A Vale (VALE3) quer pagar dividendos extraordinários e todos os seus fundamentos, além da postura dos executivos da companhia, indicam que está pronta para isso. Falta apenas o governo facilitar.
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A Vale (VALE3) quer pagar dividendos extraordinários e todos os seus fundamentos, além da postura dos executivos da companhia, indicam que está pronta para isso. Falta apenas o governo facilitar.
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Para alegria dos investidores, a mineradora segue gerando um bom caixa e, com o minério de ferro acima de US$ 100, tem capacidade de fazer remunerações extras nos próximos meses e ainda reduzir o endividamento para o ponto médio da meta, em US$ 15 bilhões.
O cenário, porém, segue nebuloso por causa da possível tributação dos dividendos (de 10% para distribuições acima de R$ 50 mil mensais). Investidores que receberem mais do que esse montante de uma única empresa seriam afetados. O Projeto de Lei 1087/25, já aprovado na Câmara dos Deputados, ainda tramita no Senado, mas tudo indica que se resolve ainda em 2025.
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Enquanto isso, o mercado observa atento. O CFO da Vale, Marcelo Bacci reconhece que há muitos pontos soltos sobre a tributação, o que dificulta definir a distribuição extra. Um deles é o prazo: o PL permite declarar dividendos até dezembro e pagá-los em até três anos, mas a Lei das S.A (Sociedade das Ações). determina pagamento em no máximo 12 meses. A contradição, segundo o executivo, trava as decisões sobre pagamentos.
A Vale também avalia recorrer aos juros sobre capital próprio (JCP), caso a tributação seja aprovada. “Do ponto de vista tributário seria eficiente para a companhia. A gente poderia seguir pagando dessa forma e não seria afetado pela nova regra do dividendo porque pagaria tudo em JCP”, disse Bacci, lembrando que há um limite de volume para essas distribuições em juros sobre capital próprio.
A companhia ainda quer observar a evolução da geração de caixa antes de emitir opinião definitiva sobre dividendos extraordinários. Questionado sobre o valor ou patamar dos JCP extras, o CFO afirmou: “Precisamos de mais clareza para definir o montante e o timing (tempo) de pagamento.”
Mesmo assim, Bacci garante que a Vale não teme perder espaço entre os investidores que gostam de boas pagadoras. “No longo prazo, a situação continua quase a mesma. Não pretendemos mudar nossa política de dividendos em função disso”, afirmou. O que mudaria seria a companhia fazer mais uso de JCP de agora em diante.
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Para Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, trocar dividendos por JCP não tira a atratividade dos pagamentos e o efeito é quase neutro. Mas depende da ótica. “Para o acionista, faz mais sentido continuar recebendo dividendos”, diz. Isso porque o JCP já é tributado em 15% na fonte, enquanto o dividendo seria em apenas 10% para certos casos que extrapolem os R$ 50 mil mensais.
Já para a Vale, a lógica é diferente. “Como o lucro tributado é reduzido ao usar JCP, a empresa paga menos imposto e tem um lucro líquido maior, dando mais espaço a remuneração do acionista” Segundo Bueno, a solução escolhida pela Vale precisa beneficiar os dois lados: “Sendo boa para a empresa, o investidor também se beneficia.”
Sobre as perspectivas de remuneração, o CFO reforça que nada muda para os próximos 12 meses. A dívida líquida expandida, hoje em US$ 16,6 bilhões, deve cair até o fim do ano. “À medida que se aproxima da faixa inferior, de US$ 10 bilhões, teremos uma tendência maior de pagar proventos e vice-versa”, diz. A faixa máxima de dívida é US$ 20 bilhões. “Mas a dinâmica para 2026 segue a mesma, muito influenciada pelo preço do minério, cobre e níquel”, explicou.
