os ruídos fosse para confirmar a saída de Prates, fosse apoiá-lo publicamente.

Ele se mantém como uma esfinge. Ocasião para dar um freio de arrumação não faltou. De quinta-feira para cá, Lula participou de vários eventos públicos incluindo uma reunião no sábado com a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e outras entidades de movimentos sociais.

Daria para ele encaixar uma frase ou outra em seus discursos sobre a questão.

O fato é que há ainda várias peças desencaixadas neste quebra-cabeça. Há várias perguntas ainda sem respostas, mas vou me ater a apenas uma: Por que Lula tem deixado correr as intrigas que se transformaram em uma guerra política em torno da Petrobras?

Se alguém está ganhando com isso, com certeza não é a empresa.