- Os Estados Unidos estão considerando novas regulamentações para limitar o fluxo de capital e investimentos de empresas americanas na China
- Essas limitações podem impactar significativamente o crescimento e a competitividade das empresas de tecnologia do país, criando a possibilidade de uma desaceleração na inovação e na expansão do mercado chinês
- O governo brasileiro, por sua vez, está interessado em manter as duas superpotências em competição, sem tomar partido definitivo nessa disputa tecnológica
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos está considerando novas regulamentações para limitar o fluxo de capital e investimentos de empresas americanas na China. O esforço se concentra especialmente no setor de tecnologias sensíveis, como chips de computador e inteligência artificial. A medida tem sido duramente criticada por Pequim, que afirma que tais restrições prejudicariam as cadeias de suprimentos globais e dificultariam a cooperação tecnológica mundial.
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São planos que surgem em meio a uma queda nos fluxos de capital para startups de tecnologia chinesas gerando preocupações crescentes dos americanos sobre as implicações associadas aos setores de semicondutores avançados, inteligência artificial e computação quântica.
A empresa chinesa de semicondutores Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) registrou um lucro líquido de 1,8 bilhão de yuans no primeiro trimestre de 2023 — uma queda de 49,2% em relação ao ano passado, assustando o mercado. Nesse mesmo período, a empresa afirmou que possuía um total de 310,1 bilhões de yuans em ativos e 106,3 bilhões em passivos.
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Limitações e restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China podem impactar significativamente o crescimento e a competitividade das empresas de tecnologia do país, criando a possibilidade de uma desaceleração na inovação e na expansão do mercado chinês. Além disso, o acesso restrito à tecnologia e ao capital dos EUA pode forçar as empresas chinesas a acelerarem seus esforços no desenvolvimento de alternativas domésticas, aumentando a competição na disputa pelo mercado global.
Por conta das restrições impostas recentemente, as empresas chinesas de semicondutores estão buscando substitutos para reduzir a dependência de fornecedores japoneses. Os chineses respondem por mais da metade da produção global de telas e displays. No entanto, os principais componentes para esse volume de produção são controlado pelo Japão.
Tokyo determinou que, a partir deste mês de julho, fornecedores japoneses de 23 tipos de equipamentos semicondutores irão precisar se submeter a um processo mais rigoroso antes de obter autorização para exportar para a China.
Apesar de sofrerem com as restrições, pois elas dificultam a importação de materiais semicondutores, a indústria nacional chinesa enxerga uma oportunidade para as empresas locais impulsionarem a sua própria produção, indo de encontro à estratégia do governo chinês de atingir a autossuficiência do país no setor.
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Interessante notar que, recentemente, os Estados Unidos também impuseram restrições para a exportação de empresas americanas que possam contribuir com o avanço tecnológico chinês na área militar.
Vale lembrar que Taiwan, pivô das crescentes tensões entre Washington e Pequim, é um dos maiores produtores mundiais do setor. As exportações de chips de circuitos integrados de Taiwan aumentaram em 2022 pelo sétimo ano consecutivo , solidificando ainda mais a sua liderança na indústria global de chips e semicondutores. A produção do país é insubstituível a curto prazo, sendo essencial para a cadeia de suprimentos de inúmeros produtos, que vão de carros, celulares e computadores até tecnologia militar. A dominância absoluta de Taiwan na área, torna ainda mais intensa a disputa em torno da sua soberania.
Os EUA manifestaram interesse em investir na cadeia de semicondutores brasileira, visando diminuir a dependência de países asiáticos e manter uma vantagem sobre a China na disputa tecnológica. No entanto, um eventual investimento americano viria com restrições para exportações ou negócios com os chineses, colidindo com a anunciada possibilidade de investimento e transferência de tecnologia para fábricas de semicondutores em território brasileiro.
Os americanos estão buscando a estratégia de “nearshoring” para transferir a produção de semicondutores de países asiáticos para países mais próximos. O governo brasileiro, por sua vez, está interessado em manter as duas superpotências em competição, sem tomar partido definitivo nessa disputa tecnológica.
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Atualmente, o Brasil possui algumas empresas na cadeia de produção de semicondutores, mas sua atuação está mais concentrada na etapa final de produção. Caso realmente sejam feitos investimentos e transferência de tecnologia na área, as fábricas por aqui poderiam começar a participar da etapa inicial de fabricação de chips e, a longo prazo, produzir chips avançados para suprir pelo menos a indústria automobilística nacional.