A vida é feita de ciclos bons e ruins e o segredo pode estar em saber se reinventar e manter a confiança. A lógica também vale para a Bolsa de valores, e poucas empresas representam isso tão bem quanto a Valid (VLID3).
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A vida é feita de ciclos bons e ruins e o segredo pode estar em saber se reinventar e manter a confiança. A lógica também vale para a Bolsa de valores, e poucas empresas representam isso tão bem quanto a Valid (VLID3).
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Você provavelmente já ouviu falar da companhia ou a viu em carteiras de dividendos. E, claro, deve ter se perguntado: o que essa empresa faz mesmo? Mas a Valid está mais presente no seu dia a dia do que você imagina. Com valor de mercado de R$ 1,79 bilhão e 68 anos de história, ela atua em três frentes: produção de documentos de identidade como RG e CNH, fabricação de chips e de cartões e meios de pagamento. Sim, é bem provável que o seu cartão de crédito ou débito tenha sido feito por ela.
Com o avanço da digitalização, dos chips digitais (e-sim) às carteiras online como o Google Pay, a Valid precisou mudar para não se tornar obsoleta. Carlos Herrera, analista e fundador da Condor Insider, lembra que, no início dos anos 2000, a empresa vivia uma fase de ouro, com margens acima de 20%, ROIC (retorno sobre capital investido) superior a 25% e praticamente sem dívida líquida.
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Mas a modernização para não sucumbir a digitalização destes segmentos cobrou seu preço. “A alavancagem chegou a superar 3,5 vezes o Ebitda, o lucro foi pressionado e o retorno sobre o capital caiu para um dígito. O mercado perdeu confiança. Para nós, foi justamente nesse momento que a tese começou a se formar”, diz Herrera.
O que parecia uma crise virou um ponto de virada, como também ocorre com a vida real. A partir de 2021, após uma reestruturação completa, a Valid reduziu custos, vendeu ativos, fortaleceu o caixa e voltou a investir com disciplina. Segundo Herrera, o que era desafio virou “um dos turnarounds mais consistentes do setor”.
E é assim que a Valid chega ao Raio-X desta coluna. Não é uma vaca leiteira, mas é uma ação de “crescidendos” — combinação de crescimento com dividendos — que merece estar no radar. Conversei com o CEO Ilson Bressan e o CFO Olavo Vaz e, como de costume, te conto com sinceridade minhas impressões.
Das três principais linhas de negócio da Valid: ID, Pay e Mobile, o CEO destaca que a vertical de documentos de identidade é a que mais pesa no crescimento e na receita, com avanço anual entre 15% e 20%.
A empresa é líder na emissão de documentos oficiais no Brasil e tem acompanhado a digitalização do setor. Com a Carteira de Identidade Nacional (CIN) que deve substituir o RG, surge uma avenida de oportunidades. No 3° trimestre de 2025, já foram emitidas 35 milhões de CINs, superando a demanda da CNH.
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Para o CEO, o diferencial está nos contratos públicos mais longos, que garantem previsibilidade e receita recorrente. “A vertical de identidade tem se apresentado como o grande impacto que a Valid pode dar para uma sociedade que cada vez mais se digitaliza”, afirma.
A segurança digital também virou um pilar de crescimento. Bressan lembra que não basta ter um documento oficial seguro, mas sim um documento digital protegido por credenciais que garantam transações seguras num mundo quase 100% online. “Vale para transação bancária, para abertura de conta, para recuperar uma senha, para contratar um carro ou seguradora”, exemplifica.
A Valid passou tanto tempo focada em identidade que a biometria e a chamada “identidade das coisas” já fazem parte do seu DNA. Essa base ajudou na metamorfose recente da companhia. Hoje, os novos negócios digitais já representam 15% da receita.
O Vaz, o CFO, lembra que, em 2022, essas frentes somavam apenas R$ 3 milhões. Em 2023, subiram para R$ 52 milhões e, em 2024, chegaram a R$ 216 milhões. Para 2025, a projeção é superar R$ 320 milhões. “Nossa receita anualizada indica R$ 332 milhões”, afirma.
O CEO destaca que, apesar do salto, o número ainda representa apenas 1% do mercado que a empresa pode acessar. “Quando olhamos o mercado de cibersegurança voltado à identidade e credenciais digitais, o negócio supera R$ 26 bilhões só no Brasil. Com R$ 332 milhões, só começamos a arranhar a superfície”, diz. Vaz estima que até o fim do ano o faturamento digital pode chegar a R$ 350 milhões, tornando-se o terceiro maior negócio da Valid.
