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Colunista

BB no fundo do poço: banco promete honrar dividendos e aconselha compra. Dá para confiar?

Um gigante que perdeu seu palco e desapontou investidores com a queda do payout agora tenta se reinventar e reajustar a rota

 Foto: Adobe Stock
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A jacarezada acordou agitada. Antes do pregão, memes pipocavam nos grupos: “Hoje o BB pode cair, subir ou ficar parado”. Diante de resultados de filme de terror no balanço do BB, uns temiam novo tombo das ações, outros ainda apostavam que a bolsa, sempre um mar de surpresas, operasse um milagre.

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O Banco do Brasil reportou lucro líquido de R$ 3,8 bilhões no 2º TRI25, queda anual de 60,2%. O ROE despencou para 8,4% e o payout foi cortado para 30%.

Mesmo assim, as ações BBAS3 fecharam o pregão desta sexta com alta de 4,03%, cotadas a R$ 20,65. A jacarezada louvou de pé. Milagre? Não. É coragem aparecer e dar a cara a tapa em tempos de vacas magras, postura que vi na CEO Tarciana Medeiros, no CFO Geovanne Tobias e na diretoria na coletiva de imprensa desta sexta-feira (15). E, sim, bem diferente de certas empresas que só falam com a imprensa sob a condição de ganhar manchete positiva (história polêmica recente para outro dia).

Teve de tudo no encontro: recado icônico da CEO “Quem tem a ação BBAS3 mantenha, quem não tem compre” e até pergunta sobre pressão dela diante da possibilidade de perder o cargo. O CFO também não fugiu do karma da sua frase lendária: “Eu não sou o Itaú, sou muito melhor que o Itaú”, questionado se, diante do fundo do poço, ainda pensa o mesmo.

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Com um ar mais humilde e contido – quem sabe já bem treinado pelos assessores para a pergunta indiscreta -, ele reconheceu a qualidade dos resultados do concorrente privado, mas reforçou que “Não tem dúvida de capacidade e qualidade do BB ser o melhor banco do Brasil, mesmo com altos e baixos”.

Para a jacarezada aflita, ficou a promessa de recuperação dos dividendos. Te conto minhas percepções sinceras do banco mais azarado de 2025.

Payout do BB

Definir o payout do BB foi novela na reunião. Primeiro, Tobias animou ao falar em dividendos extraordinários do BB. No fim, com as contas claras, o investidor em 2025 terá de se contentar com 30% do lucro líquido em proventos, sem surpresas num ano de ajuste e busca por rentabilidade.

Em 2026, a gestão levará nova proposta ao Conselho. O CFO disse que pode haver aumento do payout ou como segunda alternativa manutenção dos 30%, com chance de dividendos extraordinários, “algo parecido ao que o Itaú fez, que proporciona mais flexibilidade na gestão de capital”. Olha o CFO aprendendo com o concorrente!

Analistas me disseram que o payout deve voltar à normalidade (40%–45%) só em 2027. Tobias, porém, não quis cravar prazo.

Não era melhor imitar o Bradesco?

Quando a rentabilidade é baixa, como o ROE de 8,4% do BB, o pior entre os bancões no 2º tri, investir na própria operação parece pouco atraente. O Bradesco, em situação parecida, manteve payout alto para agradar acionistas, já que o dinheiro era imprestável na própria instituição.

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O BB fez o oposto: cortou dividendos e decidiu investir mais na operação. Questionei a CEO sobre o motivo, e ela disse que “temos uma estratégia corporativa de longo prazo e sempre ressalto nossa disciplina na execução. O BB revisa anualmente quanto precisa reinvestir para manter o banco rentável e sustentável”.

Segundo Medeiros, o foco agora é manter o crescimento do banco estatal, capacitar pessoas, contratar funcionários, acelerar a digitalização e investir em tecnologia e inteligência artificial. Só neste ano já foram aplicados R$ 3,2 bilhões, inclusive em plataformas CRM que ajudaram a gerar 145 milhões de contatos com clientes no 1º semestre.

Ela afirmou que “seria mais fácil não investir e aumentar o resultado do curto prazo, mas não seria sustentável. Preferimos entregar um futuro sólido, retomando patamares já vistos a partir de 2026”, reforçando que o objetivo é devolver ao investidor, lá na frente, os proventos e a rentabilidade esperados.

Eu entendo o sentimento: para o minoritário, cortar renda passiva no presente dói. Mas, como a Tarci, pergunto, de que adianta dividendo alto agora se inadimplência e baixa rentabilidade minam o futuro? Eu fico com o longo prazo, não sei vocês.

Recado para o investidor de dividendos

O olhar de curto prazo é desanimador. O dividend yield do BB, antes projetado em 10%–11%, emagreceu mais que o Ozempic promete e caiu para 6%, com lucro estimado entre R$ 21 e R$ 25 bilhões em 2025 — no limite mínimo de dividendos para considerar uma boa pagadora.

