Marco Saravalle é analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest. Foi estrategista de Investimentos do Banco Safra, estrategista de Investimentos da XP Investimentos, analista e co-gestor de fundos de investimentos na Fator Administração de Recursos e GrandPrix e analista de ações na Coinvalores e Socopa. Formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, Pós-graduado em Mercado de Capitais pela USP e Mestrando em Economia e Finanças pela FGV/EESP. Iniciou sua carreira no programa de Trainee do Citibank. Atualmente é Diretor Administrativo/Financeiro da Apimec Nacional, membro do comitê de
educação da CVM e presidente do Conselho da ONG de educação financeira,
Multiplicando Sonhos.

Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras

Marco Saravalle

O que está levando a Bolsa brasileira a subir? A resposta vem de longe

Apesar de bons números de inflação e emprego, uma piora nas contas públicas do Brasil pode acabar com a festa

O cenário poderia ser melhor caso não existissem as incertezas do lado fiscal. (Imagem: Freepik)
  • A rápida melhora no humor externo influenciou na recuperação da bolsa brasileira
  • O otimismo com a bolsa dos EUA e o recuo dos juros futuros tiveram reflexos no Brasil
  • A queda dos juros futuros e o crescimento PIB acima do esperado puxaram a bolsa nos EUA em novembro

A recuperação da Bolsa brasileira poderia ocorrer pela melhora no ambiente externo ou pelas condições fiscais no País. Só não esperávamos que a melhora no humor externo fosse tão rápida. O motivo para o otimismo decorre da combinação de arrefecimento inflacionário nos Estados Unidos com resiliência da atividade econômica americana.

A inflação dos EUA medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro variou 0,2%, abaixo do resultado de setembro (0,3%) e do consenso de mercado (0,3%). Nos últimos 12 meses, a inflação acumula alta de 3,2%, caminhando para a meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).

Na mesma direção, o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE, em tradução livre) – indicador de inflação “queridinho” do Fed – desacelerou de 0,4% em setembro para 0% em outubro. O resultado também ficou abaixo das projeções de mercado (0,1%). Nos preços ao produtor, a queda foi ainda maior. Houve deflação 0,5% em outubro contra alta de 0,4% em setembro.

A deflação no produtor tende a ter efeito de menor alta dos preços no varejo.  É claro que as condições de repasse entre indústria e comércio depende das condições futuras de demanda do consumidor final. No entanto, algum efeito de baixa deve ocorrer, contribuindo para a continuidade do arrefecimento inflacionário.

Com a inflação e as expectativas inflacionárias mais controladas nos EUA, os yields (rendimentos) dos títulos públicos caíram para vários vencimentos em novembro. A taxa de dez anos recuou fortemente no mês, conforme gráfico abaixo.

(Fonte: tesouro EUA)

A queda dos juros futuros combinado com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2023 acima do esperado (5,2% ao ano contra 4,9% ao ano) puxaram a bolsa nos EUA em novembro.

(Fonte: Bloomberg)

É claro que o otimismo com a bolsa americana teve reflexos no Brasil. Primeiro, houve uma melhora no humor dos investidores quanto à percepção de risco global. Segundo, com os juros futuros cedendo nos EUA, há uma redução no prêmio na renda fixa americana, contribuindo para uma  menor pressão sobre os juros brasileiros, uma menor pressão sobre o dólar (apreciação do real) e um aumento do apetite para investimentos em economias emergentes, como o Brasil.

Ibovespa

Além da melhora externa, os indicadores de inflação e de mercado de trabalho por aqui têm contribuído para a melhora de humor dos mercados no Brasil. A inflação de novembro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15, uma prévia da inflação oficial do País) ficou em 0,33%, próximo ao consenso de mercado (0,30%), e a taxa de desemprego recuou de 7,7% em setembro para 7,6% em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O cenário poderia ser melhor caso não existissem as incertezas do lado fiscal. As previsões de resultado primário para 2023 e 2024 não são nada animadoras. Para este ano, a equipe econômica do governo projeta um déficit de R$ 177 bilhões de reais. Para 2024, as previsões do mercado giram na casa de um déficit de R$ 90 bilhões.

Apesar dos bons indicadores de inflação e de mercado de trabalho, uma piora nas contas públicas poderá acabar com a festa na medida em que pressiona as taxas de juros e cria um ambiente de incerteza desfavorável para investimentos.

Por ora, vamos surfar na onda americana.