- Mesmo com o Brasil tendo estruturas muito diferentes das da Venezuela, a situação deve ser observada de perto
- A postura do Brasil na crise venezuelana pode influenciar suas relações comerciais com a Europa e os EUA, além de impactar a percepção global da economia
- A situação da Venezuela oferece um exemplo extremo de como a ausência de credibilidade pode devastar uma nação
Acredite, a credibilidade é realmente um ativo fundamental para qualquer economia. Quando falamos de mercados financeiros e estabilidade econômica, não podemos subestimar o impacto que a percepção da falta de confiança pode ter. A situação da Venezuela oferece um exemplo extremo de como a ausência de credibilidade pode devastar uma nação.
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Recentemente, após as eleições presidenciais na Venezuela, Nicolás Maduro foi declarado vitorioso com 51% dos votos, conforme anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). No entanto, a oposição contestou o resultado e muitos países ainda não reconheceram a legitimidade da eleição.
Esta instabilidade política destaca a importância da credibilidade para a estabilidade econômica. Instabilidade essa que fica evidente por meio da pobreza generalizada e da falta de confiança nos processos eleitorais e econômicos na Venezuela.
Mesmo com o Brasil tendo estruturas muito diferentes das da Venezuela, a situação deve ser observada de perto, especialmente devido às ligações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Maduro. Em seu primeiro pronunciamento sobre a situação do país vizinho, Lula cobrou a divulgação das atas de apuração das eleições. Contudo, segundo ele, “não tem nada de grave, nada de anormal” no processo. Um comentário um pouco desconexo, dado que Maduro ordenou a retirada de manifestantes pelas forças armadas e, após a apuração eleitoral, chegou a deter o líder da oposição.
A questão importante aqui é que a postura do Brasil na crise venezuelana pode influenciar suas relações comerciais com a Europa e com os Estados Unidos, além de impactar a percepção global sobre a economia brasileira. E dentro de todo esse contexto, o recente discurso de Lula, em que afirmou que o Brasil está emergindo como um dos protagonistas da economia global, é otimista, mas as taxas de juros e a cotação do dólar não necessariamente refletem essa visão.
O Brasil pode virar uma Venezuela?
A discrepância nos discursos sugere que, por trás das palavras, pode haver um problema de credibilidade que precisa ser abordado. Embora o Brasil tenha menos exposição comercial à Venezuela comparado a outros países latino-americanos, não podemos ignorar que a falta de credibilidade econômica pode levar a uma deterioração gradual da confiança, resultando em inflação descontrolada, desvalorização da moeda e crises fiscais. Podemos assim considerar a Venezuela como um exemplo não do que o Brasil é hoje, mas o que poderia se tornar se alguns sinais de alerta não forem levados a sério.
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Um dos maiores riscos é a perda de autonomia do Banco Central (BC). A manipulação da política monetária para fins populistas, como a redução drástica da Selic em um contexto econômico desfavorável, pode desestabilizar a economia e fazer a inflação disparar. Se o governo continuar gastando desenfreadamente, sem responsabilidade fiscal, os preços podem ficar sem controle, o poder de compra da população diminuir e o dólar se valorizar absurdamente em relação ao real.
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Lembro que diversos insumos, como a gasolina e as matérias-primas de diversos produtos consumidos por nós, são dolarizados. Esses são sinais claros de que a falta de controle pode levar a uma crise econômica grave.
Além disso, as tentativas de controle das redes sociais e a restrição da liberdade de expressão, como proposta por Maduro, são típicas de regimes que buscam silenciar críticas e impedir a auto-organização da sociedade. No Brasil, é crucial proteger as liberdades civis e manter um sistema econômico transparente para evitar um caminho semelhante.
A lição que deixa a eleição venezuelana para o Brasil
Portanto, a lição que devemos tirar é clara: a credibilidade não envolve apenas palavras ou promessas políticas, mas ações consistentes e responsáveis que garantam a confiança dos investidores e da população. Se o Brasil deseja se firmar como um líder econômico global, é essencial que mantenha a autonomia das instituições, siga políticas fiscais prudentes e preserve as liberdades civis.
O Brasil, hoje, está longe de ser uma Venezuela. Porém, décadas atrás a Argentina era a Europa na América do Sul e olha no que se tornou com os governos populistas. Não existe almoço grátis.