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Para o CFO, há vantagens: ações negociando a 60% do valor patrimonial. “O investidor do BB pode ter certeza de que seu investimento está sendo bem remunerado, mesmo diante do efeito manada que compra na alta e vende na baixa”. Ele vê o momento como oportunidade, já que garante que o ciclo ruim do BB vai passar.

Medeiros concorda e recomenda: “quem não tem BBAS3, compre, quem tem e está na dúvida, mantenha”. A CEO lembra ainda que os dividendos pagos nos últimos 2 anos e meio superam os 5 anteriores, e que 2025 sofre com um problema pontual de inadimplência.

“Investidores, aguardem 2025, o BB vai entregar ao mercado o que se propus entregar. O ano de 2026 será um ano de recuperação, quem é investidor que confiou no BB as suas economias, a sua expectativa de dividendos, eles serão honrados” garantiu.

A postura agradou parte dos investidores, mas há quem aposte que mudanças reais só virão em 2027. Estaremos atentos.

Agronegócio, seus vilões e as RJ

Não podia faltar o vilão do ano: o agronegócio, eterno calcanhar de Aquiles do BB. Surpresa para muitos: a crise de inadimplência do Banco do Brasil não veio de pequenos produtores ou grandes empresas, mas de clientes private, ou seja grandes produtores rurais de alta renda das regiões Centro-Oeste e Sul.

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Segundo a CEO, são 808 clientes em recuperação judicial que concentram dívidas de R$ 5,4 bilhões, com créditos tomados em 2021 e 2022 e atrasos desde 2023, afetados por seca e enchentes no RS. Na carteira agro, 20 mil clientes estão com contas em atraso há mais de 90 dias, de um total de um milhão.

Parte precisaria mesmo de recuperação judicial, mas o BB vê influência de escritórios de advocacia que usam a RJ como ferramenta predatória para influenciar produtores a não pagar dívidas, criando uma bola de neve.

A gestão diz negociar com produtores, buscar alternativas via consultoria e já mapeou escritórios que promovem RJ nas redes sociais, podendo retaliar na Justiça. Medeiros afirma que o crescimento dos pedidos desacelerou no 2º tri e que a Justiça começa a barrar abusos. “Em Goiás, por exemplo, negaram RJ coletiva de 18 produtores orientados por esse tipo de escritório”, disse.

Com o desembolso do Plano Safra de R$ 230 bilhões para 2025 e 2026, o banco espera retomada de crédito e queda na inadimplência. Desde agosto de 2024, usa alienação fiduciária, o que dá mais seletividade e vínculo judicial com os produtores.

Medidas estão em curso, mas o ciclo do agro não é simples. Analistas me disseram, nos bastidores, que o BB pode estar subestimando essa crise. E aí, em quem acreditar?

Outros pontos

Apesar de ser o banco do agro, o BB vai priorizar, no resto do ano, a carteira de crédito para pessoas físicas, sem esquecer suas raízes rurais. No novo guidance, o crescimento projetado para PF é o maior, entre 7% e 10%; no 1º semestre já foi entregue 8%.

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Segundo o CFO, essa carteira tem “retorno ajustado ao risco melhor” e ajuda a controlar a inadimplência. Entre as apostas está o consignado privado: nesta semana, o BB atingiu R$ 7 bilhões em contratações no Crédito do Trabalhador, com 732 mil operações, mais de 115 mil empregadores e ticket médio de R$ 9,5 mil.

Também foi inevitável a pergunta sobre pressão para perder o cargo. Medeiros disse não sentir pressão política: “O presidente Lula não mostrou nenhuma intenção de alterações no Banco do Brasil. Não conversamos sobre o assunto”. Para ela, a maior pressão vivida diariamente é entregar resultados à altura do tamanho do BB. Esperemos que Lula não tenha surpresas para Tarciana.

Visão sincera

Pode ser que o mercado esteja descrente e cauteloso, afinal, é uma tempestade perfeita, com sequência de resultados ruins e sem luz no fim do túnel. Mas, como comentei no início, é de corajosos admitir erros, reajustar a rota e se reerguer quando todos te deram as costas.

Se você já esteve no fundo do poço [eu já], ou viu uma empresa nessa situação, sabe como é difícil retomar credibilidade quando todos apostam no seu tropeço. Não sei se concordo com o CFO de que o BB é o melhor banco da bolsa agora, mas se mantiver seu histórico de rentabilidade comprovado em 200 anos, tem grande chance de ser o melhor no longo prazo.

Eu, pessoalmente, estou esperando que a gestão honre meus dividendos no futuro, hein, Tarciana.

 

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