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A reinvenção também chega aos meios de pagamento. Com o avanço das carteiras digitais como Google Pay, Apple Pay e Samsung Pay, os tradicionais cartões físicos podem estar com os dias contados. Mesmo tokenizados ou virtuais, ainda há taxas cobradas do usuário, cerca de 0,15% por transação, lembra Bressan.
Para a Valid, o futuro dos pagamentos será cada vez mais digital, mas a segurança continuará sendo o principal ativo. Segundo o CEO, a experiência acumulada com identidades, biometrias e sistemas de pagamento deu à empresa uma infraestrutura de dados sólida, que hoje sustenta sua atuação em prevenção de fraudes e até no monitoramento de hábitos de consumo.
No setor de chips, o tradicional SIM está evoluindo para o e-SIM, que dispensa o chip físico. Bressan vê grande potencial na China, onde a adoção ainda é baixa, mas deve disparar a partir de 2026. “Teremos uma explosão de e-SIMs na China, e a Valid está mega bem-posicionada lá. Temos grandes chances de virar líder global”, afirma. Em 2024, essa vertical movimentava R$ 17 milhões e dobrou para R$ 34 milhões. A meta é alcançar até R$ 800 milhões apenas na vertical de telecom.
Perguntei aos executivos como a Valid se vê nos próximos cinco ou dez anos. A resposta foi clara: “Ser uma empresa de tecnologia que prove para a sociedade uma infraestrutura de transações seguras, um player de confiança ancorado na tecnologia, com um portfólio digital.” A ambição é ser reconhecida como referência em transações digitais seguras, um dos pilares estratégicos da companhia.
E agora, entrando no ponto que a jacarezada mais espera: a Valid não quer ser uma vaca leiteira que distribui 80% ou 100% do lucro em dividendos. A meta é equilibrar rentabilidade, crescimento e remuneração dos acionistas. Uma ação típica de crescidendos. “Juntar isso pode parecer paradoxal, mas temos um caminho para fazer isso de forma equilibrada”, afirma o CEO.
A Valid (VLID3) é obrigada a distribuir 25% do lucro em proventos, mas vem pagando o dobro disso, 50% de payout nos últimos anos. Segundo o CFO, a regra é simples: quando há espaço, o payout pode até superar os 50%, quando o foco é investir, fica nos 25%.
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A empresa costuma remunerar o acionista quatro vezes por ano e busca eficiência fiscal com juros sobre capital próprio (JCP) e recompras, o que reduz o impacto da nova tributação. Mesmo assim, prevê ajustes do governo no JCP e já distribuiu cerca de R$ 200 milhões de exercícios anteriores. “Tendo espaço para JCPs adicionais, vamos pagar, porque não deixamos benefício fiscal na mesa”, afirma Vaz. As distribuições são trimestrais, geralmente em março, junho, setembro e dezembro.
Com dividend yield esperado acima de 12% em 2025, analistas como Herrera projetam até 15% nos próximos anos, se não houver aquisições grandes. O payout deve girar em 60%. O CFO evita projeções, mas diz que yields acima de 10% são sustentáveis graças aos contratos perenes de emissão de documentos. “O negócio está sempre ali, o que muda é o número de emissões pelos dias úteis, mas a geração de caixa é previsível”, diz.
A dívida é baixa e, segundo o CEO, o yield alto também reflete o preço descontado das ações. “Os novos negócios ainda representam 15% da receita e precisariam chegar a 40% ou 50% para destravar o valor de VLID3”, comenta.
A Valid diz não temer a tributação de dividendos, já que usa JCP e tem pouca base de pessoa física. Ainda assim, pode antecipar proventos se o Conselho aprovar.
Comentei com uma fonte sobre a Valid e ouvi: “É investir em um negócio que vai desaparecer.” A realidade é o oposto. A empresa está se reinventando, mesmo longe dos holofotes.
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Herrera, que acompanha o papel desde 2018, diz que a maior virtude da Valid é se adaptar. “Ao longo desse tempo, vi a companhia mudar, errar, corrigir, trocar de gestão e voltar a crescer”, conta.
Entre 2021 e 2025, os proventos saltaram de R$ 20 milhões para R$ 150 milhões. Somando o período até dezembro, serão R$ 450 milhões distribuídos, um retorno de 50% em três anos. “Além de entregar um dividend yield de 15% nos próximos anos, o preço-alvo é de R$ 30 por ação, uma valorização de quase 40%”, projeta o analista.
A Valid (VLID3) parece tirar de letra a arte de se adaptar e agora surfa na segurança digital, tão essencial no mundo atual. Na minha visão sincera, a empresa merecia mais espaço entre os investidores. Não colocaria todas as minhas economias nela, mas vale acompanhar a metamorfose e ter como pimentinha da carteira.
Afinal, documento, chip e meio de pagamento todo mundo precisa e, convenhamos, segurança digital nunca sai de moda.
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