Bacci adiantou ainda que, nos próximos 12 meses, a política de dividendos não deve mudar. No médio prazo, com a redução dos custos de reparações para Brumadinho e Mariana, a dívida líquida pode cair e abrir espaço para ajustes na metodologia dos proventos. “Para 2026, a metodologia é a mesma de hoje, mas nos dois anos subsequentes essa relação pode mudar um pouco e podemos repensar”, afirmou.
Historicamente, a Vale já distribuiu proventos extraordinários em dezembro, dado que os dividendos e JCP regulares são pagos em março e setembro. O mercado aposta que o roteiro se repita e o anúncio ocorra até dezembro neste ano.
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Para os analistas, a mineradora tem total capacidade de pagar mais um provento. Bueno, da Nord, projeta retorno de 7% em dividendos nos próximos 12 meses apenas com os ordinários, e recomenda compra de VALE3 até R$ 71.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, vê os dividendos extraordinários ganhando tração e aposta que o anúncio virá em dezembro, durante o Investor Day da Vale. “Dezembro é a oportunidade de a mineradora divulgar os dividendos para analistas e investidores”, diz. Isso porque neste evento a companhia já terá um panorama melhor sobre os planos para 2026 e apresentará isso publicamente.
A dívida líquida expandida, próxima dos US$ 15 bilhões, um dos requisitos para proventos extras, reforça a teoria de Arbetman. “Em dezembro, a companhia terá um panorama melhor de oportunidades e projeções, facilitando a decisão”, avalia Arbetman.
Durante a teleconferência, o CEO e o CFO da Vale afirmaram que, para quem acredita no minério acima de US$ 100, o momento de comprar VALE3 é agora.
Os analistas, no entanto, mantêm certo ceticismo com a frase. Arbetman reconhece que os preços do minério estão acima do esperado no curto prazo, mas dúvida da força da China como consumidora de aço e minério no longo prazo. “Tenho dúvidas sobre a manutenção de um ambiente saudável para preços do minério no longo prazo”, diz. Ele tem recomendação neutra para a ação e vê potencial de valorização até US$ 65 nos próximos 12 meses. Com dividendos regulares, o dividend yield chega a 7,7%.
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Bueno também é cético. Ele destaca que com minério acima de US$ 100, o panorama é bom para os dividendos da Vale, abaixo de US$ 90 ou US$ 80, desfavorável. Chegando a US$ 150, seria excelente. “O ideal é olhar a fotografia do momento. No preço atual, a Vale é uma geradora de caixa muito forte e vai continuar mantendo esses bons pagamentos daqui para frente”, defende.
Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, lembra que a Vale reduziu investimentos e ampliou o caixa livre para US$ 1,56 bilhão, reforçando a capacidade de remunerar acionistas.
“Embora o CFO tenha indicado que um dividendo extraordinário ainda dependa da tributação e do caixa, o cenário operacional e o histórico da Vale sugerem que essa distribuição pode ocorrer até dezembro, caso o ambiente fiscal permaneça estável”, afirma o analista da Terra, que reforça que a Vale tem elevada disciplina de capital, baixa alavancagem e sólida rentabilidade que reforçam essa teoria.
Chinchila projeta um dividend yield de 8% nos próximos 12 meses, muito competitivo para o setor. Com as ações baratas, negociando a preço sobre lucro de 6,3 vezes e EV/Ebitda de 4,5 vezes, ele concorda com os executivos: vale comprar agora, até R$ 67, com potencial de valorização até R$ 75.
Alguns investidores cogitam vender as ações e aproveitar a alta recente de VALE3. Mas tudo indica que em dezembro pode vir o tão esperado anúncio de dividendos extraordinários. Até lá, o governo deve resolver a questão tributária, dando à Vale mais clareza para distribuir.
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A companhia segue com produção robusta, bons preços, custos menores e dívida próxima do ideal. Então, o que impede dar uma chance ao papel?
Na minha visão, na pior das hipóteses, o investidor embolsa entre 7% e 8% de proventos regulares, acima da média da bolsa, que é de 6%. E, se o governo não atrapalhar, dezembro pode vir com mais um presente da gigante da mineração.
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