O Brasil vive um paradoxo: enquanto o governo celebra o aumento dos repasses sociais, cresce a fuga de milionários e investidores que financiam a economia real. (Imagem: Adobe Stock)
O Brasil vive um paradoxo que explica muito do nosso atraso econômico. O governo comemora o aumento dos repasses sociais e o crescimento do consumo de base, mas ignora o movimento silencioso de quem realmente financia a engrenagem que paga essa conta. Até o fim de 2025, cerca de 1.200 milionários brasileiros devem deixar o País, levando consigo cerca de 8,4 bilhões de dólares em riqueza. E não é apenas capital financeiro que atravessa a fronteira. É conhecimento, rede de relacionamentos, capacidade de investimento e de geração de emprego.
A nova onda de emigração de alta renda tem causas conhecidas, mas que continuam sendo tratadas como se fossem coincidência. A combinação de insegurança jurídica, instabilidade política e medo tributário criou um ambiente em que a previsibilidade virou artigo de luxo.
Quem tem patrimônio quer planejamento. Quem tem empresa precisa de horizonte. Quem tem capital busca proteção. E o Brasil, em vez de oferecer estabilidade, oferece incerteza. O capital é rápido, e quando percebe que o risco passou do ponto, simplesmente vai embora.
Esse movimento já não é pontual, mas estrutural. O perfil de quem está saindo não é o do rentista que vive de juros. São empresários que geram empregos, investidores que financiam startups, profissionais que lideram negócios e movimentam cadeias inteiras de produção. O que vai embora não é luxo. É motor, capital produtivo. Aquele que transforma ideias em receita e receita em arrecadação.
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A cada empresário que muda de jurisdição, o Brasil perde mais do que patrimônio. Perde a capacidade de multiplicar. Cria a ilusão de prosperidade ao distribuir renda, mas desmonta, pouco a pouco, a base de quem gera a renda que será distribuída.
Em 2024, os pequenos negócios foram responsáveis por mais de 1,2 milhão de novas vagas formais, o equivalente a sete em cada dez empregos criados. Boa parte desse capital inicial vem justamente de quem agora está indo embora: empreendedores, investidores e profissionais de alta renda que poderiam estar financiando a próxima onda de crescimento interno.
A cada milionário que deixa o País, desaparecem empresas que poderiam nascer, empregos que poderiam ser criados e impostos que jamais serão recolhidos. Se apenas 15% desses milionários têm perfil empreendedor e cada novo negócio gera, em média, dez empregos diretos e indiretos, o país deixa de criar algo entre 7 mil e 12 mil empregos potenciais. E esse ainda é um cálculo conservador.
Impacto no mercado financeiro do Brasil
Mas o impacto vai muito além da economia real. Ele chega com força no mercado financeiro. Quando o capital de alta renda busca segurança fora, a liquidez doméstica desaparece. É menos dinheiro em fundos estruturados, menos apetite por crédito privado, menos interesse por debênturese menor fluxo para a Bolsa de Valores. O efeito é direto: o custo de captação das empresas sobe, os prazos de investimento encurtam e a atratividade do País diminui.
O investidor de alta renda é o pilar invisível do sistema financeiro. É ele quem financia obras de infraestrutura, quem aporta em startups, quem compra imóveis corporativos e quem dá profundidade à renda fixa privada. Quando essa base começa a se desfazer, o sistema se contrai. E o investidor médio sente o impacto no próprio bolso: na queda da Bolsa, na rentabilidade menor dos fundos, na dificuldade de crédito e na estagnação da economia real.
A fuga de milionários serve de termômetro do que o Brasil se recusa a enxergar: a confiança está indo embora antes do dinheiro. E confiança é o ativo mais valioso de qualquer país. Nenhuma política fiscal, nenhum programa social e nenhuma medida de curto prazo compensam a desconfiança de quem tem poder de investimento e decide não aplicá-lo mais aqui.
O governo continua olhando para o curto prazo. Mede o sucesso pelo volume de benefícios pagos, não pela produtividade criada. Discute quem recebe, mas ignora quem investe. E segue tratando o capital produtivo como vilão, enquanto transforma a dependência em política pública.
Dependência do Estado
Enquanto o discurso gira em torno da “justiça social”, o efeito prático se mostra o contrário: a fuga de quem sustenta o social com os próprios impostos. É o paradoxo de um país que prefere perder investidores a perder narrativas.
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O resultado é previsível. Menos investimento, menos arrecadação, mais dependência e mais dívida. A cada avião que decola levando quem poderia estar gerando riqueza aqui dentro, o Brasil se torna um pouco mais dependente do Estado e um pouco menos capaz de crescer.
O que o mercado já sabia há muito tempo agora apenas ganhou manchete. Não é o dinheiro que está indo embora, mas a confiança. E sem ela não há investimento. Sem investimento, não há crescimento. E sem crescimento, não há inclusão possível.
A matemática que ninguém quer fazer é simples: sem quem produz, não há quem sustente.