Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto tem quase 20 anos de experiência no mercado financeiro. É especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças, autor do livro “De Endividado a Bilionário”, fundador da Gueratto Press e criador do Canal 1Bilhão, com quase 21 milhões de visualizações no YouTube

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Fabrizio Gueratto

Petrobras (PETR4): temos uma raposa cuidando do galinheiro?

A necessidade do governo de manter a empresa alinhada com sua política tem efeitos prejudiciais para a companhia

Tanque da Petrobras (Foto: Agência Petrobras/Geraldo Falcão)

A Petrobras (PETR3; PETR4) é uma das maiores empresas do Brasil e tem um papel crucial na economia do País. No entanto, a necessidade do governo de manter as operações da empresa alinhadas com sua política tem efeitos prejudiciais para a companhia, afetando como um todo a economia brasileira.

Conversando com um amigo, eu ouvi dele que a única solução é privatizar a Petrobras e tirar o governo. “Infelizmente não temos um sistema político maduro e transparente o suficiente para termos uma empresa desse porte na mão de um acionista controlador que muda de 4 em 4 anos e com um orçamento de bilhões, ou seja, “é deixar a raposa cuidando do galinheiro”.

A Petrobras decidiu que não vai pagar dividendos extraordinários aos acionistas a pedido do presidente Lula, mas houve discordância de muitos diretores e conselheiros da empresa que não concordaram com essa decisão. Por isso, a empresa perdeu 56 bilhões de reais em valor de mercado em um único dia, fazendo com que as ações da empresa caíssem 10% na bolsa de valores.

Essa condução também aumenta o risco de interferência nas tarifas de combustíveis. Sem uma política de preços definitiva, os importadores não conseguem prever possíveis reajustes baseados no comportamento do petróleo no mercado internacional.

O Peso da Petrobras no IPCA

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o indicador oficial de inflação do Brasil. Ele é calculado com base em uma cesta de produtos e serviços consumidos pelas famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos. Esta cesta inclui uma ampla variedade de itens, como alimentos, bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação.

A Petrobras tem um grande peso nesta cesta. Quando a empresa investe em projetos nacionais, como a construção ou reforma de refinarias ou a perfuração de novos poços de petróleo ou gás, isso contribui para a economia interna. No entanto, uma possível escassez de produtos da Petrobras no mercado poderia fazer a inflação disparar.

O governo federal enfrenta um dilema. Se não reajustar o preço dos combustíveis, pode perder arrecadação devido à queda na rentabilidade da Petrobras, o que tende a influenciar negativamente nas contas da União. Mas, se aumentar o preço, como é de se esperar, pode haver aumento das pressões políticas.

O preço dos combustíveis tem uma influência considerável sobre a inflação, pois afeta diretamente os custos de transporte de mercadorias, refletindo-se nos preços finais de diversos produtos. Com a elevação do preço do petróleo no mercado internacional, a pressão sobre a Petrobras para reajustar os preços dos combustíveis no Brasil aumenta, podendo acelerar a inflação e, consequentemente, induzir o Banco Central a elevar a Selic para conter esse cenário.

Há uma expectativa por parte do mercado financeiro de que o preço do petróleo passe dos US$ 90 para US$ 100 o barril do tipo Brent, e isso forçará a Petrobras a rever sua política de preços. Isso tem impacto direto no valor das ações da companhia, que tem participação substancial no Ibovespa, representando aproximadamente 12% desse índice.

Recentemente, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) informou que o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras apresentava uma média de R$ 0,60 por litro abaixo da paridade de importação. Essa defasagem é a mais significativa desde agosto de 2023.

A situação atual da Petrobras é complexa e requer uma análise cuidadosa. O governo precisa encontrar um equilíbrio entre suas políticas e as necessidades da empresa, enquanto a Petrobras deve navegar em um ambiente de preços de petróleo voláteis e pressões inflacionárias. A solução para este dilema não é simples, mas é crucial para a saúde econômica do Brasil. E qual o seu palpite? A privatização seria a solução?