Além dos Investimentos

Karina é presidente da BlackRock no Brasil. A executiva iniciou sua carreira na gestora em 2007 como Analista de Crédito Sênior, em Nova York. Antes de assumir o cargo atual foi COO para a América Latina e responsável pelas áreas de Desenvolvimento de Produtos e Estratégia de Negócios. Ela também já ocupou cargos nas áreas de Gestão de Risco de Crédito e Investment Banking da Goldman Sachs, em Nova York, com foco em empresas de consumo, varejo e serviços financeiros. Graduou-se em Economia e Relações Internacionais pela Universidade de Stanford e tem um MBA na Universidade Harvard.

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Karina Saade

Investidores estrangeiros ainda não descobriram o potencial do Brasil

Referência para a economia verde na AL, País tem potencial para ser um player global na transição de baixo carbono

(Fonte: Getty Images/ Reprodução)
  • A transição para uma economia de baixo carbono é uma prioridade para muitos dos clientes da BlackRock
  • O Brasil é conhecido globalmente como um berço de alternativas renováveis para seu próprio abastecimento
  • Precisamos mostrar que o Brasil é uma referência na América Latina para a economia verde

A BlackRock foi fundada com a premissa de compreender e gerenciar o risco de investimento, antecipando as necessidades dos clientes e apoiando-os na realização de suas metas financeiras de longo prazo. A transição para uma economia de baixo carbono criará complexidade, risco e oportunidade para empresas e investidores nas próximas décadas, e já está ocorrendo nos mercados atuais.

Não é diferente no Brasil, onde empresas e investidores estão navegando por esses desafios, que representam tanto riscos quanto oportunidades de investimento que podem atrair capital estrangeiro. De acordo com a Glasgow Financial Alliance, o mundo precisaria de US$ 125 trilhões em investimentos à medida que a transformação de baixo carbono se desenvolve.

Nos próximos 30 anos, US$ 32 trilhões teriam de ser mobilizados globalmente, com US$ 700 bilhões necessários especificamente no Brasil. Isso é desafiador, porque significa uma projeção global de US$ 4 trilhões por ano, enquanto a realidade atual é de apenas US$ 1 trilhão a cada 12 meses.

A transição para uma economia de baixo carbono é uma prioridade para muitos dos clientes da BlackRock, e eles estão pedindo a ajuda da companhia para navegar por ela. Em nossa recente pesquisa de mercado com 200 investidores institucionais, por exemplo, 56% disseram que planejam aumentar as alocações de transição nos próximos 1 a 3 anos.

Além disso, 100% dos clientes institucionais da BlackRock na Europa têm como meta a emissão zero de carbono. Em todo o mundo, o mesmo indicador representa 60% de nossa base de clientes. E esses clientes estão colocando dinheiro de verdade para trabalhar, o setor de investimentos sustentáveis levantou seis vezes mais fundos entre 2019 e 2021 em comparação com as estratégias convencionais.

Hoje, muitos de nossos clientes estão focados em navegar pelos riscos e oportunidades de investimento associados à transição para uma economia de baixo carbono em todo o seu portfólio.

Vantagem

O Brasil está bem posicionado para atrair capital de investimento de baixo carbono. O País já é conhecido globalmente como um berço de alternativas renováveis para seu próprio abastecimento, tendo uma das matrizes energéticas mais verdes do mundo, enquanto as economias consolidadas ainda dependem principalmente de combustíveis fósseis.

Até agosto deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) registrou um aumento de cerca de 7 megawatts (MW) na capacidade instalada. Desse aumento, as fontes solar e eólica foram responsáveis por 97,5%. E, nesse cenário, o país tem um potencial significativo para se tornar um participante global.

A BlackRock está tomando uma série de medidas para desbloquear oportunidades de financiamento de transição em mercados emergentes, incluindo nosso fundo climático, a Climate Finance Partnership (CFP).

Por meio da CFP, já investimos no Quênia, nas Filipinas e na Tailândia. Aqui no Brasil, acabamos de anunciar um acordo definitivo para adquirir uma participação minoritária significativa na Brasol, uma empresa líder em energia solar, com o objetivo de acelerar o fluxo de capital para a infraestrutura no contexto da transição climática. Esse é o primeiro investimento do fundo no mercado privado da América Latina.

Desafios

Apesar de estar posicionado como líder global na transição para uma economia de baixo carbono, alguns desafios persistem para que o Brasil atraia mais investimentos internacionais.

O primeiro deles é a volatilidade da moeda, o que faz com que os investidores internacionais relutem um pouco em olhar para o Brasil, já que investimentos desse tipo tendem a ter vencimentos mais longos e menos liquidez quando se trata de alocar ou desalocar recursos.

Além disso, o País tem a oportunidade de atuar como um melhor embaixador de si mesmo, reforçando de forma incisiva seu potencial no mercado financeiro global. Temos tudo o que é necessário para apresentar ao mundo um portfólio completo de investimentos sustentáveis

O Brasil tem uma agenda forte e favorável às questões climáticas e ambientais. Um bom exemplo é a participação do país em importantes eventos globais, como reuniões da ONU e até mesmo as últimas conferências climáticas, o que destaca uma das maiores oportunidades que teremos no próximo ano: a COP 30, que será realizada em Belém, no Pará.

Em outras palavras, precisamos mostrar que o Brasil é uma referência na América Latina para a economia verde e tem potencial para ser um player global na transição de baixo carbono.