O olhar do mercado internacional

Thiago de Aragão é diretor de estratégia da Arko Advice e assessora diretamente dezenas de fundos estrangeiros sobre investimentos no Brasil e Argentina. Sociólogo, mestre em Relações Internacionais pela SAIS Johns Hopkins University e Pesquisador Sênior do Center Strategic and International Studies de Washington DC, Thiago vive entre Washington DC, Nova York e Brasília.
Twitter: @ThiagoGdeAragao

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Thiago de Aragão

Como a crise imobiliária chinesa prejudica os fundos de investimento

A crise imobiliária chinesa afeta o setor financeiro em trilhões de dólares, deixando investidores apreensivos

China. (Foto: Envato Elements)
  • A prolongada crise imobiliária chinesa afetou seu setor financeiro em trilhões de dólares
  • Um grande fundo de investimento deixou de fazer pagamentos a investidores corporativos
  • Pode-se observar um aumentou da preocupação com a possibilidade de uma crise financeira mais ampla

A situação atual do mercado imobiliário chinês e a resposta da classe média a ela estão intrinsecamente ligadas a uma crise significativa no setor. Um grande fundo de investimento, a Zhongrong Trust, com cerca de US$ 87 bilhões em fundos, deixou de fazer pagamentos a investidores corporativos, o que levou a um protesto raro e aumentou a preocupação com a possibilidade de uma crise financeira mais ampla.

Esta empresa investiu aproximadamente US$ 10 bilhões no setor imobiliário, incluindo corporações com problemas, como Evergrande, Kaisa Group e Sunac China, todas lutando com crises de caixa e inadimplência de dívidas nos últimos dois anos.

Essa crise imobiliária prolongada afetou seu setor financeiro em trilhões de dólares, causando apreensão entre os investidores. Nos últimos dias, houve uma invasão de perguntas nos fóruns online das bolsas de valores de Xangai e Shenzhen, com muitos questionando as empresas listadas sobre sua exposição aos produtos da Zhongrong. Isso reflete o medo de um “contágio” que se espalharia pela indústria de fundos de investimento do país — valorizada em US$ 2,9 trilhões — que há muito está exposta ao problemático setor imobiliário.

Os investidores desses produtos de gestão de patrimônio tendem a ser principalmente pessoas de classe média e média alta. Qualquer inadimplência ou mesmo preocupações com pagamentos atrasados podem diminuir ainda mais a confiança do consumidor.

Isso é particularmente impactante, pois esse grupo tem um poder de compra muito maior do que a média nacional. Consequentemente, seus gastos reduzidos podem ter um impacto especialmente agudo no consumo privado.

Os investidores corporativos também estão se tornando mais “avessos ao risco”, reduzindo seus empréstimos ou gastos de capital no curto prazo e se tornando mais cautelosos com as decisões de expansão de seus negócios.

Embora as informações específicas sobre a mudança dos investimentos da classe média chinesa do setor imobiliário para a bolsa de valores de Xangai não estejam disponíveis no momento, o contexto atual, como um todo, indica um ambiente de incerteza e aversão ao risco no setor.

Essa situação pode ter incentivado os investidores, incluindo a classe média, a procurar alternativas de investimento, como o mercado de ações. No entanto, temos que aguardar a notificação de pesquisas mais específicas para confirmar essa tendência.