Multiplicando Sonhos

Evandro Mello é CEO e fundador da Multiplicando Sonhos, associação sem fins lucrativos que tem como missão transformar a vida de jovens de escolas públicas através da educação financeira. Nascido na zona leste de São Paulo, é graduando em administração com ênfase em Comércio Exterior e estuda Psicologia Econômica e Tomada de Decisão.

Escreve aos sábados, a cada 15 dias

Evandro Mello

Quando dinheiro, finanças e emoções se encontram

Entender a subjetividade por trás do dinheiro é um dos pontos principais para desvendar o nosso comportamento

Desde a infância o dinheiro nos traz emoções à medida em que aprendemos a lidar com ele - Foto: Envato Elements
  • Uma criança, mesmo que com pouca noção conceitual sobre dinheiro, já é capaz de sentir algum tipo de emoção quando a mãe ou o pai diz que não tem dinheiro para comprar determinado brinquedo ou doce
  • Pense em um item de consumo que você deseja muito, como um celular. Se você tiver dinheiro para comprá-lo, sua emoção será de felicidade, satisfação e poder. Já se você não tiver condições, os sentimentos serão de angústia, privação e tristeza

Entender a subjetividade por trás do dinheiro é, talvez, um dos pontos principais para desvendar o nosso comportamento em relação às finanças pessoais. Todo mundo sabe, racionalmente, que guardar dinheiro é importante. Porém, por que ainda assim grande parte das pessoas não o fazem?

Quando conheci Valéria Meirelles, psicóloga especializada em Psicologia do Dinheiro e membro do conselho científico da Multiplicando Sonhos, ela me explicou o poder das nossas emoções quando o assunto é comportamento financeiro. “Antes de vermos o mundo racionalmente, nós o vemos a partir das nossas emoções. O dinheiro, como parte do nosso mundo e da nossa cultura, também é percebido com o pano de fundo da emoção”, disse.

Uma criança, mesmo que com pouca noção conceitual sobre dinheiro, já é capaz de sentir algum tipo de emoção quando a mãe ou o pai diz que não tem dinheiro para comprar determinado brinquedo ou doce. E também quando ela ganha aquilo que tanto queria por meio do dinheiro.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

De maneira geral, o dinheiro está ligado tanto a emoções negativas, como cobiça e avareza, quanto a positivas, como a sensação de segurança, estabilidade e satisfação. E esses sentimentos podem ser ativados em uma mesma pessoa em diferentes situações.

Porém, o contexto social no qual estamos inseridos e a criação que recebemos das nossas famílias influenciam diretamente a nossa percepção sobre o tema.

Para os jovens do Multiplicando Sonhos, que moram na periferia, são de classes sociais mais pobres e trabalham desde cedo, o dinheiro tem a ver com esforço, sobrevivência e realização de sonhos. Já para jovens de classe média, o dinheiro já é algo mais natural, ligado à segurança e satisfação pessoal.

É claro que o dinheiro é uma preocupação para a maioria das pessoas. Porém, se para o primeiro exemplo essa é uma preocupação do presente e está ligada ao medo da falta, para o segundo, é uma preocupação do presente, atrelada principalmente à ambição.

Consumo

Pense em um item de consumo que você deseja muito, como um celular. Se você tiver dinheiro para comprá-lo, sua emoção será de felicidade, satisfação e poder. Já se você não tiver condições, os sentimentos serão de angústia, privação e tristeza.

Muitos objetos são associados a status e aprovação social. Por isso, eles mexem diretamente com a nossa noção de auto valor. Ter o seu dinheiro e poder comprar as suas coisas gera uma sensação de bem-estar e autonomia que o move a ir cada vez mais nessa mesma direção.

Já a falta de estabilidade financeira e a constante preocupação em conseguir dinheiro suficiente para pagar contas também gera efeitos emocionais. Não à toa, a crise de 1929, maior período de desaceleração econômica e endividamento em massa nos Estados Unidos, ficou conhecida como a Grande Depressão.

Na Multiplicando Sonhos, incluímos no programa de educação financeira uma aula inteira sobre psicologia econômica, porque sabemos que as emoções e os sentimentos, se não identificados, podem piorar ainda mais a situação financeira das pessoas na hora de tomar decisões.

Autoconhecimento

As emoções são como bússolas comportamentais. Por isso, é importante identificar que tipo de emoção você está sentindo e em cada situação. “A partir do momento em que você identifica uma emoção, é preciso buscar o porquê dela ter aparecido naquele contexto. Tem a ver com o seu contexto familiar? Com o medo da perda? O que essa emoção diz sobre você?”, diz Valéria.

A influência da família desempenha um papel importante quando o assunto é emoção o problema que pode ser para o lado bom ou ruim.

Uma reflexão que eu faço e gostaria de compartilhar com você é: busque na memória quais frases você ouvia quando criança em relação ao dinheiro. É como construir uma árvore genealógica do dinheiro com os dois lados da família e enxergar as influências que ambos têm na construção do seu comportamento financeiro. E agora que você identificou as influencias boas e ruins, busque entender seu comportamento.

Quando você toma consciência sobre quais emoções o dinheiro te desperta, você consegue, aos poucos, mudar a sua reação padrão e criar sentimentos mais positivos e saudáveis.

Você passa da primeira percepção, emocional, e atinge a segunda percepção, racional. E é ali que as boas decisões moram.

Vamos tentar?

Bons investimentos!