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- Apesar da redução do risco fiscal ser de fato uma excelente notícia para o nível de taxa de juros brasileiro, ela não é a única variável que entra na composição da taxa
- O Comitê de Política Monetária se reúne a cada 45 dias para decidir sobre o rumo da taxa Selic
- Para esta decisão ele leva em conta a inflação corrente, as expectativas de inflação e o nível de atividade econômica
Após a apresentação do novo arcabouço fiscal que coloca um limite no crescimento real de gastos do governo, o mercado veio embarcando em uma onda de otimismo com um possível ciclo que prevê a queda das taxas de juros ainda esse ano.
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Essa reprecificação de expectativas levou as taxas de juros longas a caírem mais de 200 pontos base, indo de 13,50% para 11,10%. A queda dos juros de prazos mais longos também animou a Bolsa, que estava parada há mais de 2 anos e agora já acumula uma alta de 15%.
O otimismo também tomou conta da expectativa do investidor de renda fixa, e o mercado futuro de prefixados já estima uma taxa Selic caindo para 12,25% este ano e 9,5% ao longo do ano que vem.
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Apesar da redução do risco fiscal ser de fato uma excelente notícia para o nível de taxa de juros brasileiro, porque reduz o prêmio de risco, ela não é a única variável que entra na composição da taxa.
O risco fiscal entra muito mais na precificação da taxa de juros de prazos mais longos, do que de prazos mais curtos. Em se tratando da curva de curto prazo, o nível das taxas tem muito mais a ver com os movimentos do Banco Central.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne a cada 45 dias para decidir sobre o rumo da taxa Selic. Para esta decisão ele leva em conta a inflação corrente, as expectativas de inflação e o nível de atividade econômica.
A inflação está de fato em uma trajetória de queda, e veio surpreendendo para baixo os analistas de mercado nas últimas divulgações. Fato esse que ajudou a animação do mercado na precificação do ciclo de queda.
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Mas, uma outra variável está roubando a cena atual, e deixando os economistas intrigados: a atividade econômica.
Tivemos semana passada a divulgação do PIB do primeiro trimestre. O crescimento no primeiro trimestre foi de 1,9% enquanto o mercado esperava uma alta de apenas 1,6%.
Além do PIB, outros dados já mostravam que a melhora é espalhada. O último dado de produção industrial mostrou crescimento de 1,1% frente a queda de 0,2% do dado anterior, e maior que o 0,9% de alta que o mercado esperava.
As vendas no varejo subiram incríveis 3,2% ano contra ano enquanto o mercado esperava uma alta de apenas 1,2%.O IBC-br, uma proxy mensal do PIB subiu 5,46%, enquanto o mercado esperava uma alta de 3,65%.
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A taxa de desemprego caiu de 8,8% para 8,5%, enquanto o mercado esperava uma estabilidade. São tantos dados apontando em uma mesma direção, que não há dúvidas em relação ao cenário de atividade mais forte.
A pergunta que intriga o mercado financeiro é como é possível a atividade estar acelerando tanto em relação aos dados anteriores, uma vez que estamos com taxas de juros em níveis extremamente restritivos.
Será que a Selic a 13,75% não está sendo suficiente para desaquecer a economia?
Mesmo considerando padrões históricos, estamos nos percentis mais altos de juros. O que faz com que realmente nos pareça que a dose do remédio está sendo muito amarga. E provoca toda uma chuva de críticas do governo à condução da Política monetária pelo Banco Central.
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Oras, mas se o objetivo do Banco Central com a Selic alta é restringir a atividade e provocar um desaquecimento da demanda, então essa taxa de juros alta realmente não parece estar restritiva o suficiente.
A queda na inflação está acontecendo. Mas fica difícil ela se sustentar em um ambiente de aceleração econômica e queda do desemprego. Mais difícil ainda fica o Banco Central começar a cair juros nas próximas reuniões, como o mercado está atualmente precificando.
Parece que alguma peça desse quebra cabeça não está se encaixando e deveremos ver essa discussão na próxima reunião de política monetária no final desse mês.