Em 2020, o IRB Brasil (IRBR3), maior empresa de resseguros do País, passou por uma crise interna que afetou todos os seus acionistas. A companhia, que até então era uma das queridinhas do mercado, teve uma valorização de mais de 300% desde sua estreia na Bolsa de Valores em 2016, chegando a uma cotação de R$ 44,90. No entanto, após uma série de escândalos sobre fraudes contábeis, seus ativos despencaram.
Atualmente, as ações da empresa estão cotadas a R$ 5, representando uma queda de quase 89%. Por outro lado, a IRB Brasil conseguiu apresentar resultados positivos no mês de agosto. Após a vitória de uma ação judicial de R$ 129,4 milhões ligada ao PIS/PASEP, a mesma obteve um lucro líquido de R$ 84,8 milhões.
Mas afinal, o que o investidor deve esperar das ações IRBR3? Eu conversei sobre o tema com Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial, uma das maiores casas de análise do Brasil. Segundo o especialista, as dificuldades que envolvem o papel diminuíram um pouco. Afinal, já houveram mudanças na diretoria da empresa e nos próprios fundamentos que, inclusive, estão melhores direcionados.
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Quais as chances da ação voltar a subir?
Os papéis da empresa podem até respirar um pouco, mas é difícil dizer que voltarão para os R$ 40. Além disso, por mais que se recuperem daqui a 5 anos, existe a questão dos riscos de oportunidade. Agora que a Bolsa caiu e as ações estão mais baratas, vários outros ativos têm fundamentos melhores direcionados. Por exemplo, a Magazine Luiza, que possui planos sólidos e uma grande capacidade de se reinventar.
Então, mais do que ficar torcendo para determinada ação subir, o investidor deve começar a ver os níveis de oportunidades que valem a pena. Dentro de um papel que pode demorar três ou quatro anos para voltar e outro que pode demorar um ano, é melhor arriscar o último. Quando a Bolsa cai de maneira bem forte, como está acontecendo agora, a realidade de preços acaba se tornando um verdadeiro jogo relativo.
Figueredo não tem dúvidas que a ação do IRB Brasil tem o seu próprio valor. Entretanto, entre buscar recuperar o preço e a simetria de valor ao longo do tempo, com a Bolsa em queda, outros papéis podem ganhar mais fôlego.
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Varejo x resseguradora
Por um lado, as varejistas, como o Magalu e a Arezzo, têm uma grande capacidade de reinvenção. Mas em uma crise como agora, o varejo sofre mais do que uma resseguradora.
De acordo com o especialista da Eleven, uma companhia de resseguros pode começar a cair menos do que empresas mais cíclicas em momentos relativos do mercado. Isso porque existe uma percepção de taxa de juros (Selic) maior, uma desaceleração da economia bem mais forte que o normal e a alta da inflação, mas é importante compor todo o cenário.
Todo mundo precisa entender que não dá para virar um “sócio-torcedor” de determinado papel ou empresa. O investidor pode até recuperar parte de seu prejuízo na hora em que o mercado voltar ao normal, mas a velocidade disso será bem menor se o mesmo se livrar do ativo antes.
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“Eu falo por experiência própria. Quando comecei a carreira no mercado, estava extremamente alavancado. No entanto, virei torcedor de um determinado papel e em questões de minutos tive um prejuízo que levou cinco anos para recuperar. É justo levar esse tempo todo para recuperar o prejuízo de um momento em que você travou no monitor e não fez nada? Não, mas é essa a realidade para qualquer investidor que não muda de atitude”, contou o analista.
O IRB Brasil ainda pode quebrar ou estacionar sua cotação?
Hoje, a chance do IRB quebrar é bem remota. A tendência é que ele vá andando aos poucos. Mesmo com toda essa crise dentro da empresa, a mesma não perdeu tantos contratos. Então, isso a deixa em uma posição boa e com um preço-alvo de 12%. Agora, o importante é ter um bom direcionamento.
Na avaliação de Figueredo, o que a resseguradora tem que fazer é retomar a confiança dos acionistas e falar sobre os seus números abertamente. Confiança é igual em qualquer relacionamento, se quebrar, vai demorar um tempo para retomar. Porém, não é porque a companhia tem chances remotas de quebrar, que o investidor deve negligenciar tudo e ignorar os fatos.
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