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- Segundo o Banco Central, o déficit primário acumulado do setor público chegou a R$ 256 bilhões em 12 meses
- Para os investidores, a expansão fiscal pode neutralizar os ganhos da atividade econômica, levando a juros mais altos e expectativas de inflação piores
- A redução dos juros nos EUA deve beneficiar o Brasil, atraindo capital para economias emergentes em busca de melhores retornos
Não há dúvidas de que a atividade econômica tem superado expectativas em 2024. Entre janeiro e julho, o varejo cresceu 5,1%, a indústria 3,2%, e o setor de serviços 1,8% em relação ao mesmo período de 2023. O mercado de trabalho também continua forte. De julho para agosto, a taxa de desemprego caiu de 6,6% para 6,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) registrou a criação de 232,5 mil empregos formais, superando a projeção do mercado (230 mil vagas).
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Com esses dados, o Banco Central revisou a previsão de crescimento do PIB para 2024, agora estimado em 3,2%. O relatório Focus projeta 3,0%, e nós, da MSX Invest, estamos com uma previsão de 3,10%. Apesar desse cenário otimista de crescimento econômico, a inflação permaneceu relativamente sob controle. Até agosto, o IPCA acumulou uma alta de 4,24% nos últimos 12 meses, mesmo com a pressão da demanda.
Diante desses números positivos, por que o pessimismo dominou o mercado financeiro em setembro? A taxa de juros pré subiu para 11,88% a.a. de 11,32% a.a., e o índice da Bolsa caiu 3,08% no mês.
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O cenário externo não é o culpado. Nos Estados Unidos, a tendência de queda dos juros não exerce pressão sobre a nossa curva de juros, nem sobre o câmbio — na verdade, tem efeito contrário. O problema está dentro de casa: a deterioração quantitativa e qualitativa dos fundamentos fiscais. Segundo o Banco Central, o déficit primário acumulado do setor público chegou a R$ 256 bilhões em 12 meses (2,26% do PIB), e a dívida pública continua a subir, atingindo 78,5% do PIB em agosto.
Além dos números preocupantes, há uma piora qualitativa. O governo deixou de contabilizar R$ 40 bilhões em despesas com a tragédia no Rio Grande do Sul e com decisões judiciais. Ao mesmo tempo, o aumento dos gastos públicos, incluindo o uso de fundos estatais que não entram no resultado primário, preocupa o mercado financeiro.
Para os investidores, a expansão fiscal pode neutralizar os ganhos da atividade econômica, levando a juros mais altos e expectativas de inflação piores. Esse aumento do gasto público também ameaça trazer pressão inflacionária, apesar de uma política monetária mais restritiva.
Fica claro que o fator chave para destravar o mercado de ações no Brasil é interno — a questão fiscal. O ambiente externo, por sua vez, segue favorável, com exceção das tensões geopolíticas no Oriente Médio, que podem aumentar os preços do petróleo. Nos EUA, o cenário de “soft landing” (desaceleração econômica suave) parece cada vez mais provável em relação ao “hard landing” (recessão). A economia americana e o mercado de trabalho permanecem relativamente aquecidos, e a inflação (CPI e PCE) está em trajetória de queda, abrindo espaço para o Fed reduzir as taxas de juros.
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A redução dos juros nos EUA deve beneficiar o Brasil, atraindo capital para economias emergentes em busca de melhores retornos. O pacote de estímulos da China também é um ponto positivo, impulsionando a demanda por commodities e favorecendo o Brasil.
Se conseguirmos ajustar o lado fiscal, adotando medidas para controlar o gasto público estrutural, poderemos capitalizar os efeitos positivos do estímulo econômico chinês e da queda dos juros nos EUA, com impactos extremamente favoráveis para o mercado de ações, câmbio e juros no Brasil.