Marco Saravalle é analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest. Foi estrategista de Investimentos do Banco Safra, estrategista de Investimentos da XP Investimentos, analista e co-gestor de fundos de investimentos na Fator Administração de Recursos e GrandPrix e analista de ações na Coinvalores e Socopa. Formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, Pós-graduado em Mercado de Capitais pela USP e Mestrando em Economia e Finanças pela FGV/EESP. Iniciou sua carreira no programa de Trainee do Citibank. Atualmente é Diretor Administrativo/Financeiro da Apimec Nacional, membro do comitê de
educação da CVM e presidente do Conselho da ONG de educação financeira,
Multiplicando Sonhos.

Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras

Marco Saravalle

As controvérsias do investimento ESG

Tendência se tornou um comportamento comum entre os investidores de todas as partes do mundo

Investimentos em ESG estão deixando de ser feitos apenas por gosto do investidor, mas se tornando uma tendência em sustentabilidade empresarial. FOTO: twenty20photos
  • Existem muitos motivos pelo qual acredita-se que uma empresa com práticas ESG é mais confiável e sustentável ao longo do tempo
  • De forma prática, o funcionamento de uma mineradora já fere o termo ambiental da abordagem ESG
  • As classificações impactam diretamente a vida do investidor, uma vez que o rendimento/risco e a opção de financiar uma indústria específica são negligenciadas

Investimentos em ESG estão deixando de ser feitos apenas por gosto do investidor, mas se tornando uma tendência em sustentabilidade empresarial que propõe a integração de preocupações ambientais com o bem estar social e de governança de uma empresa.

Atualmente, essa tendência se tornou um comportamento comum entre os investidores de toda as partes do mundo para definirem suas carteiras.

Existem muitos motivos pelos quais acredita-se que uma empresa com práticas ESG é mais confiável e sustentável ao longo do tempo, com menor risco sistêmico presente em suas operações ou a diminuição de escândalos administrativos. Segundo o Journal of Finance, o valor da empresa no mercado aumenta apenas pela menor exposição a possíveis riscos desse gênero, com potencial para uma diminuição drástica no seu valor em um curtíssimo período de tempo, como aconteceu com a Vale no Brasil em relação aos desastres de Mariana e Brumadinho.

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Desde os acontecimentos, a Vale tenta se provar uma empresa melhor, depois de muitas mudanças na sua forma de negócio e de indenizações. Porém, com a nova agenda ESG, ainda não se mostrou o suficiente para se manter bem posicionada entre os grandes players do mercado, como a JGP, uma das primeiras gestoras do Brasil que se especializaram em fundos ESG, e o principal fundo soberano da Noruega, que retirou a Vale de seus investimentos.

Dessa forma, é possível perceber que a classificação da Vale como empresa ESG é controversa, uma vez que a observamos dentro e fora de investimentos sustentáveis ao mesmo tempo. A mineradora saiu do grupo de empresas mais sustentáveis da bolsa de valores brasileira, o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) em 2019, apesar das constantes críticas e falhas em relação à segurança de suas operações.

Vale ressaltar que a subjetividade de interpretação ficou clara após a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, na qual as empresas foram forçadas a tomar uma posição, que refletiria na sua conduta como organização.

Segundo a MSCI (Morgan Stanley Capital International), a nota em ESG vai de AA até a CC, a primeira sendo máxima positiva e a última negativa. A análise leva em consideração a operação, o setor de atuação, e como ela se comporta em relação às suas responsabilidades.

De forma prática, o funcionamento de uma mineradora já fere o termo ambiental da abordagem ESG, mas se suas práticas foram sustentáveis e a empresa desempenhar um papel ecológico na operação ainda pode obter uma nota boa.

A lógica descrita acima também aparece em setores menos óbvios em relação ao impacto ambiental, mas podendo apresentar consequências negativas de mesma magnitude. Assim, muitos índices, como os publicados pela MSCI, são usados por fundos de investimentos que se dizem ESG, requerendo, por consequência, maiores valores em relação à administração ou podendo apresentar menor rendimento ajustado pelo risco. Ou seja, sem o investidor perceber, pode estar aceitando mais risco pelo mesma rentabilidade que teria se não fossem empresas sustentáveis.

O MSCI KLD 400 Social Index é o primeiro índice lançado atrelado a práticas ESG. Existem variadas estratégias elaboradas pela MSCI em seus índices, que são usados pelas maiores gestoras de ativos do mundo, como a BlackRock. Especificamente, a primeira estratégia ESG funciona da seguinte forma: de todas as empresas do mercado norte americano, escolhe-se as 400 melhores em relação a classificação sustentável, podendo constatar o dobro de concentração nas 10 maiores posições se comparado ao mercado neutro, apresentando uma rentabilidade, desde o início da contagem, de em média 0,24% a mais por ano de diferença, apenas.

Para Amanda Lombardi, que trabalha conosco, as duas principais problemáticas desse cenário são a incerteza dos critérios usados para avaliação de empresas ESG e a veracidade dos fatos divulgados, como os classificados como “greenwashing”. É comum o investidor se deparar com explicações vagas ou critérios apenas simplistas, por exemplo excluir do portfólio apenas empresas relacionadas a bebidas alcoólicas, tabaco, mineração, petróleo, armas, alimentos transgênicos e de entretenimento adulto, considerando apenas alguns fatores de impacto no meio social, ambiental e governança.

As classificações impactam diretamente a vida do investidor, uma vez que o rendimento/risco e a opção de financiar uma indústria específica são negligenciadas. Nesse moment,o mostra-se necessário senso crítico e o auxílio de um profissional que garanta uma estratégia de investimento alinhada com as expectativas ESG, levando em consideração não só o setor e operação da empresa, mas o modelo de negócio, a procedência dos ativos da empresa, assim como o resíduo gerado pela instituição e pela venda de seus produtos.

Pode-se concluir, então, que existe uma importante mudança de comportamento em direção ao bem estar social. Assim, com a atual clara evidência de que há controvérsias e subjetividade em um conceito cada vez mais importante para o mercado e para a população, o próximo movimento é em direção ao desenvolvimento específico de práticas e transparência sobre o ESG por parte das instituições, das análises e de gestoras de ativos.