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- Segundo o IBGE, 28,3% da população brasileira trabalha de forma autônoma
- Existem muitos motivos para isso como a falta de empregos formais para pessoas com baixa escolaridade e os baixos salários que implicam na necessidade de renda extra
- Existem três recursos essenciais para se montar um negócio, independente do seu tamanho: força de vontade, dinheiro e conhecimento
Apesar do termo empreendedorismo ter se popularizado nos últimos anos, a prática já é uma velha conhecida das famílias brasileiras de baixa renda. Eu ou qualquer outra pessoa que vive na periferia de São Paulo ou de qualquer outra cidade do país tem um tio que faz um “bico”, uma tia que vende doces para ajudar na renda da casa ou até um amigo que vende produtos em camelô ou no famoso “shopping trem”.
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Existem muitos motivos para isso: a falta de empregos formais para pessoas com baixa escolaridade, os baixos salários que implicam na necessidade de renda extra, a dificuldade que muitas dessas pessoas enfrentam para atingir o mercado de trabalho simplesmente por morarem na periferia, e por aí vai. Então como utilizar o empreendedorismo como uma real ferramenta de oportunidade, e não apenas um “lero lero” meritocrata?
Existem três recursos essenciais para se montar um negócio, independente do seu tamanho:
- força de vontade;
- dinheiro;
- conhecimento;
O primeiro existe de monte na periferia. Convenhamos, se tem uma coisa que o povo brasileiro é, é criativo, gosta de inovar. Já o segundo recurso é mais difícil, porém pode ser resolvido se o terceiro for sólido e a pessoa souber escolher o tipo de negócio ideal para ela.
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Engana-se quem pensa que só uma ideia inovadora e conhecimento sobre empreendedorismo é importante para o negócio prosperar. Segundo uma pesquisa realizada pelo SEBRAE (2016) feita com 2000 empresas, 65% das inativas fecharam por falta de acompanhamento das receitas e despesas. A necessidade de administrar bem as finanças vem antes do negócio. De um modo geral, nós, digo nós porque eu me incluo nesse grupo, iniciamos um empreendimento com muita fé, acreditando que tudo vai dar certo e em muito pouco tempo. Mas não é bem assim.
Segundo Isabella Paschuini, mestranda em Ciências Comportamentais na London School of Economics (LSE) e diretora de Estudos Comportamentais da Multiplicando Sonhos, podemos entender a importância de balancear a força de vontade e o conhecimento sobre negócios na hora de empreender a partir da teoria do viés do otimismo. Ela aponta que o ser humano tende a, naturalmente, ser otimista e confiante sobre aquilo ao que se dedica. “Isso é importante, mas não é tudo”, comenta.
A grande armadilha é que o otimismo faz com que olhemos apenas para aquilo que depende de nós, esquecendo todo o resto e deixando de lado algo de extrema importância: o planejamento. O sucesso de um negócio muitas vezes depende das condições do mercado, dos concorrentes que você tem, enfim, de coisas que o empreendedor não tem controle.
Convenhamos, ninguém começa um negócio achando que ele vai dar errado. Não é mesmo? No entanto, é comum casos de empresas que não atingem nem sequer o terceiro ano de vida. Isso acontece justamente porque grande parte das pessoas empreendem pelo sonho, pela empolgação (e necessidade, claro), sem ao menos saberem o básico sobre finanças e administração.
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Estamos falando de coisas simples, como separar o dinheiro da empresa do pessoal, fazer um controle de receitas e despesas, uma análise do mercado para entender os concorrentes e a demanda das pessoas por aquele serviço ou produto. Além de definir corretamente preços e fazer planejamento contra possíveis crises. Coisas essas que infelizmente não são abarcadas pelo plano de educação básica do nosso país e que, na maioria das famílias de baixa renda, jamais chegam a ser um tema debatido.
“Na minha casa as pessoas falavam que dinheiro não trazia felicidade. O dinheiro era sempre relacionado a dívidas e brigas”, conta Karolyne Pereira, a Karol para quem a conheceu de perto, de 19 anos, que participou em 2019 do programa da Multiplicando Sonhos, que leva aulas de educação financeira para escolas públicas. Naquela época, ela vendia trufas na escola para ajudar com as despesas de casa, mas não fazia qualquer gestão do dinheiro.
Com as aulas de educação financeira e empreendedorismo da MS, ela começou a controlar suas vendas e passou a acreditar que era possível ter uma boa relação com o dinheiro. Logo conseguiu levar esse conhecimento para a sua família também. “Minha mãe viu meu caderninho de controle financeiro e me pediu para montar um para ela também”, relata.
Outra mudança de chave decisiva foi que Karol entendeu que poderia fazer do seu negócio uma ferramenta para alcançar sonhos e não apenas ajudar em casa. “Eu sempre quis fazer intercâmbio, mas achava que eu nunca conseguiria porque as pessoas da minha família eram muito simples e falavam que eu ‘sonhava demais’. Nisso, a gente vai deixando nossos sonhos de canto, por achar que não vai conseguir”, comenta.
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Hoje, ela cursa faculdade de Administração de Empresas e é auxiliar administrativa em uma multinacional. Mora sozinha, paga suas contas e a faculdade com o seu próprio dinheiro e, claro, não deixou o empreendedorismo de lado, mas mudou de ramo. Com a pandemia, a venda de doces ficou mais difícil, então ela usou as valiosas lições das aulas de finanças pessoais e empreendedorismo para se adaptar. Agora vende lingeries pelo Instagram e visa abrir uma loja física no futuro.
“Eu consegui me organizar e fazer um capital de giro bacana, até porque eu já havia começado a trabalhar e conseguia investir na lojinha de lingerie”, conta. O intercâmbio vem ano que vem: Karol pretende fazer um curso de inglês enquanto trabalha como babá nos Estados Unidos.