Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto tem quase 20 anos de experiência no mercado financeiro. É especialista em investimentos, professor de MBA em Finanças, autor do livro “De Endividado a Bilionário”, fundador da Gueratto Press e criador do Canal 1Bilhão, com quase 21 milhões de visualizações no YouTube

Escreve semanalmente às quintas-feiras

Fabrizio Gueratto

Privatizar a Petrobras vai garantir combustíveis mais baratos?

O valor internacional do barril do petróleo e a cotação do dólar interferem na precificação da gasolina

(Fonte: Shutterstock)
  • O que aconteceria se a empresa fosse realmente privatizada? Os preços dos combustíveis iriam cair? As ações disparariam?
  • Dizer que a empresa é responsável pelos preço do petróleo é mesma coisa que dizer que a Vale (VALE3) pode mudar a cotação do minério de ferro no mundo
  • Mesmo o Brasil sendo um grande produtor de petróleo, quase 3 milhões de barris por dia, precisamos importar cerca de 170 mil barris também

Nos últimos dias, rumores sobre uma possível privatização da Petrobras (PETR3 e PETR4) voltaram à tona devido a falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o executivo, a pauta já está sendo discutida com a equipe econômica. Porém, o que aconteceria se a empresa fosse realmente privatizada? Os preços dos combustíveis iriam cair? As ações disparariam?

Eu sou totalmente a favor das privatizações, pois acredito que aumenta drasticamente a eficiência das estatais, o que não se aplica apenas ao setor de combustíveis. O sistema de metrô de São Paulo, por exemplo, mesmo sendo um dos mais modernos do País, perde de lavada para a Linha Amarela, a única que é privatizada e não precisa de um maquinista para ser controlada.

Contudo, privatizar a Petrobras não seria necessariamente a solução para a alta dos preços. O presidente Bolsonaro está sendo pressionado por essa situação, então o mesmo deseja jogar a responsabilidade em cima dos outros. Ou seja, os futuros donos ou acionistas da empresa.

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Como funciona a precificação da gasolina?

O preço da gasolina é composto basicamente por três fatores: o valor internacional do barril do petróleo, que hoje está em US$ 80,00, a própria cotação do dólar, porque é uma commodity que vende no mundo todo, e os impostos estaduais e federais. Portanto, como esse é um produto que seu valor é estipulado principalmente pelo mercado global, o governo não tem muito o que fazer sobre essa alta considerável. Se a Petrobras for privatizada, o novo dono também não terá nenhum tipo de gerência nesse quesito.

Dizer que a empresa é responsável pelos preço do petróleo é mesma coisa que dizer que a Vale (VALE3) pode mudar a cotação do minério de ferro no mundo. O preço é regulado pelo mercado, não tem uma pessoa que define. Vez ou outra, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reúne para tentar manipular os preços, mas isso não se aplica à situação atual.

Cotação do dólar

Quanto ao dólar, só é possível melhorar a cotação se a economia brasileira estiver andando e a confiança do investidor estrangeiro no país aumentar. Sendo assim, mais pessoas voltariam a fazer aplicações no Brasil, o que valorizaria o real. No governo Temer (MDB), por exemplo, o dólar chegou a bater R$ 3,11, mesmo após um recente impeachment. No entanto, agora, a moeda norte-americana está cotada a R$ 5,51.

Se a economia brasileira tivesse com componentes que a fizessem progredir, o real estaria mais valorizado ou menos desvalorizado em relação ao dólar e isso impactaria menos no preço do combustível. Nesse ponto, o governo poderia fazer alguma coisa.

Impostos estaduais (ICMS)

O governo estadual que define a alíquota cobrada (ICMS) em cima dos preços dos combustíveis. No entanto, quem acaba levando a culpa é o governo federal, ou seja, o presidente da República. Normalmente, o governador do estado pensa o seguinte: ‘Se eu estou arrecadando mais dinheiro com essa alta, podendo fazer mais obras no meu mandato, e ainda não estou levando a culpa por isso, por que reduzir o ICMS?’.

