- Já passou o tempo em que discutir meio ambiente era restrito aos círculos de ambientalistas e cientistas
- Atualmente, temos um elemento de grande importância que caracteriza a diplomacia da segunda década do século XXI: a diplomacia verde
- A diplomacia verde envolve o pleno conhecimento de tudo relacionado à sustentabilidade por parte dos nossos governantes
Entender as nuances da diplomacia moderna é absolutamente essencial para compreender as relações entre os países e, principalmente, os impactos diretos e indiretos que a geopolítica traz para as nações, as empresas e os cidadãos. Atualmente, temos um elemento de grande importância que caracteriza a diplomacia da segunda década do século XXI: a diplomacia verde.
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Enquanto observamos o início de mais uma reunião da 27ª Conferência do Clima (COP27) da Organização das Nações Unidas (ONU) em Sharm-el-Sheikh, no Egito, vamos percebendo o posicionamento de cada país em relação a temas cruciais, como aquecimento global, agricultura sustentável, matriz energética sustentável e crédito de carbono. Esse posicionamento passou a ter uma importância ímpar não apenas para tratar temas diretamente relacionados à sustentabilidade, mas também para temas não relacionados a área.
A política ambiental de um país aponta para os interesses que ele tem para tratar de temas multi relacionados, como economia, comércio exterior e acordos multilaterais.
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Um tema emblemático é o acordo União Europeia-Mercosul. A discordância de inúmeros líderes europeus sobre o posicionamento do governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente, levou diversos países europeus a sentar em cima da ratificação do acordo entre os dois blocos, freando assim a concretização do acordo que, concluído, beneficiará produtores agrícolas e industriais dos países do Mercosul.
Mais do que isso, um país que não possui uma postura clara em relação à preservação do meio ambiente tende a ser excluído de várias temáticas que não são diretamente relacionadas ao tópico. A política ambiental de um país tornou-se um passaporte para gerar flexibilidade de negociação em tudo.
Para o Brasil, uma potência agrícola e ambiental, a unificação dos temas é de suma importância para catapultar o país para a mesa de negociação em assuntos estratégicos dentro do contexto geopolítico.
Isso significa que o Brasil precisa finalizar o acordo União Europeia-Mercosul imediatamente, pois essa conclusão representará um ganho enorme para os produtores brasileiros. Precisamos nos preparar para uma possível piora no mercado global energético por conta da guerra na Ucrânia. Para que o País faça parte especificamente dessas mesas de conversa, uma política ambiental sólida nos abre espaços, enquanto uma política ambiental nebulosa e errática, nos afasta delas.
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A criação de uma estrutura de crédito de carbono – como a que vem sendo desenvolvida nos últimos dois anos – é uma boa notícia. Isso atrai investidores de crédito de carbono e, consequentemente, gera bons resultados para a economia.
A elaboração de uma cultura de comercialização de crédito de carbono é uma vitória para o País. Por outro lado, a liberação indiscriminada de agrotóxicos ao longo dos últimos anos (mais de 1500 aprovados, apesar de muitos não serem aceitos na Europa ou EUA), não só prejudica a saúde do brasileiro, como prejudica a uniformização necessária desses defensivos agrícolas para exportar para a UE.
O Brasil tornou-se um dos principais destinos de defensivos agrícolas não autorizados na Europa. O ingresso de defensivos agrícolas chineses bateu recorde aqui ao longos dos últimos quatro anos, apesar de todas as críticas do governo em relação a outros produtos chineses, como vacinas de covid.
Concordando ou não com a política ambiental dos últimos tempos, o fato é que nosso país não conseguiu se colocar como formador de opinião global em dois temas nos quais, historicamente, sempre firmamos influência: preservação da Amazônia e matriz energética limpa.
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A “embalagem” da comunicação também serve como arma diplomática para nos tornar mais influentes perante o mundo.
A diplomacia verde envolve o pleno conhecimento de tudo relacionado à sustentabilidade por parte dos nossos governantes, gerando credibilidade diplomática para fazer aparecer oportunidades comerciais, econômicas, assim como desenvolver influência política e geopolítica. Já passou o tempo em que discutir meio ambiente era restrito aos círculos de ambientalistas e cientistas.
Hoje, se posicionar de forma inteligente em círculos políticos, diplomáticos e empresariais define o impacto que um país terá nas mesas de negociação globais.
Uma política ambiental completa, compreendendo o papel da política externa, política econômica e social, do país, poderá nos colocar na vanguarda de um assunto tão estratégico para a humanidade.
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