Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto tem quase 20 anos de experiência no mercado financeiro. É especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças, autor do livro “De Endividado a Bilionário”, fundador da Gueratto Press e criador do Canal 1Bilhão, com quase 21 milhões de visualizações no YouTube

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Fabrizio Gueratto

Bitcoin: Por que a criptomoeda ficou dependente do mercado tradicional?

Conversa com o especialista em criptomoedas Bruno Cohem mostra o que está acontecendo com este mercado

Bruno Cohem, especialista em criptomoedas do projeto Crypto 357. Crédito: Rene Paraíso
  • Hoje, todo o mercado de renda variável, em especial bolsa de valores e criptomoedas estão correlacionados
  • Grandes familly offices, hedge funds e instituições financeiras passaram a olhar para este mercado e ter criptoativos em suas carteiras
  • Quando existe uma tendência de baixo no mercado de ações, estes players reduzem o percentual alocado em ativos de risco, incluindo o Bitcoin

Desde o início da criação do bitcoin (BTC), a cotação da criptomoeda sempre esteve descorrelacionada do mercado financeiro tradicional. Não importava se a bolsa de valores norte-americana estava em queda ou em forte alta. Simplesmente os dois mundos não se conversavam.

Isso foi usado durante muito tempo pelos defensores do bitcoin como justificativa de que a criptomoeda é o único ativo que resiste a crises globais provocadas pelos governos ou pelos grandes bancos.

Convidei para uma conversa o Bruno Cohem, especialista em criptomoedas do projeto Crypto 357, para entender melhor o que está acontecendo com este mercado:

Podemos afirmar que o bitcoin e as criptomoedas estão relacionadas à economia norte-americana?

Isso é um fato. Hoje, todo o mercado de renda variável, em especial a bolsa de valores e as criptomoedas, está correlacionado. A diferença está na volatidade do mercado cripto, infinitamente maior tanto para cima quanto para baixo. O investidor que não entender isso irá perder dinheiro. O fanatismo por qualquer ativo está na contramão dos vencedores.

Na sua opinião, por que a correlação aconteceu?

No início, o Bitcoin era um ativo não negociado pelo mercado tradicional. Nenhum fundo de investimento, por exemplo, colocava criptoativos em sua carteira, seja por não entender esta moeda digital ou pelo simples fato de sua volatilidade ser tão grande que poderia fazer com que a performance do fundo fosse ladeira abaixo.

Mas isso mudou nos últimos anos. Grandes family offices (escritórios que atendem famílias com grande patrimônio), hedge funds (fundos que usam estratégias de risco para compensar eventuais perdas) e instituições financeiras passaram a olhar para este mercado e ter criptoativos em suas carteiras.

Isso acaba fazendo uma espécie de efeito manada. Quando existe uma tendência de baixa no mercado de ações, estes players reduzem o porcentual alocado em ativos de risco e isso inclui o bitcoin. E o contrário também ocorre, na tendência de alta.

Esse cenário pode se inverter novamente para as criptomoedas se comportarem à parte do mercado de ações?

Acho muito difícil pensando no longo prazo, exatamente porque o mercado tradicional cada vez mais coloca bitcoin e outras moedas digitais em suas carteiras. A tendência é de que isso aumente cada vez mais. Basta ver o que está acontecendo com os maiores bancos do mundo.

Quase todos eles, de alguma forma, estão neste novo mercado e isso fará com que a volatilidade cada vez mais se aproxime do mercado de ações tradicional. Não vejo isso como algo ruim, faz parte do processo de amadurecimento do bitcoin, mesmo sabendo que em algum momento os países farão alguma regulamentação do mercado de criptoativos.

Dito isso, eu acredito que esse amadurecimento do mercado levará anos para acontecer. Hoje ainda é um mercado extremamente especulativo no qual os fundamentos ficam em segundo plano, o que significa que poderemos ver o bitcoin descolar do mercado tradicional muitas vezes.

O que você espera das dezenas de milhares de criptomoedas que existem no mercado?

A maioria das criptomoedas se trata de lixo digital. Não tem fundamento, não tem tecnologia e não tem comunidade por trás. Isso aconteceu na crise da bolha.com (nos anos 2000). Assim como em todas as revoluções tecnológicas, muita coisa some, mas a tecnologia persiste e se solidifica.

Eu não consigo enxergar um mundo sem as criptomoedas. Isso é um fato. Quando me perguntam se eu acho que elas vão substituir o dólar ou as moedas emitidas pelos governos, eu respondo que não. Elas provavelmente irão coexistir e em algum momento as transações entre si serão muito mais simples do que são hoje. Uma coisa é fato: você pode gostar ou não das criptomoedas, mas não dá para ignorá-las.

Assista neste link o vídeo exclusivo da atualização do ethereum.