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Colunista

Dividendos sem sal e sem drama: por que Isa Energia (ISAE4) segue consistente no longo prazo

Desde 2002, quando abriu capital, a companhia distribuiu mais de 50% do lucro líquido regulatório em proventos

Isa Energia - Foto: Adobe Stock
Isa Energia - Foto: Adobe Stock

Na bolsa de valores, ser “certinho” o tempo todo pode parecer chato, mas é exatamente esse tipo de perfil de empresa que é ideal para uma carteira de dividendos no longo prazo. Se procura emoções fortes, então é melhor pular de paraquedas.

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Para viver de renda e se aposentar, escolha as “chatinhas” – aquelas empresas com resultados consistentes, em qualquer cenário econômico, e que distribuem dividendos equilibrados. Geralmente, essas empresas mantêm o mesmo payout (parcela do lucro destinado a dividendos) todo ano, sem solavancos, e pagam proventos extraordinários quando possível.

Além disso, é justo dizer que elas evitam polêmicas e ruídos que gerem volatilidade nas ações ou fuga de investidores, e nunca vazam informações.

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A Isa Energia (ISAE4) é um bom exemplo disso, e, se você já conversou com a gestão, entende do que estou falando. Desde 2002, quando abriu capital, a companhia distribuiu mais de 50% do lucro líquido regulatório em proventos, exceto em 2004, 2012 e 2013. Nos últimos 10 anos, o payout regulatório variou de 75% a 210%, mesmo com alta do endividamento e investimentos. Agora, a meta é distribuir no mínimo 75% até 2028.

O tripé estratégico da Isa Energia é disciplina financeira, com endividamento controlado, crescimento competitivo e sem sacrificar os bons dividendos. Conversei com Rui Chammas, CEO da Isa Energia Brasil, e Silvia Wada, CFO e diretora de Relações com Investidores e Desenvolvimento de Negócios, e compartilho minhas impressões sobre esses pilares.

Endividamento

Recentemente, ouvi de um analista: “A foto da Isa Energia hoje não é bonita, mas o filme justifica tudo”. Ele se referia ao balanço do 1° trimestre de 2025, que trouxe avanços e alertas.

Receita e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceram 2,1% e 2,9%, somando R$ 1,132 bilhão e R$ 923,3 milhões, respectivamente. A queda nos custos agradou o mercado. Já o lucro líquido regulatório recuou 17,6%, para R$ 337,4 milhões, pressionado pela dívida, que chegou a R$ 12,1 bilhões, com alavancagem de 3,16 vezes dívida líquida/ebitda.

Ou seja, empresa está mais endividada e pode superar 4 vezes até 2028, com o fim da RBSE (Rede Básica Sistema Existente), indenização que responde por 33% da receita. Daí a pressa por novos investimentos.

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Wada projeta que vão chegar no pico da dívida em 2027, com redução a partir de 2028 – possivelmente antes, se houver entradas da RBSE ou acordo na disputa bilionária com a Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Dividendos

Se por um lado a estratégia da Isa Energia revela que a transmissora está focada com força nos investimentos, do ponto de vista dos dividendos, a realidade é outra. As novidades beiram um caminho sem sal, sem nenhuma mudança no curto e médio prazo, contudo, a empresa também não deixa seus acionistas desprotegidos, e nem deixa de cumprir com os seus compromissos de remuneração.

Pelo o seu estatuto social, a Isa Energia poderia pagar menos, mas os executivos garantem que a prática de distribuir 75% do lucro líquido regulatório em proventos vai ficar até 2028. Segundo Wada, pode haver dividendos extras, caso sobrem recursos. “A prática não é rígida, tem flexibilidade”, afirmou.

Questionei sobre a possibilidade de ampliar esse payout após o fim do ciclo de investimentos, mas Wada foi categórica: não há planos de alterar a política, nem antes nem depois de 2028. “É cedo para imaginar, mas podem surgir outras oportunidades até lá”, disse, sem se comprometer.

Outro ponto foi a frequência de pagamentos. Até 2021, a Isa Energia fazia 3 ou 4 distribuições por ano. Em 2022, passou a pagar uma vez só, mudança que desagradou os investidores. Diante da pressão, neste ano a empresa dividiu o pagamento em três parcelas (janeiro, fevereiro e março). Os valores são referentes ao exercício de 2024. Mas a estratégia parece mais um teste do que uma nova diretriz.