Se a Petrobras fosse privatizada, essa situação não mudaria em nada. O estado continuaria exigindo a cobrança do ICMS mesmo se o dono da Petrobras não fosse o próprio governo. Na semana passada, entretanto, foi aprovado um projeto na Câmara dos Deputados para reduzir a taxa. Ou seja, o valor cobrado vai ser a média do preço do combustível dos últimos dois anos. Isso deve fazer o valor cair em torno de 7%, algo não tão relevante.

Então, qual seria a solução para a Petrobras? A verdade é que não tem uma resposta exata, porque é uma commodity. O mesmo acontece com o minério de ferro, não tem como o Brasil regular ele sozinho, se não estaria interferindo no livre mercado. A saída é a redução do imposto e a melhoria da economia para o real ganhar valor.
Se está cara agora, com o petróleo valendo US$ 80,00 o barril, imagina se chegar no preço de 2008, US$ 140,00?

Por que importamos petróleo se produzimos o suficiente para o País?

Mesmo o Brasil sendo um grande produtor de petróleo, quase 3 milhões de barris por dia, precisamos importar cerca de 170 mil barris também. No entanto, você sabe por que isso acontece? Falando em uma questão mais técnica, mesmo tendo o mesmo nome, o componente em si varia dependendo do lugar de extração.

Além disso, as refinarias do Brasil são da década de 1970, época em que importávamos um petróleo mais leve. Afinal, ainda não tínhamos descoberto nossa própria fonte de combustível. Sendo assim, para refinar o petróleo atual, é preciso misturar com outros tipos, fazendo um processo chamado de Blend. Outros países, como a própria Arábia Saudita, que é o maior produtor do mundo, também importa.

Qual seria a solução para o aumento dos preços?

O assunto da privatização da Petrobras voltou à tona agora. No entanto, há uns 7 anos, o Bolsonaro afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique deveria ter sido fuzilado por ter privatizado nossas empresas. Mas, por que ele mudou de ideia agora? A culpa do aumento dos preços caiu sobre o mesmo, então ele está precisando se posicionar de forma diferente. No entanto, mesmo se o governo diminuísse os valores e barateasse a gasolina, não seria livre mercado. O empresário iria exportar todos os produtos ou parar de produzir tal produto.

Então, quais seriam as saídas reais? Primeiro, o estado precisaria reduzir os impostos. Por exemplo, se São Paulo tivesse que arrecadar R$ 10 bilhões, ele poderia diminuir a taxa e continuar arrecadando o valor mesmo sem aumentar o ICMS.

A Petrobras tem chances reais de ser privatizada?

A empresa é tida por todos como uma estatal, mas na prática é uma companhia de economia mista. Ou seja, tem o estado e investidores privados como seus donos. Mesmo assim, ainda não dá para compará-la com um negócio privado.

Seguindo essa linha de pensamento, é difícil dizer quando a empresa terá chances reais de ser privatizada. Recentemente, o governo fez uma pseudo privatização da Eletrobras (ELET6). No entanto, ainda não conseguimos algo com os Correios e nem cogitamos o Banco do Brasil (BBAS3). Sendo assim, as chances do Estado vender a “empresa mais brasileira” é de 3%, ainda mais às vésperas das eleições.

Queda das ações da empresa

Mesmo sendo considerada uma companhia sólida, é importante ficar atento. O preço das ações da Petrobras já chegou a bater mais de R$ 50. Contudo, na época da Lava Jato, os ativos despencaram para menos de R$ 5. Atualmente, a cotação está em R$ 30.

Muita gente acha que uma empresa grande não tem risco, que é só investir e aguardar os preços das ações voltarem a subir. Mas, isso é uma grande mentira. Os ativos da Petrobras nunca mais voltaram a valer R$ 50. Então, é uma grande mentira falar que os preços das ações sempre voltam.

Leia mais sobre as ações PETR3 e PETR4.

Assiste ao vídeo exclusivo sobre a possível privatização da Petrobras (PETR3 e PETR4): https://youtu.be/z-Mn6F0LEN0