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- A tokenização de ativos está emergindo de maneira semelhante à revolução industrial
- Essa tecnologia permite representar qualquer bem ou valor como um ativo digital na blockchain
- A tokenização está hoje no estágio em que o Bitcoin estava em 2016 ou começo de 2017
Assim como a transição da era industrial para a era da informação foi uma revolução silenciosa que moldou o século XX, a tokenização de ativos está emergindo de maneira semelhante no século XXI.
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No entanto, ao contrário do estrondo das máquinas ou da visibilidade das redes sociais, essa nova revolução opera nos bastidores, sutilmente reformulando a estrutura do mercado financeiro. E, nesse palco de inovações imperceptíveis porém profundas, o Brasil se posiciona como um dos atores principais, liderando o caminho dessa transformação sem precedentes.
Ainda que os termos técnicos possam assustar – criptoativo, blockchain entre outros – tokenização é uma ideia simples: criar representações digitais de ativos reais. Para isso, utiliza-se a tal da blockchain. O ativo digital criado é um criptoativo. E o potencial da transformação, enorme.
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Podemos dizer que a tokenização está hoje no estágio em que o bitcoin estava em 2016 ou começo de 2017. Poucos entendem, poucos de fato utilizam e a compreensão do que pode ser alcançado com isso ainda é embrionária. Isso não só no Brasil, mas globalmente. E é justamente aí que nosso País pode ter uma posição relevante no panorama global.
Esse destaque se dá principalmente por alguns exercícios práticos que vêm sendo conduzidos no Brasil. Muitos discutem sua utilidade e vantagens, até seus problemas, mas poucas empresas entendem a fundo e têm, de certa forma, a coragem de colocar produtos tokenizados nas prateleiras.
Em 2018, quando nos deparamos no Mercado Bitcoin com um cenário profundamente desafiador em termos de preço e atratividade dos criptoativos consagrados como bitcoin e ether, a tokenização foi a resposta e criamos a MBDA Digital Assets, primeira tokenizadora do País.
Hoje, rebatizada para MB Tokens, tem em seu histórico mais de 100 ofertas distintas de ativos tokenizados, de nove categorias diferentes, totalizando mais de R$ 400 milhões originados e distribuídos prioritariamente no varejo. Nesses quatro anos, tokenizamos desde precatórios até direitos relacionados ao futebol – sobre o qual já escrevi nesta coluna.
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Mas foi a partir dos recebíveis e das cotas de consórcio que alcançamos um número mais significativo de investidores, em especial, quando fomos iluminados e cunhamos a expressão “renda fixa digital”, que acertou em cheio os corações e mentes dos investidores mais atentos.
Rugulamentação e Drex
Além da execução, nosso País também se destaca pelo avanço na regulamentação. Esse ano foi definido que o órgão regulador da criptoeconomia será o Banco Central do Brasil (BC), o que é um grande acerto ao meu ver. Cada vez mais as autoridades da autarquia têm se aproximado de empresas e associações do setor para entender os processos e necessidades, construindo, assim, uma regulação que visa o desenvolvimento do mercado e ganho mútuo.
Não por acaso o próprio BC avança na construção do Drex, a moeda digital em blockchain de nosso País.
Além da dimensão regulatória, uma estratégia bem delineada é crucial no avanço da tokenização. Com uma tecnologia tão expansiva, é fácil se dispersar e se perder em possibilidades. Sim, a tokenização permite representar qualquer bem ou valor como um ativo digital na blockchain. E, apesar de frequentemente ouvirmos o exemplo quase trivial de tokenizar uma obra de arte – a Monalisa ou “um Picasso” são os exemplos mais recorrentes – essa ideia serve mais como uma ilustração superficial do potencial.
A verdadeira inovação vem de propostas como a renda fixa digital, que já mencionei anteriormente. A questão não é simplesmente o que podemos tokenizar, mas o que devemos tokenizar. Precisamos direcionar nosso olhar para ativos que não só inovem, mas que ampliem o acesso ou reduzam custos para os investidores e para aqueles que demandam capital. Encontrar e focar nesses ativos é fundamental.
Protagonismo do Brasil
Voltando nosso olhar para o cenário global, mesmo que alguns afirmem que estamos vivendo o “inverno cripto”, ancorados na cotação atual do bitcoin, o cenário é extremamente promissor no que se refere à tecnologia blockchain. Um exemplo palpável dessa evolução é a crescente discussão sobre Treasuries tokenizadas, indicando uma tendência que pode redefinir como os investidores globais interagem com ativos de renda fixa.
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Diante desse panorama, muitos protocolos têm dedicado esforços para não apenas entender, mas também moldar as necessidades de um mundo progressivamente tokenizado. Atualmente, dispomos de um leque diversificado de opções tecnológicas, ainda que incipiente e que carece de padrões específicos para a indústria.
Se por um lado quem se aventura nesses mares tem um custo mais significativo em termos de pesquisa e desenvolvimento, por outro, é uma rara oportunidade de forjar padrões para a própria indústria.
Enquanto navegamos por esta era digital em constante transformação, é vital reconhecer que estamos esculpindo o futuro do mercado financeiro. A tokenização não é meramente uma moda do momento, mas reflete um mundo em plena adaptação, inovação e democratização de acessos.
O Brasil, com suas conquistas e obstáculos, não está apenas na corrida, mas também marcando o compasso, solidificando sua reputação como um sistema financeiro avançado (não esqueçamos que somos o país do Pix!). Em um cenário digital que muda velozmente, o Brasil se destaca como um farol de avanço e potencialidade.
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Portanto, ao projetarmos nosso olhar ao futuro, talvez não tenhamos todas as soluções, mas uma coisa é inequívoca: temos tudo para sermos um dos principais polos da criptoeconomia global.