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Wada explicou que a companhia prefere ter liberdade para decidir a melhor forma de pagar os dividendos ano a ano, levando em conta o caixa e o cronograma de investimentos. “Essa disciplina financeira é importante para equilibrar o crescimento e a distribuição consistente de dividendos e não ter essa falta de payout”, disse.

O CEO, Chammas, reforçou a ideia de consistência como prioridade. Para ele, o equilíbrio entre investimentos rentáveis, gestão da dívida e proventos é essencial. “Quanto mais consistentes formos ao longo do tempo, mais valor geraremos aos acionistas”, afirmou.

Na prática, o investidor ainda não sabe se o pagamento será anual, parcelado ou se pode melhorar no futuro. Vai depender do ano e da disposição da Isa Energia em abrir o jogo.

A transmissora também mudou radicalmente a forma como remunera seus acionistas na última década. Antes, usava só dividendos ou misturava as distribuições com juros sobre capital próprio (JCP). Mas, a partir de 2022 só paga JCP, que tem imposto de 15% retido na fonte. Uma forma de pagar menos impostos ao governo e buscar eficiência tributária.

Oportunidades à vista

A Isa Energia pode reforçar o caixa antes de 2028 e, de quebra, resolver um conflito histórico que drena valor da companhia, o que pode destravar dividendos extraordinários.

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Chammas explicou que, quando a empresa ainda era estatal, a Lei 4819/58 permitia que funcionários admitidos até 1974 se aposentassem como servidores públicos. Inicialmente, o Estado arcava com o benefício, mas depois passou a pagar apenas parte, deixando o restante com a empresa numa proporção de 70%-30%. No último pagamento, a Isa complementou R$ 200 milhões.

Para Chammas, essa responsabilidade não é da empresa, e ele cobra do Estado a restituição, hoje estimada em R$ 2,6 bilhões, se vencer na Justiça.

A companhia iniciou um processo de conciliação com o Estado no CEJUSC (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania). Embora Chammas não tenha revelado se o valor pode ser reduzido ou quando haverá uma definição, afirmou que o objetivo é resolver a questão rapidamente e gerar valor para os acionistas.

Ele também não quis antecipar se o recurso seria usado para investimentos, antecipação de dívidas ou pagamento de dividendos. Mas o investidor segue na expectativa de uma distribuição extraordinária. A primeira reunião de conciliação deve ocorrer em breve, segundo o CEO.

Dívida vs dividendos

Se está preocupado com uma possível alavancagem acima de 4x o Ebida, relaxe. Para entender o impacto da dívida sobre os dividendos, analisei dados da última década com um levantamento feito por Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, e o TradeMap.

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Até 2019, a Isa Energia mantinha a alavancagem cerca de 1 vez. Com o novo ciclo de investimentos iniciado em 2020, a dívida subiu, chegando a 3,16 vezes no 1º tri de 2025. Ainda assim, os dividendos seguem firmes: pelo menos 75% do lucro líquido regulatório.

O payout de 210% em 2021 foi um ponto fora da curva, impulsionado por antecipações da RBSE e do pagamento de dividendos, diante de possível tributação.

Para Oliveira, mesmo com a dívida em alta até 2028, a Isa Energia segue sólida para quem busca dividendos, com remuneração atrativa e capacidade de manter seu payout. Na visão dele, quando a empresa começar a reduzir o endividamento e alavancagem teria condições de ter um payout de 80% ou 90%. Falta só a vontade da empresa mesmo para isso acontecer, né?

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Uma visão sincera

A Isa Energia não empolga, mas entrega. A estratégia é previsível, e os 75% do lucro líquido regulatório em dividendos seguem firmes, o que não dá para ser ignorado.

Apesar do perfil conservador, e sem fortes emoções, são empresas assim que sustentam uma carteira de renda no longo prazo. Sem promessas ousadas, mas há disciplina.

Segundo o TradeMap, entre 9 casas que cobrem a companhia, 3 recomendam compra (BB Investimentos, Itaú BBA e Genial) e 6 estão neutras. O dividend yield médio projetado para 2025 é de 8,38%, com preço-alvo médio de R$ 27,03, para valorização.

Você investidor de Isa Energia, concorda comigo? Prefere as “chatinhas” ou as ações que são uma montanha-russa?

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