A Receita Federal amplia o uso de inteligência artificial e big data em 2025 para cruzar dados financeiros e detectar inconsistências no Imposto de Renda. Entenda como a malha fina ficou mais rigorosa e saiba como evitar erros que podem gerar autuações. (Imagem: Envato Elements)
A Receita Federal deu mais um passo importante no uso de tecnologia para fiscalizar os contribuintes. Em 2025, a instituição amplia a utilização de sistemas de inteligência artificial(IA) e big data para cruzar informações financeiras e patrimoniais.
Não se trata de ficção científica, mas de um processo cada vez mais automatizado de coleta, análise e comparação de dados que antes dependiam de auditores humanos. A consequência prática é clara: a malha fina ficou muito mais sofisticada e menos tolerante a deslizes, mesmo os involuntários.
O ponto de partida é a quantidade de informações que a Receita recebe de forma automática. Bancos, corretoras, cartórios, administradoras de fundos, planos de previdência, companhias aéreas, plataformas digitais e até movimentações via Pix alimentam a base de dados do fisco.
Com algoritmos capazes de identificar padrões e incoerências, qualquer discrepância entre o que a fonte declarou e o que o contribuinte informou no Imposto de Renda(IR) é imediatamente sinalizada. Isso significa que, a cada ano, a declaração pré-preenchida tende a ficar mais completa.
Para muitos contribuintes, é tentador acreditar que basta apertar “confirmar” e o problema está resolvido. Mas não é bem assim.
O sistema já carrega a maior parte dos dados — salários, aplicações financeiras, previdência privada, imóveis —, mas a responsabilidade pela conferência e complementação continua sendo do contribuinte.
E é exatamente aí que a IA entra: se, por exemplo, você esquecer de incluir um aluguel recebido por Pix ou omitir rendimentos de uma corretora internacional, a inconsistência será detectada em questão de segundos.
Quem vai sentir os impactos da IA no Imposto de Renda?
O risco atinge todos os perfis de investidores. Quem aplica em criptoativos, por exemplo, muitas vezes acredita que a Receita não tem como rastrear transações em exchanges estrangeiras. Ledo engano: diversas plataformas já repassam dados ao Brasil ou estão sujeitas a acordos de cooperação.
O mesmo vale para quem mantém empresa offshore(fora do País) ou trust(sociedade com jurisdição internacional para proteção e planejamento patrimonial) no exterior. A Lei 14.754/23 e a Instrução Normativa 2.180/24 já alteraram profundamente o regime tributário dessas estruturas e a omissão pode gerar autuações pesadas.
Profissionais liberais e autônomos também entram no radar. A versão digital do Carnê-Leão facilita a apuração mensal de rendimentos recebidos de pessoas físicas ou do exterior. Mas, se o contribuinte simplesmente ignora a obrigação, o fisco terá cada vez mais condições de comparar entradas em conta corrente, recebimentos via Pix e movimentações patrimoniais com os valores declarados.
A incoerência dispara alertas automáticos e pode resultar em cobrança de imposto acrescido de multa e juros.
Vale lembrar que a Receita não distingue dolo de descuido. Para o algoritmo, pouco importa se o contribuinte “esqueceu” ou “não sabia” que precisava declarar determinado rendimento. A inconsistência será tratada como potencial infração e caberá ao contribuinte justificar e retificar a informação. O espaço para erros inocentes está se reduzindo rapidamente.
Como o contribuinte pode se proteger?
Como se proteger diante desse cenário? O primeiro passo consiste em adotar uma postura preventiva. Usar a declaração pré-preenchida como base é altamente recomendável, mas o contribuinte precisa revisar cada campo com atenção.
Conferir informes de rendimentos de bancos, corretoras e empresas é obrigatório. Manter o Carnê-Leão em dia evita surpresas em abril. E quem tem ativos no exterior deve buscar orientação especializada para cumprir corretamente a nova legislação.
Outro cuidado essencial é a guarda de documentos. Com a ampliação do uso de IA, o número de intimações eletrônicas tende a crescer e o contribuinte pode ser chamado a comprovar determinada operação anos depois de realizada. Ter recibos, contratos, informes e extratos organizados por pelo menos cinco anos é a melhor forma de se resguardar.
Uso da IA pelos fiscos no mundo
O uso de inteligência artificial pelo fisco não é um movimento isolado. Diversas administrações tributárias pelo mundo já aplicam tecnologia semelhante para fechar o cerco contra sonegação e inconsistências.
O Brasil, que sempre esteve entre os países mais avançados em digitalização tributária, agora dá um passo além. O recado é claro: o contribuinte precisa se modernizar junto.
Em resumo, a inteligência artificial veio para tornar o sistema tributário mais eficiente, mas também mais rigoroso. Para quem sempre declarou corretamente, a mudança pode representar maior celeridade e menos dor de cabeça. Para quem insiste em omitir, negligenciar ou improvisar, o risco de cair na malha fina nunca foi tão grande.
Afinal, no mundo da Receita Federal digital, o “errar sem querer” custa caro — e não adianta pedir clemência: o algoritmo da inteligência artificial (IA) não tem coração, mas tem memória.